segunda-feira, dezembro 07, 2015

Leia a íntegra da carta enviada pelo vice Michel Temer a Dilma, parece um rompimento de público

Presidente nacional do PMDB, o vice-presidente da República, Michel Temer, enviou uma carta à presidente Dilma Rousseff nesta segunda-feira (7) na qual apontou episódios que demonstrariam a "desconfiança" que o governo tem em relação a ele e ao PMDB.  Está eminente um rompimento político, as consequências são claras e vai derrotar a presidente Dilma. A liderança do vice-presidente Michel Temer junto ao PMDB é do conhecimento de todos os brasileiro, e quem for vivo verá.

A mensagem, segundo a assessoria da Vice-Presidência, foi enviada em "caráter pessoal" à chefe do Executivo e, nela, ele não "não propôs rompimento" com o governo ou entre partidos, mas defendeu a "reunificação do país".

Num dos trechos da carta, Temer escreve que passou o primeiro mandato de Dilma como um "vice decorativo", que perdeu "todo protagonismo político" que teve no passado e que só era chamado "para resolver as votações do PMDB e as crises políticas". Depois, lista fatos envolvendo derrotas que sofreu com atos da presidente. Quem tem essa postura, o vice-presidente está preparado para assumir a Presidência do Brasil. A maioria dos veículos de comunicação noticiaram os fatos, cuja carta já está na historia do Brasil. Nossa opinião é de que Michel Temer é da escola do Dr. Ulisses Guimarães.
São Paulo, 07 de Dezembro de 2.015.
Senhora Presidente,
"Verba volant, scripta manent".
Por isso lhe escrevo. Muito a propósito do intenso noticiário destes últimos dias e de tudo que me chega aos ouvidos das conversas no Palácio.
Esta é uma carta pessoal. É um desabafo que já deveria ter feito há muito tempo.
Desde logo lhe digo que não é preciso alardear publicamente a necessidade da minha lealdade. Tenho-a revelado ao longo destes cinco anos.
Lealdade institucional pautada pelo art. 79 da Constituição Federal. Sei quais são as funções do Vice. À minha natural discrição conectei aquela derivada daquele dispositivo constitucional.
Entretanto, sempre tive ciência da absoluta desconfiança da senhora e do seu entorno em relação a mim e ao PMDB. Desconfiança incompatível com o que fizemos para manter o apoio pessoal e partidário ao seu governo.
Basta ressaltar que na última convenção apenas 59,9% votaram pela aliança. E só o fizeram, ouso registrar, por que era eu o candidato à reeleição à Vice.
Tenho mantido a unidade do PMDB apoiando seu governo usando o prestígio político que tenho advindo da credibilidade e do respeito que granjeei no partido. Isso tudo não gerou confiança em mim, Gera desconfiança e menosprezo do governo.
Vamos aos fatos. Exemplifico alguns deles.
1. Passei os quatro primeiros anos de governo como vice decorativo. A Senhora sabe disso. Perdi todo protagonismo político que tivera no passado e que poderia ter sido usado pelo governo. Só era chamado para resolver as votações do PMDB e as crises políticas.
2. Jamais eu ou o PMDB fomos chamados para discutir formulações econômicas ou políticas do país; éramos meros acessórios, secundários, subsidiários.
3. A senhora, no segundo mandato, à última hora, não renovou o Ministério da Aviação Civil onde o Moreira Franco fez belíssimo trabalho elogiado durante a Copa do Mundo. Sabia que ele era uma indicação minha. Quis, portanto, desvalorizar-me. Cheguei a registrar este fato no dia seguinte, ao telefone.
