domingo, fevereiro 03, 2013

Robinson Faria: “O Governo Rosalba é de alpendre e chafurdo”


 Por: Joaquim Pinheiro Jornal de Hoje
Adversário político da governadora Rosalba Ciarlini (DEM), o vice-governador Robinson Faria (PSD) admite que se “arrepende” da posição que tomou no passado quando apoiou a então candidata ao Governo do Estado, Rosalba Ciarlini, do DEM. Nesta entrevista exclusiva a´O Jornal de Hoje, Robinson Faria faz uma análise da atual situação do governo potiguar e dos problemas enfrentados pelo Rio Grande do Norte. Do caos na saúde, a grave seca que assola o interior do Estado sobre seu projeto político de ser candidato a governador em 2014.
JORNAL DE HOJE – Como tem sido o seu dia a dia no cargo de vice-governador, levando-se em conta que o senhor faz oposição ao governo Rosalba Ciarlini?
ROBINSON FARIA – Primeiro é bom deixar claro a função do vice-governador. Hoje, sou rompido politicamente com a atual governadora. Como vice-governador eu estou  cumprindo a minha obrigação, dou meu expediente, estou à disposição do Estado e da sociedade, à disposição da população. Não tirei até agora nenhum dia de férias, estou na minha rotina procurando cumprir no âmbito constitucional as prerrogativas de um vice-governador. Mas, no âmbito de uma função executiva não existe mais, já que na hora em que rompi deixei de ter essa função. Então eu não posso ser cobrado por quem quer que seja de nada que diz respeito ao Governo Estadual no âmbito das suas ações, porque eu não faço parte nem no quesito da opinião. Nunca fui convocado para nenhuma reunião e o governo trata como se não existisse a figura do vice-governador, muito embora o cargo seja um mandato eletivo. Não fui nomeado por Rosalba para ser vice, fui eleito vice-governador com um capital de uma história de 24 anos de sucesso, de vitórias, como deputado estadual mais votado do Rio Grande do Norte por várias vezes, meu filho (Fábio Faria) deputado federal, e um grupo que entrou comigo para dar a vitória a ela. Então, esse capital continua. Quem arriscou politicamente, quem correu algum tipo de risco em 2010, com relação à carreira, foi Robinson Faria. Se eu perdesse, eu iria para casa, se ela perdesse voltaria para mais quatro anos no Senado. Mas, respondendo a pergunta, não posso ser cobrado hoje no que diz respeito ao Governo do Estado, a gestão Rosalba Ciarlini, porque eu sou rompido politicamente e também na parte administrativa.
JH – Isso significa uma perda considerável para o Estado nesse momento de dificuldade, quando o RN precisa de uma união de esforços? Por exemplo, a governadora deixa de viajar para conseguir recursos para não lhe entregar o governo.
RF – A governadora deixa de viajar porque ela tem uma visão atrasada da política, mesquinha, uma visão pequena para uma pessoa que tem um cargo importante como o dela, de governadora do Estado. O vice-governador de São Paulo é rompido com o governador numa circunstância parecida com a minha. Afif Domingos era aliado de Geraldo Alckmin e saiu para fundar o PSD, como eu. Por conta disso houve um rompimento político de Alckmin com Afif, mas Geraldo Alckmin já viajou e tirou até férias. Além das viagens de trabalho, tirou férias e passou o governo para o vice mesmo rompido politicamente, porque lá há uma visão civilizada e uma visão de um governador que não é mesquinha nem atrasada, como é a visão da governadora do Estado que na sua vaidade e no seu apego ao cargo, mesmo por uns dias, ela deixa de ir para o Banco Mundial em Washington, numa reunião com a presidente Dilma Rousseff e a ministra Hillary Clinton, para tratar de interesses do Rio Grande do Norte. Foi a única cadeira vazia na reunião.  Isso para o vice-governador, mesmo por uns dias, não assumir o governo do Estado.

JH – Mas isto não foi uma perda?
RF – A perda existe por opção dela. Se entendermos que há uma perda, é preciso cobrar a ela. Eu estou aqui à disposição para cumprir meu papel constitucional. Eu não posso ser penalizado por uma forma de agir mesquinha, imperial, da forma como ela governa o Estado do Rio Grande do Norte.

