Entrevista Wilma Maria de Faria
Juliska Azevedo, Juliskaazevedo.rn@dabr.com.br // Edilson Braga, Edilsonbraga.rn@dabr.com.br // Allan Darlyson, Allandarlyson.rn@dabr.com.br
"Rosalba Ciarlini se esconde"
Pré-candidata à prefeitura de Natal, a ex-governadora Wilma de Faria, presidente estadual do PSB, disse, em entrevista aO Poti/Diário de Natal, que está aberta para conversar com o PSD, do vice-governador Robinson Faria, com vistas ao pleito do próximo ano. A pessebista comentou as articulações do governo para enfraquecer o partido de Robinson. "Ficou claro que houve uma ordem geral do governo para impedir o fortalecimento do partido do vice-governador", afirmou. A ex-governadora comentou também a falta de posição da governadora Rosalba Ciarlini (DEM) diante dos problemas do governo. "Nos momentos de dificuldade, você não pode ser dissimulado. Você não pode se esconder. Tem que encarar a realidade e enfrentar o povo, de forma transparente, explicando o porquê de todas as decisões. Esse posicionamento não está acontecendo por parte da governadora", avaliou. Ela ainda disse que está disposta a receber o apoio da prefeita de Natal, Micarla de Sousa (PV), nas eleições do próximo ano, apesar de julgá-la incompetente. Confira a entrevista:
Como a sra. avalia o tratamento que o vice-governador Robinson Faria (PSD) vem recebendo do governo?
Eu vejo que hoje o governo está contando com muitos partidos que o apoiaram e permanecem na gestão, mas estranhei bastante essa divergência entre o vice-governador Robinson Faria e o ex-deputado Carlos Augusto, marido da governadora Rosalba Ciarlini (DEM). Robinson Faria disse reiteradas vezes que tudo que estava sendo feito para a criação do novo partido fora combinado com o casal Carlos Augusto e Rosalba. Foi estranho, de repente, que as coisas mudassem. Ficou claro que houve uma ordem geral do governo para impedir o fortalecimento do partido do vice-governador.
Na sua avaliação, ainda há condições de Robinson permanecer na base do governo?
Essa será uma decisão dele. Só quem pode fazer essa avaliação é ele.
Robinson Faria seria bem recebido na oposição?
A população o receberia bem na oposição.
Essa articulação para impedir a ida de quatro deputados estaduais para o PSD é uma chave de roda do governo?
Na verdade, dá a entender isso, que foi uma decisão do governo para evitar o fortalecimento do partido de Robinson. Dessa forma, os deputados, na visão do governo, não deveriam migrar para o PSD.
A articulação do governo contra o PSD foi vista como uma forma de impedir que o vice-governador tivesse, na atual gestão, o poder que teve durante o seu mandato. Como era a influência dele no seu governo?
O Legislativo tem grande poder. Isso foi dado na Constituição. Robinson Faria debatia com o Executivo e usava sua influência muitas vezes contra o que nós defendíamos. Então, tínhamos que defender nossa posição.
Então foi isso que motivou a interferência de Carlos Augusto?
Robinson Faria e Carlos Augusto são muito parecidos. Por isso, se atritaram.
A sua candidatura a prefeita de Natal já está definida?
Não. O partido é que vai definir. Será uma decisão coletiva, que sairá no próximo ano. Eu tenho conversado com vários partidos e visitado entidades, bairros, converso com o povo. Eu voltei a ocupar um espaço que estava distante por causa das minhas atividades como governadora.
O que falta para a sra. definir se disputará ou não a prefeitura?
Falta convidar a todos para uma discussão em torno dessa questão. A maior parte da população dá a entender que deseja minha volta à prefeitura. Há um desejo da população para que eu esteja na vida política e administrativa da capital e do estado. Isso me deixa muito feliz, porque não é fácil perder uma eleição como eu perdi, no ano passado. Hoje, em todo evento que eu vou, sou abraçada, tanto na capital quanto em todas as regiões do estado. A resposta do povo tem sido pró-candidatura, mas a gente precisa ver também os interesses do partido. Não podemos tomar uma decisão monocrática. A decisão tem que ser do partido.