4. No episódio Eliseu Padilha, mais recente, ele deixou o Ministério em razão de muitas "desfeitas", culminando com o que o governo fez a ele, Ministro, retirando sem nenhum aviso prévio, nome com perfil técnico que ele, Ministro da área, indicara para a ANAC. Alardeou-se a) que fora retaliação a mim; b) que ele saiu porque faz parte de uma suposta "conspiração".
5. Quando a senhora fez um apelo para que eu assumisse a coordenação política, no momento em que o governo estava muito desprestigiado, atendi e fizemos, eu e o Padilha, aprovar o ajuste fiscal. Tema difícil porque dizia respeito aos trabalhadores e aos empresários. Não titubeamos. Estava em jogo o país. Quando se aprovou o ajuste, nada mais do que fazíamos tinha sequência no governo. Os acordos assumidos no Parlamento não foram cumpridos. Realizamos mais de 60 reuniões de lideres e bancadas ao longo do tempo solicitando apoio com a nossa credibilidade. Fomos obrigados a deixar aquela coordenação.
6. De qualquer forma, sou Presidente do PMDB e a senhora resolveu ignorar-me chamando o líder Picciani e seu pai para fazer um acordo sem nenhuma comunicação ao seu Vice e Presidente do Partido. Os dois ministros, sabe a senhora, foram nomeados por ele. E a senhora não teve a menor preocupação em eliminar do governo o Deputado Edinho Araújo, deputado de São Paulo e a mim ligado.
7. Democrata que sou, converso, sim, senhora Presidente, com a oposição. Sempre o fiz, pelos 24 anos que passei no Parlamento. Aliás, a primeira medida provisória do ajuste foi aprovada graças aos 8 (oito) votos do DEM, 6 (seis) do PSB e 3 do PV, recordando que foi aprovado por apenas 22 votos. Sou criticado por isso, numa visão equivocada do nosso sistema. E não foi sem razão que em duas oportunidades ressaltei que deveríamos reunificar o país. O Palácio resolveu difundir e criticar.
8. Recordo, ainda, que a senhora, na posse, manteve reunião de duas horas com o Vice Presidente Joe Biden - com quem construí boa amizade - sem convidar-me o que gerou em seus assessores a pergunta: o que é que houve que numa reunião com o Vice Presidente dos Estados Unidos, o do Brasil não se faz presente? Antes, no episódio da "espionagem" americana, quando as conversar começaram a ser retomadas, a senhora mandava o Ministro da Justiça, para conversar com o Vice Presidente dos Estados Unidos. Tudo isso tem significado absoluta falta de confiança;
9. Mais recentemente, conversa nossa (das duas maiores autoridades do país) foi divulgada e de maneira inverídica sem nenhuma conexão com o teor da conversa.
10. Até o programa "Uma Ponte para o Futuro", aplaudido pela sociedade, cujas propostas poderiam ser utilizadas para recuperar a economia e resgatar a confiança foi tido como manobra desleal.
11. PMDB tem ciência de que o governo busca promover a sua divisão, o que já tentou no passado, sem sucesso. A senhora sabe que, como Presidente do PMDB, devo manter cauteloso silencio com o objetivo de procurar o que sempre fiz: a unidade partidária.
Passados estes momentos críticos, tenho certeza de que o País terá tranquilidade para crescer e consolidar as conquistas sociais.
Finalmente, sei que a senhora não tem confiança em mim e no PMDB, hoje, e não terá amanhã. Lamento, mas esta é a minha convicção.
Respeitosamente,
\ L TEMER
A Sua Excelência a Senhora
Doutora DILMA ROUSSEFF
DO. Presidente da República do Brasil
Palácio do Planalto