JH – O senhor se arrepende de ter apoiado a candidatura de Rosalba Ciarlini?
RF – É claro que me arrependo. Seria uma grande hipocrisia minha se eu dissesse que não me arrependo. E me arrependo por várias razões, não apenas pela natureza política. A governadora Rosalba Ciarlinia como ser político é uma pessoa que não tem compromisso com seus parceiros, não tem compromisso com a gratidão e com as pessoas que foram fundamentais para sua vitória. Em segundo lugar eu me arrependo porque apostei em um governo de modernidade, em um governo de mudança, de realizações no campo social, na saúde, como eu criei uma expectativa que seria uma gestão diferenciada. Eu me arrependo por ter colaborado para uma vitória de uma gestão desastrosa. Não só eu, mas muita gente tinha uma imagem diferente sobre a capacidade dela, mas hoje está comprovado depois de dois anos que é um governo que beira a incompetência, a mediocridade no serviço público. Se formos analisar o que o imaginário popular sonhou quando viu a oportunidade de eleger uma médica pediátrica para dar um choque de revolução na saúde do Estado, e temos hoje o pior governo da história do Rio Grande do Norte no quesito saúde. Os fatos são notórios. Os hospitais regionais estão sucateados, sem remédio, sem médicos. Faltam leitos, crianças estão morrendo por falta de leitos. Enquanto isso o Estado gasta mais com propaganda do que com investimentos na saúde. Mais grave ainda, nem o custeio da saúde está sendo cumprido, os médicos reclamam porque não há material para operar, não tem roupa, falta medicamento, alimentação nos hospitais para o corpo técnico. Falta até água nos hospitais para beber. É como se fosse uma guerra muito grande e o Estado tivesse virado um acampamento no meio do deserto para refugiados.

JH – Nós vivemos um momento de dificuldades também na segurança pública. Na campanha foi apresentado um projeto de sua autoria e não foi posto em prática. É uma retaliação?
RF – É claro. Esse projeto eu sou o autor, é comprovadamente eficaz, basta levantar os números do Ceará, onde funciona o Ronda do Quarteirão. Na campanha, ela assumiu o compromisso com o povo, dizendo que era uma sugestão minha. Ela deixou de implantar o projeto por mais uma atitude mesquinha e perseguidora e, por conta disso  pune a população. Em 2012, em Natal, ocorreram 440 assassinatos, um recorde na história do RN. Como o secretário de segurança pode executar alguma coisa sem orçamento? O Estado não tem política pública porque não se incomoda em ter orçamento para ser executado. Sem ter orçamento não pode cobrar resultados da equipe de segurança. Acho que temos um bom secretário, bem intencionado, mas não temos nenhum tipo de apoio. Então, o Estado que clama por segurança, tem um bom secretário, mas não tem nenhum tipo de apoio ou projeto. O Ronda do Quarteirão em Fortaleza chega a registrar ocorrência zero.

JH – Como o senhor avalia os atuais secretários da governadora? Algum deles estão fazendo um bom trabalho?
RF – De um modo geral eu acho que esse governo não fez planejamento prévio, não tem projetos. Agora mesmo a presidente Dilma Rousseff anunciou a recuperação dos portos brasileiros. A falta de um porto no Estado é um grande gargalo para nossa economia. O nosso PIB foi o último em crescimento do Nordeste no governo Rosalba, porque não há investimento em infraestrutura. O porto seria uma obra fundamental, nós estamos perdendo para o Porto do Ceará e para o de Pernambuco. A presidente Dilma disponibilizou R$ 51 bilhões para investimento em portos e o Rio Grande do Norte perdeu porque não tinha projeto para apresentar. Então, o governo não tem planejamento, projeto para fazer um governo de modernidade, audacioso. Qual o projeto do atual governo? Não há nada na parte estruturante, na saúde é um caos, na educação também. Na área rural, o agronegócio, nossas cadeias produtivas estão todas abandonadas por falta de apoio do Governo do Estado. Enquanto isso, estão migrando para outros Estados. Perdemos a Coteminas e outras fábricas porque não há incentivo. O empresário não tem ambiente favorável para se instalar aqui.

