quarta-feira, novembro 25, 2015

O novo elo entre mensalão e petrolão

O empresário e pecuarista José Carlos Bumlai é escoltado por policiais federais ao deixar o Instituto de Ciência Forense em Curitiba. Bumlai foi preso na 21ª etapa da Operação Lava Jato











No documento distribuído a seus militantes para contra-atacar a Operação Lava Jato, o Partido dos Trabalhadores (PT) descreve o juiz Sérgio Moro como um aliado dos tucanos e diz que ele e “sua ‘equipe’ de delegados da PF e procuradores do MPF do Paraná fazem de tudo (até mesmo anistiar criminosos confessos) para atingir o PT”. “Eles não querem detectar os criminosos e acabar com a corrupção”, diz o texto. “O objetivo é prejudicar a imagem do PT e de seu governo.”

Quem ler com atenção o despacho com o decreto da prisão do pecuarista José Carlos Bumlai (foto) – o amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre quem pesam graves acusações de empréstimos fraudados no Banco Schahin e desvio de dinheiro para o PT, em troca de contratos na Petrobras – perceberá a razão de tanta raiva contra Moro. Primeiro, Moro elenca todas as evidências que levaram à prisão de Bumlai. Depois, no mesmo documento, reafirma a inocência de Lula, ao dizer que “não há nenhuma prova de que o ex-presidente da República estivesse de fato envolvido nesses ilícitos”. Mas, em seguida, ele estabelece o elo entre os dois maiores escândalos da era petista, o mensalão e o petrolão.

É essa a pedra no sapato que tanto incomoda o PT. Moro é incapaz de fazer uma única acusação sem prova – mas também é incapaz de esquecer as suspeitas gravíssimas que conectam os dois esquemas. Já se sabia que um dos nomes que faziam esse elo é José Janene, o deputado do PP acusado no escândalo do mensalão e morto em 2010, antes de ser condenado. Segundo depoimentos, foi Janene quem, diante do desbaratamento do mensalão em 2005, apresentou Paulo Roberto Costa aos petistas e conseguiu indicá-lo para a diretoria da Petrobras, inaugurando a participação do PT no esquema que lá mantinha.

Agora, emerge um novo nome que liga mensalão e petrolão. É Bumlai, o amigo de Lula – contra o ex-presidente, é bom repetir Moro, “não há nenhuma prova”. Bumlai, afirma Moro no seu despacho, foi acusado em 2012 por ninguém menos que Marcos Valério, o operador do mensalão, de transferir parte do dinheiro do empréstimo fraudulento do Banco Schain para o PT pagar uma chantagem do empresário de Santo André Ronam Maria Pinto, que ameaçava denunciar o envolvimento de petistas graduados no assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel, em 2002. Em troca, disse Valério, a Construtora Schain conquistou um contrato para construir uma sonda da Petrobras.

É novamente importante repetir, como diz Moro, que também “não há nenhuma prova” das acusações de Valério, nem se sabe exatamente que tipo de denúncia passava pela cabeça de Ronam, muito menos se ela poderia ter algum fundo de verdade ou se era apenas uma fantasia usada como meio de extorsão. Em geral, não se deve dar muito crédito ao que dizem chantagistas, e a credibilidade de Valério já foi posta em xeque diversas vezes. Mas o elo do petrolão com o mensalão, graças às investigações sobre Bumlai, repousa agora sobre provas mais robustas, que nada têm a ver com Valério ou Ronam. São elas: o empréstimo do Banco Schain para Bumlai, o contrato da Petrobras com a Construtora Schain, e a posterior compra, por R$ 230 milhões, em 2011, do Banco Schain pelo Banco BMG, numa época em que o Schain era acusado de fraudes financeiras, e o BMG ainda tentava se livrar das acusações de ter irrigado o esquema do mensalão.

O quadro que emerge de tudo isso ainda não está totalmente claro. Em delação premiada, um dos sócios do grupo Schain, Salim Schain, confirmou o relato sobre o empréstimo fraudulento ao PT em troca do contrato na Petrobras. Bumlai nega a fraude e afirma que o empréstimo foi pago em 2009, com embriões de gado de elite. Também nega que o BNDES tenha concedido créditos de R$ 64,6 bilhões em 2005 a empresas inativas de sua propriedade, como consta do despacho de Moro. Nega, enfim, que tivesse tanta proximidade com Lula e mesmo que lhe fosse franqueado “passe livre” no Palácio do Planalto durante o governo do amigo, como se aventou..

Independentemente do que diga Bumlai, é evidente que o PT tem muito a temer do trabalho de Moro. A prosseguir nessa trilha, as investigações poderão demonstrar de modo ainda mais sólido a continuidade dos crimes do mensalão para o petrolão, como forma de abastecer ilegalmente os cofres do partido. Para o PT, isso representa uma ameaça bem mais tangível do que qualquer acusação que hoje exista contra Lula – contra quem, repitamos Moro novamente, “não há nenhuma prova”.

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