quinta-feira, dezembro 03, 2015

Dilma troca ministros, dá mais poder ao PMDB e chama indicados por Lula

William Waack / Geiza DuarteSão Paulo, SP / Brasília, DF
E o ex-presidente Lula foi um dos principais inspiradores da reforma ministerial anunciada na sexta-feira (2) pela presidente Dilma. Para se segurar no Congresso, ela deu deu mais ministérios ao PMDB e tirou do PT. Ficaram 31 dos 39 ministérios.
Com a reforma, o número de ministérios do PT caiu de 13 para nove. O PMDB passou de seis para sete. Entre as mudanças de maior destaque estão: na Casa Civil, onde entra Jaques Wagner, do PT, até agora na Defesa. Aldo Rebelo, do PC do B, assume o Ministério da Defesa.
Celso Pansera, do PMDB, aliado do presidente da Câmara Eduardo Cunha é o novo ministro da Ciência e Tecnologia. Na Saúde entra Marcelo Castro, do PMDB.
Houve várias fusões de ministérios e secretarias. Em uma das principais entra Miguel Rossetto, do PT, no Ministério do Trabalho, que inclui agora também o Ministério da Previdência.
Ricardo Berzoini, do PT, até agora nas Comunicações, passa a comandar a Secretaria de Governo, que incorporou as Secretarias da Micro e Pequena Empresa, das Relações Institucionais e da Segurança Institucional.
O PMDB cresceu nessa mudança de ministérios, mas há outras igualmente importantes. Saiu de dentro do Palácio do Planalto o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, escolhido por Dilma Rousseff.
E vem para dentro do Planalto Jaques Wagner, na Casa Civil, e Berzoini, em uma função de coordenação política na Secretaria de Governo. São homens escolhidos pelo ex-presidente Lula, que divide agora com o PMDB a missão de recuperar o governo Dilma.
O ex-presidente e o PMDB são os responsáveis por tentar fazer com que o governo Dilma tenha mais apoio na base do Congresso. Será que eles conseguem?
REPERCUSSÃO NO CONGRESSO
O novo ministro da Saúde já chegou falando em CPMF. Marcelo Castro propõe que a alíquota de 0,2% seja cobrada não só nas operações de débito, mas também no crédito. Ou seja, da pessoa que faz um pagamento e também de quem recebe. Nas contas dele, essa nova fórmula poderia dobrar a arrecadação prevista e aí daria para dividir o bolo com estados e municípios.
“Vamos levar um volume de recursos muito grande para os estados e municípios e oxigenar e procurar resolver de uma maneira civilizada. Tenho certeza que a sociedade brasileira será sensível a isso”, declara Marcelo Castro, ministro da Saúde.
Para a oposição, a recriação do imposto por si só já vai enfrentar resistência no Congresso, ampliado então seria um peso maior para o contribuinte. Agripino Maia avalia que a reforma ministerial da presidente Dilma não traz mudanças significativas. 
“No tempo de crise ética, econômica e política violentíssimas, exigindo ministérios da salvação nacional, ela montou um ministério de salvação pessoal parao mandato dela”, diz o senador Agripino Maia (DEM/RN), vice-líder do partido no Senado.

O líder do governo diz que as mudanças no ministério fortalecem a base governista no congresso, mas reconhece que ainda vai ser preciso melhorar o diálogo.
“Eu penso que é um grande passo. Muito diálogo daqui para frente, mas é uma sinalização importante para o país, para sinalizar que há estabilidade política que isso vai ajudar inclusive a retomada do crescimento da economia brasileira”, afiram o deputado José Guimarães (PT/CE), líder do governo na Câmara.
A redução de ministérios foi menor que o esperado. Em vez de dez, o governo cortou oito pastas. Na solenidade, no Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff falou em melhorar a gestão pública e modernizar a gestão pública. Ela começou prometendo cortar em 10% o próprio salário, o do vice-presidente e dos ministros.
O objetivo das medidas administrativas é reduzir em até 20% os gastos com custeio e serviços terceirizados. Para isso, o governo vai criar um limite de gastos com telefone, passagens aéreas e diárias, vai rever contratos de aluguel e vigilância, além de criar um central de carros em cada ministério para diminuir a frota.
A presidente reconheceu que é preciso consertar erros e disse que fez a reforma política para buscar o apoio da maioria no Congresso.
"Para implementar os compromissos que assumi com a população, para fazer os ajustes que a crise nos impõe, para manter o Brasil na rota do desenvolvimento e criar mais e melhores empregos e oportunidade para todos os brasileiros e as brasileiras”, declara a presidente Dilma Rousseff.