JH – Diante desta análise que o senhor faz, a desaprovação da governadora mostrada pela pesquisa Consult é uma realidade?
RF – É a realidade. Houve uma grande decepção da população com a forma de governar da atual governadora. Um governo que não chega nem a ser convencional, que pelo menos cuida dos setores básicos, saúde, educação. Hoje o Brasil quer um governo que quebre paradigmas, que tenha metas, que premie a competência. É preciso dar bônus ao professor que conseguiu aumentar a nota do Ideb, ao delegado que conseguiu diminuir a criminalidade em uma cidade, aos médicos que conseguiram atender a um número determinado de pacientes. Mas a saúde virou instrumento de politicagem, de favores. Um exemplo é na cidade de Santo Antonio, onde tínhamos o melhor hospital do Rio Grande do Norte em funcionamento, em parceria com o então prefeito dr. Gilson. Mas, para ela derrotar Gilson, que foi seu eleitor, ela tirou o hospital da direção dele e entregou ao adversário. Traiu o que foi leal a ela e deu para o novo afilhado político, que votou em Iberê. Hoje o hospital está praticamente fechado, porque foi uma escolha política municipal. Ou seja, foi mais importante a eleição do prefeito do que cuidar da saúde, de um hospital que atendia a toda a região. É essa a visão de uma governadora médica? Por conta de tudo isso, saúde, segurança, sem nenhum projeto novo. O governo de Rosalba é um governo de alpendre, de chafurdo. É um governo onde fica meia dúzia de bate papo que só pensam em política e esquecem de governar. Eu só entendo o êxito de um Estado quando ele é construído a partir da sociedade, quando se escuta a sociedade civil, os segmentos. Outro erro dela é essa arrogância em não dialogar com os médicos, com o setor que salva vidas. Ela está desafiando o servidor. Ou quer privatizar a saúde como fez em Mossoró? Nós temos que implantar a carreira de Estado para o médico no Rio Grande, pois só assim vamos conseguir um serviço a altura do que o povo espera. Em Mossoró, 12 horas de plantão custa R$ 2 mil, e um médico do Estado ganha no mês R$ 2 mil. Que incentivo é esse? São distorções como essa que levam a saúde para o fundo do poço. A pesquisa também revela muito a falta de apoio ao homem do campo. Nós perdemos quase metade do nosso rebanho. Nossa agricultura, até a de subsistência foi devastada e não há nenhum programa de apoio para essas pessoas. Este governo tem sido o pior parceiro para o homem do campo, para o agronegócio. É preciso saber conviver com a seca. Todo governador precisa estar preparado para a emergência. Mas neste governo o que existe no campo são carros pipa, abastecendo a população. Não fosse o Bolsa-Família, muitas pessoas estariam morrendo de fome no interior do RN.

JH – Como o senhor avalia os números apresentados pela Consult, que o incluiu como opção para governo e Senado?
RF – Eu não entendi minha inclusão para o Senado. Nunca me coloquei nesta condição. Eu descarto esta possibilidade. Nunca trabalhei para isso. Meu objetivo, e estou trabalhando e me apresentando como uma opção para o governo, este é o meu desejo. Eu quase fui candidato em 2010, cheguei a me colocar como o melhor colocado entre os candidatos da base governista na época. Mas não fui candidato e, agora, estou diante desta possibilidade. Na pesquisa, eu venci no cenário em que fui confrontado com a governadora. Vejam só, o vice-governador apareceu no levantamento com quase o dobro de pontos da atual governadora. E eu sou o menos conhecido entre todos os nomes colocados. Ou seja, não quer dizer que isso demonstre que meu nome não tenha potencial de crescimento. Mesmo eu não tendo sido o primeiro, sendo realista, minha leitura é que meu nome foi lembrado à proporção muito acima do que eu esperava. Nunca tive a oportunidade de me apresentar ao RN como candidato governador.

JH – O resultado dessa pesquisa lhe motiva?
RF – A pesquisa me motiva, me alegra. Não só a pesquisa, mas o que tenho encontrado em minhas viagens. Sou um político com pés no chão, tenho a percepção, a sensatez de saber se é ou não o meu momento. Hoje, as sinalizações que tenho encontrado de onde eu chego é de incentivo para que eu continue minha caminhada para me tornar candidato a governador. E eu quero me tornar candidato com o apoio dos partidos que fazem oposição a atual governadora. Eu irei adiante em busca desse projeto.

JH – Qual deve ser a estratégia da oposição para ganhar a eleição em 2014
RF – Continuar dialogando, PT, PSB, PDT, PSD, o palanque do segundo turno do prefeito Carlos Eduardo em Natal. Os partidos da base de sustentação da presidente Dilma e que aqui são da oposição à governadora que tem um projeto de mudança efetiva, para construir um grande Estado. E eu vou buscar esse projeto. Já tenho muitas ideias que trago da minha experiência parlamentar, de modelos de gestão que conheci em Minas Gerais. Tenho experiências que se somam para que eu possa ter uma ideia de Estado e que eu possa apresentar para julgamento do povo. Minha caminhada não é apenas me apresentar como candidato a governador, mas tem interesse em ouvir a sociedade, para que possamos juntos fazer a construção de um Estado a partir da sociedade. A juventude, o agronegócio, as cadeias produtivas, o setor acadêmico, ouvir cada segmento da sociedade para que possamos formatar, juntos, a construção de um grande projeto de inovação e ousadia. Nosso Estado tem um grande potencial, mas está adormecido. Hoje nós temos a ZPE aprovada em Macaíba. Nossa ZPE está aprovada e regulamentada, que seria um grande divisor em nossa economia. E o governo nem quer saber que ela existe. É como se fosse um papel guardado na gaveta. Essa ZPE mudará toda a nossa economia, gerando empregos. Está pronta, falta apenas implantar, fazer pequenas obras estruturantes e começar a funcionar. Um presente que esse governo recebeu e não enxerga a dimensão que é a ZPE. Por isso as fábricas vão embora para outros estados, que são mais agressivos.