O prefeito Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD, está afinado com o governador Eduardo Campos, presidente nacional do PSB.Eles anunciaram que pretendem formar alianças entre os dois partidos principalmente nas disputas por capitais. Em Natal, será possível uma dobradinha do PSB com o PSD?
É possível. Vamos abrir as portas para as discussões. Estamos abertos para debater e somar.
Dois secretários da prefeita Micarla de Sousa (PV) são ligados à sra, inclusive foram secretários no seu governo: Vagner Araújo e Cláudio Porpino. Existe possibilidade de uma aliança sua com a prefeita?
Nossa posição é muito clara. As posições de Cláudio e Vagner são pessoais. Pediram licença do partido para assumirem os cargos. O PSB não apoiou Micarla de Sousa e faz oposição à prefeita. Fazemos uma oposição responsável, que beneficia Natal. Estamos vigilantes. Toda oposição bem feita também ajuda a administração. Esse é o nosso papel.
A sra. aceitaria o apoio da prefeita, caso ela desistisse de disputar a reeleição para apoiá-la?
É claro. Quando você é candidato todos os apoios são bem vindos. Se eu for candidata e Micarla vier me apoiar, claro que eu aceito.
Não sendo candidata, poderá apoiar o nome de Micarla de Sousa para reeleição?
É uma decisão do partido. A tendência é fazermos uma aliança com os partidos mais próximos do nosso campo ideológico. Não é o caso do partido da prefeita Micarla de Sousa.
A senhora fala em decisão do partido, mas como encara intimamente a sua candidatura a prefeita de Natal?
Essa candidatura mexe comigo. Comecei minha trajetória política sendo candidata a prefeita de Natal. Comecei minha vida pública na cidade. Tem tudo a ver com a minha história. Mexe até com minha emoção. Mas, é preciso deixar a emoção de lado na hora de escolher o melhor para o partido e pela população. Tenho que ir pelo racional. No entanto, não acredito em nada que não tenha paixão, emoção. Quando penso na prefeitura, relembro do apoio que o povo de Natal me deu tanto para ser prefeita quanto para ser governadora.
Que prazo a sra. se deu para a definição da candidatura?
Eu havia estabelecido o prazo de janeiro. Mas essa data pode mudar, tanto para antes como para depois. Vamos conversar com o partido.
A que a atribui a situação administrativa da prefeitura atualmente?
É uma questão de incompetência. Não vou nem dizer a falta de experiência, porque, quando não se tem, é preciso chamar alguém que tem para ajudar. Falta competência, bom senso e responsabilidade.
O governo tem sido criticado pela falta de diálogo com servidores, Assembleia e até órgãos como Ministério Público e Tribunal de Justiça. Nesse período de greves, a sra. acha essencial a palavra da governadora?
Rosalba quer repetir a mesma imagem que ela conseguiu fazer na prefeitura de Mossoró. Ela só fala o que for positivo. As coisas que são difíceis ou contrárias à população são ditas pelos seus assessores.
É possível fazer isso no governo?
Fica muito, vamos dizer assim, pouco transparente. É como se ela tivesse enganando a população, querendo dissimular em relação aos problemas existentes no dia a dia do estado. Num momento desses, você não pode ser dissimulado, você não pode se esconder. Tem que encarar a realidade e enfrentar o povo, de forma transparente, explicando o porquê de todas as decisões. Esse posicionamento não está acontecendo por parte da governadora.
Hoje, fora do poder, a sra. acredita na realização da Copa em Natal?
Eu coloquei minha cabeça, quando fizemos um trabalho, um projeto muito difícil na ocasião, quando ninguém acreditava que o Rio Grande do Norte pudesse sediar a Copa de 2014. Eu mais do que ninguém sabia que era fácil viabilizar a Copa. A gente reduziu em 50% o endividamento do estado, abrindo margem para a aquisição de créditos para realizar as obras necessárias. O município espero que também faça suas obras. Tenho certeza que a Copa virá. Fizemos a nossa parte. Colocamos a cidade menor das 12 sedes na Copa de 2014. O que me preocupo agora é com as obras de mobilidade e a imagem da cidade, que está caindo. Torço muito para que a Copa seja realizada e deixe um grande legado para Natal e o estado.
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