Dilma mentiu quando disse que não faria barganha, diz Cunha

ernanda CalgaroDo G1, em Brasília

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou nesta quinta-feira (3) que a presidente Dilma Rousseff mentiu à nação quando disse que não faria barganha sobre o caso dele no Conselho de Ética. De acordo com ele, Dilma chamou o deputado André Moura (PSC-SE), um dos aliados do presidente da Câmara, para propor que, em troca da aprovação da CPMF, o PT votasse a favor de Cunha no Conselho de Ética.
Cunha aceitou nesta quarta dar prosseguimento ao pedido de impeachment da presidente Dilma. Logo depois, ela fez um pronunciamento na TV do governo para dar uma resposta à decisão. Dilma ressaltou que não faria barganha com o deputado para que ele arquivasse o pedido de impeachment.
"Eu quero deixar bem claro que a presidente mentiu à nação quando disse que o seu governo não autorizou qualquer barganha. Ela simplesmente estava participando de uma negociação. O ministro [Jaques Wagner, da Casa Civil], levou um deputado ao gabinete e lá a presidente queria que tivesse o comprometimento de aprovar a CPMF. Eu não sabia da presença do deputado e sequer do conteúdo do diálogo e simplesmente foi me trazida a proposta", afirmou Cunha em entrevista coletiva que ele convocou para esta manhã na Câmara.
O presidente da Câmara é alvo de processo no Conselho de Ética e, nos últimos dias, foi comentado em Brasília que o PT poderia estar negociando os três votos que têm no colegiado. Nesta quarta, no entanto, antes da decisão sobre o pedido de impeachment, o partido anunciou que votaria contra Cunha.
G1 procurou a Secretaria de Imprensa da Presidência para saber se Dilma vai se pronunciar sobre as declarações de Cunha, e aguardava resposta até a última atualização desta reportagem. Também deixou recado na secretária eletrônica de André Moura.
 Quando questionado pelos jornalistas sobre o que tratava a "barganha", o presidente da Câmara respondeu: "os votos do PT [no Conselho de Ética] e o comprometimento da aprovação da CPMF".
"André Moura que esteve com ela, levado pelo Wagner. A barganha veio sim, proposta pelo governo, e eu me recusei a aceitar. A presidente mentiu, esse é o ponto fundamental que eu queria dizer", continuou Cunha.
O presidente da Câmara disse ainda que a suposta negociação pela aprovação da CPMF era feita sem que ele soubesse. "Muitas coisas são feitas que eu não sei. Eu não participei de nenhuma negociação. Se havia negociação, havia barganha do outro lado. Comigo nenhuma [negociação], eu não quero nenhuma negociação, eu não participo de negociação", ressaltou ele.
Cunha também afirmou que já tinha tomada a decisão de acatar o pedido de impeachment antes de os deputados do PT no Conselho de Ética anunciarem que votariam contra ele.
Votos do PT no Conseho
O presidente da Câmara disse que tem atritos constantes com o PT e que prefere não contar com os votos do partido no Conselho de Ética.
"Todos sabem que eu sou adversário do PT. Nós vivemos em atrito constante. Claro que o PT tem pessoas de bem, pessoas com quem eu tenho boa relação, mas o conjunto do partido é meu adversário. Eu prefiro, com sinceridade, que eu não tivesse os votos do PT no Conselho", disse.

Por que o mosquito Aedes aegypti transmite tantas doenças?

