As declarações do ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves reforçando a decisão de concorrer ao Senado deixaram o PSDB dividido sobre datas e nomes para a escolha de um candidato a vice na chapa de José Serra à Presidência da República. Ao mesmo tempo em que o presidente do partido, Sérgio Guerra (PE), cita o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) como um bom nome, o próprio Aécio se desdobra em elogios a Itamar Franco — o que levou muitos a entender que Aécio, nas entrelinhas, estaria apresentando o nome do ex-presidente para a campanha ao Palácio do Planalto. Guerra vai conversar com Serra na próxima semana, para começar a tratar do assunto. “Há seis meses, sabemos que Aécio não seria (vice). Mas muita gente no partido achou que ele era o melhor nome”, disse Guerra, para justificar o fato de o partido não ter tratado seriamente de outros nomes até agora.Diante da afirmação de Aécio de que será candidato ao Senado, o presidente do Democratas, deputado Rodrigo Maia (RJ), pede calma. “Não precisamos tratar disso agora. Se não decidimos até agora, não há por que ter pressa. Temos tempo até 5 de julho, data do registro de candidaturas”, afirma o chefe democrata, na esperança de que, até lá, Aécio mude de ideia. “Se ele é considerado o melhor nome, temos que dar tempo ao tempo. Pressões não ajudam”, diz ele.Maia havia dito há alguns meses que, na hipótese de Aécio recusar o convite, o seu partido iria reivindicar a vaga de vice na chapa. Já se especulou sobre o senador José Agripino Maia, por ser do Nordeste, região onde a petista Dilma Rousseff tem hoje a preferência do eleitorado. Falou-se ainda na senadora Kátia Abreu (DEM-TO), presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que poderia ajudar a alavancar Serra no interior do país. Um terceiro nome citado foi o do senador Demostenes Torres, de Goiás, promotor, que também tem uma boa imagem no Senado. Ontem, no entanto, Maia não falou de nomes: “Não é hora de tratar disso agora. Eu vou propor que se deixe para discutir depois do feriado”, afirmou.Fora do centro nervoso da decisão, o senador Álvaro Dias (PR), futuro líder do PSDB no Senado, alerta para o perigo de os partidos ficarem à espera do tucano. “Essa especulação só atrapalha o projeto do PSDB. Ele já disse desde abril que não seria candidato a vice. Não entendo o porquê dessa especulação toda. Não precisamos sequer tratar de nomes. É definir um perfil entre as opções que temos e, com base nesse perfil, encaixar um nome. Não há atrito nos partidos, ninguém está desesperado. O melhor é esperar e decidir com calma”, afirma o senador paranaense.Enquanto se espera, no entanto, a avaliação dos bastidores é a de que o tema candidato a vice começa a desgastar a pré-campanha. Até agora, todas as apostas falharam. Além de Aécio, falou-se na hipótese do senador Francisco Dornelles (PP-RJ), que não tem o apoio fechado do partido para seguir com os tucanos. E, como lembram alguns integrantes do partido, também não recebeu qualquer convite formal. Agora, vem Tasso Jereissati, candidato ao Senado no Ceará. O próprio Sérgio Guerra, presidente do PSDB que levantou o nome, diz ser uma possibilidade remota.Nos últimos 16 anos, o PSDB teve problemas para escolha do vice em eleições presidenciais intercaladas. Em 1994, o primeiro nome escolhido para compor a chapa do PSDB foi o do então senador Guilherme Palmeira (PFL-AL). Por causa de notícias na época sobre suposto envolvimento em denúncias de favorecimentos no estado, ele terminou substituído por Marco Maciel (PFL-PE). Em 2002, quando Serra disputou o Planalto pela primeira vez, o nome era o do atual líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves. Mas o deputado terminou fora da chapa por causa de um processo judicial divulgado pela imprensa em que a ex-mulher o acusava de ter recursos depositados no exterior. A escolhida, então, foi a deputada Rita Camata, que recentemente trocou o PMDB pelo PSDB. Em 2006, não houve problemas, foi o então senador José Jorge (DEM-PE). E, para não repetir 1994 e 2002, os tucanos querem escolher com calma e evitar troca de última hora. Já chega o desgaste enfrentado até aqui.São 14,37 milhões de eleitores registrados em Minas Gerais, segundo o Tribunal Superior Eleitoral.Os dados são de abril de 2010O ex-governador Aécio Neves (PSDB) anunciou que irá concorrer ao Senado depois de uma reunião na manhã de ontem com o governador de Minas Gerais, Antonio Augusto Anastasia (PSDB), e o ex-presidente Itamar Franco (PPS). “A minha decisão não pode ser tomada a partir de opiniões pessoais, até de boas intenções de alguns companheiros. Elas são até legítimas, mas a minha decisão tem que ser tomada a partir de uma análise muito profunda que faço do cenário político”, afirmou. “Estou absolutamente convencido de que a melhor forma para ajudar a dar a vitória ao governador Anastasia e a Minas Gerais, porque sua vitória é a vitória de Minas, e ao companheiro amigo governador José Serra, é estando em Minas como candidato ao Senado”, completou.Aécio prometeu “suor e sangue” para ajudar a eleger o companheiro de partido, até porque afirmou estar convencido de que se trata da melhor alternativa para o país. Mas rebateu teses do poder de transferência de votos em uma eleição, justificativa usada pelos que defendem o seu nome para vice de José Serra. “Em parte isso é verdadeiro, mas jamais será decisivo. O eleitor vota a partir da realidade e da perspectiva que vê para sua vida.” E negou-se a participar das conversas em torno de um nome para a vaga, alegando que esse papel cabe à direção dos partidos aliados e ao próprio candidato.Itamar, que esteve ao lado de Aécio durante toda a entrevista, aprovou o discurso do aliado. Disse que o seu lugar é em Minas, fazendo campanha para Anastasia. “Se ele (Aécio) fosse candidato a vice (presidente), faria uma campanha de beija-flor. Bicava aqui, bicava lá. E, ao contrário, nós precisamos vencer aqui em Minas”, disse
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