terça-feira, dezembro 01, 2015

Encontramos no RN o pior ambiente de todos", diz Flávio Rocha

Entrevista - Flávio Rocha
Presidente da Riachuelo e vice-presidente da Guararapes

Sara Vasconcelos
Repórter

Com duras críticas ao excesso de burocracia, carga tributária e trabalhista, o presidente da Riachuelo e vice-presidente do grupo Guararapes, Flávio Rocha, afirma que o Rio Grande do Norte é o pior estado para quem quer empreender. A revisão das metas do Pró-Sertão, programa de facções de costura no interior do Estado, é um dos exemplos apontados pelo empresário. A meta de criar 300 facções para atender a demanda de produção com a ampliação da rede de lojas da Riachuelo foi revista e, segundo Rocha, para 2016 serão 70 facções e “a tendência é estacionar”. “A hostilidade do ambiente de negócios no Rio Grande do Norte parece ter incorporado ainda mais uma cultura-modelo de dificultar o empreendedorismo do que no restante do país que já é bastante difícil”, afirmou o empresário.  Apesar da redefinição de metas e redução de abertura de novas lojas, o grupo deverá fechar o ano com recorde em investimentos com R$ 450 milhões e crescimento de 9%. E se prepara para enfrentar o fim da “década do varejo” e um 2016 de dificuldades. O empresário participou ontem, em Natal, da 17ª Convenção do Comércio e Serviços do RN, no Teatro Riachuelo. 

Alex RégisFlávio Rocha - Presidente da Riachuelo e vice-presidente da GuararapesFlávio Rocha - Presidente da Riachuelo e vice-presidente da Guararapes

Quais as perspectiva do setor para  fechar o ano de 2015 e o que esperar de 2016?
Este é um ano bastante difícil,  depois de viver o que foi a década do varejo, com crescimento 3 vezes mais que o PIB, onde as redes cresceram 1.000%, houve o enraizamento do varejo de alta produtividade no Brasil. Havia um gargalo já que antes a clandestinidade existente retardou o crescimento do setor que é a locomotiva, o propulsor de uma cadeia de suprimento moderno. A grande transformação que se deu na economia foi empurrada pela produção para uma cadeia de demanda liderada por uma varejo altamente equipado, empresarial. A indústria de shopping centers também teve um boom. Já este ano, estamos vendo o arrefecimento desse processo devido os erros econômicos cometidos pelo Governo federal nos últimos anos, ou seja, a conta chegou. A formalização do varejo trouxe a formalização da economia brasileira que cresceu 18% nesta década, mas traz um mal que é colocar muito na mão do  Governo. Mais setores se formalizaram o que representa mais arrecadação para o Estado. E o Estado tem crescido 1% do PIB ao ano e atingiu proporção além do que a sociedade pode suportar.

O que é necessário? mais medidas de ajuste fiscal?
Ajuste fiscal é uma palavra muito amena. Precisamos de uma cirurgia no Estado enquanto instituição, um novo modelo de política econômica homologado pelos 60 milhões de brasileiros, para que o país volte a ter um Estado que faça sentido para a sociedade. Projetar um estado com crescimento de PIB. Temos um Estado que ano passado extraiu 37% do esforço de produção brasileiro para se financiar e gastou mais 8% de déficit público, um estado de mais de 40% do PIB, o que é insustentável. Ou a gente redireciona o propósito, que é do Estado servir a sociedade e não o inverso, ou vamos ter que sustentar esse Estado mastodôntico e corrupto. Acredito que fecharemos o ano em queda. E acho que só se destrava a economia numa próxima eleição.

Em relação a investimentos, a Riachuelo redefiniu a abertura de lojas?
Estamos crescendo fisicamente. Este ano, vamos abrir 28 lojas em todo o país, diferente das 45 que abrimos no ano passado quando expandimos 20% da área, praticamente um Midway de Riachuelos em área de lojas. Estamos crescendo esse ano, mas movidos pela expansão física. Até o terceiro trimestre crescemos 9%, mas as margens estão mais apertadas. Ainda assim estamos batendo recorde em investimentos com cerca de R$ 450 milhões. Investimentos em logística, nosso maior investimento é o Centro de Distribuição em Guarulhos, que será inaugurado agora em 2016, com mais de R$ 200 milhões, com capacidade para 215 milhões de peças. 