afael BarifouseDa BBC Brasil em São Paulo
Aedes aegypti, que transmite dengue e chikungunya, também pode transmitir o zika vírus (Foto: CDC-GATHANY/PHANIE/AFP)Aedes aegypti, que transmite dengue, chikungunya e zika (Foto: CDC-GATHANY/PHANIE/AFP)
No mundo, ele é chamado de mosquito da febre amarela. No Brasil, é conhecido como mosquito da dengue – e, mais recentemente, também da zika e da chikungunya.
Considerado uma das espécies de mosquito mais difundidas no planeta pela Agência Europeia para Prevenção e Controle de Doenças (ECDC, na sigla em inglês), o Aedes aegypti – nome que significa "odioso do Egito" – é combatido no país desde o início do século passado.
A partir de meados dos anos 1990, com a classificação da dengue como doença endêmica, passou a estar anualmente em evidência. Isso ocorre principalmente com a chegada do verão, quando a maior intensidade de chuvas favorece sua reprodução.
Agora, um novo sinal de alerta vem da epidemia de zika, uma doença com sintomas semelhantes aos da dengue, em curso desde o meio do ano.
Foi confirmado pelo governo federal que o zika vírus está ligado a uma má-formação no cérebro de bebês, a microcefalia, que já teve neste ano ao menos 1.248 casos registrados em 311 municípios em 14 Estados, a maioria deles no Nordeste.
Mosquitos Aedes aegypti, transmissor da dengue. doença, vetor, inseto, transmissores, contágio. -HN- (Foto: Fabio Motta/Estadão Conteúdo)Mosquitos Aedes aegypti (Foto: Fabio Motta/Estadão Conteúdo)
O Aedes aegypti também esteve no centro de um surto de febre chikungunya ocorrido no país no ano passado, quando este vírus chegou ao Brasil e se espalhou com a ajuda do mosquito.
E, apesar de a febre amarela ter sido considerada erradicada de áreas urbanas brasileiras em 1942, casos de contaminação foram confirmados em cidades de Goiás e no Amapá em 2014.
"O Aedes aegypti está ligado ainda a males mais raros, do grupo flavivírus", afirma Felipe Pizza, infectologista do hospital Albert Einstein.
"Entre os agentes de contaminação, esse mosquito é o que tem a capacidade de transmitir a maior variedade de doenças."
Eficiência
Alguns fatores contribuem para tornar o Aedes aegypti um agente tão eficiente para a transmissão desses vírus. Entre eles estão, segundo especialistas ouvidos pela BBC Brasil, sua capacidade de se adaptar e sua proximidade do homem.
Surgido na África em locais silvestres, o mosquito chegou às Américas em navios ainda na época da colonização. Ao longo dos anos, encontrou no ambiente urbano um espaço ideal para sua proliferação.
"Ele se especializou em dividir o espaço com o homem", afirma Fabiano Carvalho, entomologista e pesquisador da Fiocruz Minas.
"O mosquito prefere água limpa para colocar seus ovos, e qualquer objeto ou local serve de criadouro. Mesmo numa casca de laranja ou numa tampinha de garrafa, se houver um mínimo de água parada, seus ovos se desenvolvem."
Mas a falta de água limpa não impede que o Aedes aegypti se reproduza. Estudos científicos já mostraram que, nesse caso, a fêmea pode depositar seus ovos em água com maior presença de matéria orgânica.
Os ovos também podem permanecer inertes em locais secos por até um ano, e, ao entrar em contato com a água, desenvolvem-se rapidamente – num período de sete dias, em média.
"Outros vetores não têm essa capacidade de resistir ao ambiente", afirma Pizza, do Albert Einstein. "Por isso ele está presente quase no mundo todo, a não ser em lugares onde é muito frio."
Flexibilidade
Um aspecto que também favorece a reprodução é o fato de a fêmea colocar em média cem ovos de cada vez, mas não fazer isso em um único local. Em vez disso, ela os distribui por diferentes pontos.
"Quando tentamos exterminá-lo, é muito grande a chance de um destes locais passar despercebido", diz Carvalho.
Também se trata de um mosquito flexível em seus hábitos de alimentação.
O Aedes aegypti é, geralmente, diurno: prefere sair em busca de sangue pela manhã ou no fim da tarde, evitando os momentos mais quentes do dia.