JH – Na opinião do senhor, PMDB tem razões para se afastar do governo?
RF – Eu não tenho elementos para opinar sobre isso. Não sei como está a relação da governadora com o PMDB em seu dia a dia. Fica difícil transmitir uma opinião sobre se o PMDB tem razões para romper ou não. O que posso falar é que tenho respeito enorme pelo PMDB, estou dialogando com o partido, esta semana fui a Brasília e conversei com o ministro Garibaldi Alves, estou conversando com o deputado Walter Alves. O PMDB faz parte da base aliada da presidente Dilma, como nós, mas não posso entrar nesse julgamento e emitir uma opinião sobre a relação do governo com o PMDB, não cabe a mim.

JH – O senhor conta com o apoio do prefeito Carlos Eduardo e da vice-prefeita Wilma de Faria para seu projeto de 2014?
RF – A oposição está unida. Estão achando que estamos com queda de braço, mas vai quebrar a cara quem acha isso. Nosso diálogo, eu, Carlos, Wilma e Fátima, está sendo de muita amizade, respeito um ao outro, e com o desejo de construção juntos para um grande palanque em 2014. Quem apostar nessa desunião vai errar.

JH – O que o senhor tem a dizer sobre os vetos da governadora ao Orçamento, que deixou o gabinete da Vice-governadoria quase sem recursos?
RF – Esse é talvez o gabinete de vice-governador mais enxuto do Brasil, com o menor orçamento do Brasil, com a menor quantidade de cargos comissionados. Podem visitar os demais estados para saber o que representam os gabinetes dos vice-governadores. Mesmo assim, mesmo com um dos orçamentos mais baixos do país, em 2012 ainda consegui economizar quase R$ 1,5 milhão para os cofres públicos, não utilizei o orçamento que foi aprovado pelo próprio governo que eu já estava rompido. Dei a minha contribuição, até como cidadão, diante da dificuldade que o estado vive. Agora, acho que os vetos, e eu incluo até os demais poderes, foi outro grande equívoco e demonstração de imperialismo. A forma mesquinha de governar dessa atual gestão. Inclusive deixando desconfortável o poder legislativo, que tem sido um grande parceiro da administração Rosalba Ciarlini, que acabou de aprovar um empréstimo para o estado. Até hoje o governo não sofreu nenhuma derrota na Assembleia. Os deputados se reúnem, aperfeiçoam o orçamento, e o governo deixa a Assembleia em uma situação dificílima. Eu acho que foi um grande desrespeito do estado aos poderes, ao vice-governador que, aliás, nunca existiu respeito.

JH – Qual a importância da eleição de Henrique Alves para presidência da Câmara e da presença de Fábio Faria na mesa diretora?
RF – São duas conquistas para o Estado, principalmente se Henrique conseguir a presidência da Câmara Federal. O PSD, mesmo hoje eu não sendo aliado político do deputado, tenho uma amizade e estima muito boa por ele. E, independente disso, eu entendo como cidadão do Rio Grande do Norte que é muito importante para o nosso Estado e até fundamental, o cargo de presidente da Câmara Federal. A prova disso é que Gilberto Kassab me chamou em São Paulo e eu disse que a minha posição e a de Fábio era de total apoio a candidatura de Henrique. E acabou Fábio sendo escolhido para fazer parte da chapa oficial como representante do PSD, o que demonstrou nosso total apoio para esse projeto. Nós temos que aplaudir. Será uma vitória para todos nós comemorarmos juntos. Porque será importante para ajudar o nosso estado. Eu torço para que o RN dê certo. Eu tenho minhas discordâncias da governadora, com esse estilo político que considero totalmente ultrapassado, um coronelismo dos anos 30. Torço para que o RN dê certo, mas hoje nós não temos nada para comemorar.

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