O que está previsto em investimentos para 2016, em aberturas de lojas?
Para 2016, vamos ficar atentos ao que vai acontecer, é fundamental proteger o caixa.  Não é que estamos pondo o pé no freio, mas há um arrefecimento do crescimento da indústria dos shoppings centers, 90% das nossas inaugurações são em shoppings, e com isso acaba tendo uma desaceleração na abertura de novas lojas. Será uma ano de redefinição de investimentos.

Quais os resultados das operações da fábrica no Paraguai? Tem conseguido reduzir os custos, posto que o atrativo seria a menor carga tributária e trabalhista?
Aqui, no Brasil, a indústria, o empresário enfrentam imensas dificuldades para produzir e gerar emprego. Lá é o contrário, se trata de forma sublime a figura do gerador de empregos. Estamos gerando 300 empregos na fábrica e já anunciamos a intenção de dobrar esse número e pretendemos nos tornar o maior gerador de empregos daquele país nos próximos anos. Gostaria que fosse aqui, mas é inviável.

Inclusive na abertura do Convenção, o governador Robinson Faria chegou a pedir a transferência da sede nacional do grupo aqui para o Estado, na tentativa de implantar a “Galícia potiguar”. O Grupo cogita ter a sede aqui, atender o pedido?
A Galícia (Espanha), em 2010, atravessou a crise com a economia pujante e eu sonhei fazer isso no Rio Grande do Norte. Mas aqui é ainda mais difícil do que no restante do país. 

Por que?
Devido a hostilidade do ambiente de negócios no Rio Grande do Norte, que parece ter incorporado ainda mais uma cultura-modelo de dificultar o empreendedorismo do que no restante do país que já é bastante difícil. É na área ambiental, tributária, trabalhista. O Brasil já perde para países como a Venezuela, a Colombia como pior ambiente de negócios. E no Brasil, estamos em 26 estados e no Distrito Federal, e para a minha infelicidade enquanto potiguar é aqui que encontramos o pior ambiente de todos. É como li outro dia um artigo de Sílvio [Bezerra] que diz “deixe-nos trabalhar”. 

O Pró-sertão teve as metas redefinidas para este ano e...
Isso. Nós tínhamos um projeto de estar agora com mais de 300 oficinas. Um projeto genial de largo alcance social, que tem resgatado a atividade econômica em municípios que estavam estagnados, que viviam de projetos sociais, de salários de prefeitura.  Mas que em vez de receber apoio para crescer, a colaboração das autoridades, o que se vê é um comboio, uma perseguição, um assédio. Diferente do sentimento de gratidão paraguaio, aqui somos tratados como bandidos. Infelizmente, em 2016, teremos que reduzir para 70 facções e a tendência é estacionar. Vamos duplicar a empresa em cinco anos, o que representa 20 mil empregos no varejo. Para cada emprego no varejo gera-se 5 no fornecedor. O Rio Grande do Norte teria condições de atrair um bom pedaço disso. A única coisa que traz conquistas para o trabalhador é prosperidade, e o que joga é estagnação pela perseguição, pelo assédio, pela burocracia, esse excesso normativo. É muito difícil chegar a meta de 300 facções porque são muitos os empecilhos de todas as ordens burocráticas, trabalhistas, de leis ambientais. Isso faz com que precisemos reorganizar. Nossas importações da China passaram de 5 para 35% nos últimos anos, são empregos que deixam de ser gerados aqui e vão para China, para Santa Catarina, para o Ceará, para o Paraguai. 

Qual o peso da reoneração da folha de pagamento do setor nesse balanço negativo, de queda de crescimento?
É um tiro no pé. O economista de 50 anos atrás já ensinava, que uma curva de arrecadação é ascendente até determinado ponto da taxa de saturação. A partir daí aumentos nominais e alíquotas só levam a queda de arrecadação, porque volta a clandestinidade. Todos os impostos trazem queda de arrecadação. Não adianta aumentar imposto. A única coisa que se consegue com isso é perder uma grande conquista que é a formalização do setor. 

Como a paralisação  do gás subsidiado à industria pelo RN Gás+, antigo Progás, tem afetado as operações do grupo aqui no Estado?
Acho que é algo momentâneo e deve ser resolvido em breve. O pior é esse problema do excesso de normas.

Em relação ao novo Proadi, as alterações aprovadas contemplam as necessidades da indústria?
Sim, o programa não gera dificuldades, contempla os incentivos buscados.

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