"Mas ele é oportunista. Se não tiver conseguido se alimentar de dia, vai picar de noite. Isso não ocorre com o pernilongo, por exemplo, que é noturno e só vai estar quando o sol começa a se pôr", afirma a bióloga Denise Valle, pesquisadora do laboratório de biologia molecular de flavivírus do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).
Além disso, o mosquito costuma ter como alvos mamíferos, especialmente humanos. Como explica o agência europeia, mesmo na presença de outros animais ele "se alimenta preferencialmente de pessoas".
Simbiose
Por ser um mosquito urbano que fica em contato constante com o homem, ser muito adaptável e ter um apetite especial por sangue humano, o inseto se tornou um eficiente vetor para a transmissão de doenças.
"Todo ser vivo busca uma forma de se proliferar, e com os vírus não é diferente. Nestes casos, eles podem ser transmitidos por outros vetores, mas que não são tão efetivos", afirma Erico Arruda, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia. "Eles (vírus) conseguiram no Aedes aegypti e na forma como este mosquito evoluiu uma relação de simbiose muito boa."
Para ser capaz de infectar uma pessoa, o vírus precisa estar presente na saliva do inseto.
Valle, do IOC/FioCruz, explica que, no caso da dengue, por exemplo, após o Aedes aegypti picar alguém que esteja infectado, o vírus leva cerca de dez dias para estar presente em sua saliva.
"São poucos os mosquitos que vivem mais de dez dias. Mas, quanto menos energia ele precisa gastar para se alimentar e colocar ovos, mais tempo ele vive", diz Valle.
"Assim, o aglomerado urbano, com muitos locais de criadouro e muitos alvos para picar, faz com que o mosquito viva mais, favorecendo o processo de infecção."
A bióloga destaca ainda que se trata de um mosquito especialmente arisco: "Quando vai picar, se a pessoa se mexe, ele tenta escapar e picar outra pessoa. Se estiver infectado com algum vírus, vai transmiti-lo para várias pessoas".
Controle
Exterminá-lo também é difícil. Segundo o Centro de Prevenção e Controle de Doenças dos Estados Unidos, o Aedes aegypti é "muito resistente", o que faz com que "sua população volte ao seu estado original rapidamente após intervenções naturais ou humanas".
No Brasil, ele chegou a ser erradicado duas vezes no século passado. Na década de 1950, o epidemiologista brasileiro Oswaldo Cruz comandou uma campanha intensa contra ele no combate à febre amarela. Em 1958, a Organização Mundial da Saúde declarou o país livre do Aedes aegypti.
Mas, como o mesmo não havia ocorrido em países vizinhos, o mosquito voltou a ser detectado no fim dos anos 1960. Foi erradicado novamente em 1973 – e retornou mais uma vez três anos mais tarde. "Hoje não falamos mais em erradicação. Sabemos que isso não é possível", diz Valle, do IOC/Fiocruz.
"O país é muito grande e tem muitas entradas para o mosquito. Também há muito mais gente vivendo em cidades, e a circulação de pessoas pelo mundo com a globalização aumentou muito. Os recursos humanos e financeiros para exterminá-lo seriam enormes."
Uma forma comum de combater o mosquito, a de dispersar uma nuvem de inseticida – técnica popularmente conhecida como "fumacê" –, não é muito eficiente, pois o componente químico tem de entrar em um espiráculo localizado embaixo da asa. Portanto, o inseto precisa estar voando, algo difícil tratando-se de uma espécie que fica na maior parte do tempo em repouso.
"Na maior parte das vezes, isso é jogar dinheiro fora e gera mosquitos mais resistentes. Hoje, levamos de 20 a 30 anos para desenvolver um inseticida e, em dois anos, ele perde sua eficácia por causa do uso abusivo", afirma Valle. "E os químicos usados no controle de larvas não estão disponíveis para a população."
Carvalho, da Fiocruz Minas, ressalta ainda que 80% dos criadouros são encontrados em residências, e que realizar a prevenção e exterminar focos do Aedes aegypti não é fácil.
"Quando temos uma epidemia, é mais simples conseguir o apoio da população, mas, fora deste período, é mais complexo sensibilizar as pessoas para a questão", afirma o entomologista. "Por tudo isso, acho muito complicado falar em erradicação. Talvez a melhor palavra seja controle."
Uma abordagem nova vem sendo testada na Bahia e em São Paulo. Machos transgênicos do Aedes aegypti são liberados na natureza e, no cruzamento com fêmeas comuns, geram larvas que morrem antes de atingir a fase adulta, o que, com o tempo, reduz a população do mosquito numa determinada área.
Responsável por testes realizados desde maio em Piracicaba, no interior paulista, a empresa Oxitec informou que os resultados estão sendo analisados por sua equipe técnica e que ainda não há uma previsão de quando serão divulgados.
O infectologista Jean Gorinchteyn explica os sintomas de cada uma das doenças e alerta para a importância de combater o mosquito Aedes aegypti. Confira nos vídeos abaixo:
Dengue

Zika
Chikungunya

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