Entrevista com Iberê feita pela brilhante jornalista Ruth Dantas.
Na íntegra:
“A doença não será usada para negociação política”
Anna Ruth Dantas - enviada especial a São Paulo. Uma semana depois de se submeter a uma cirurgia para retirada de um nódulo cancerígeno no pulmão, o vice-governador Iberê Ferreira se mostra emocionado, reflexivo sobre a própria vida, sentimental ao falar sobre a solidariedade que recebeu e determinado a ser candidato à sucessão da governadora Wilma de Faria. Iberê descarta a desistência de disputar o pleito e manda dois avisos. Aos adversários: “Chegarei com força total”.
A quem possa imaginar substituí-lo na chapa majoritária do PSB:
“Esses terão uma frustração”. Uma semana depois de se submeter a uma cirurgia para retirada de um nódulo cancerígeno no pulmão, o vice-governador Iberê Ferreira se mostra emocionado.Como candidato, Iberê oferece as vagas de vice-governador e a segunda vaga para o Senado ao PMDB e ao PT. Chega a definir até mesmo uma fotografia de composição com o PT, que indicaria o nome para vice, e o PMDB, com a indicação do senador Garibaldi Filho para reeleição. Para tentar atrair o apoio dos peemedebistas, ele lembra que o partido tem muito mais identidade com o bloco governista, que também está na composição do presidente Lula, do que com o DEM, da senadora Rosalba Ciarlini. Como governador, que toma posse na próxima quarta-feira (31), ele admite que os problemas de saúde o fizeram não ter tanto tempo para formar a equipe de auxiliares. Como paciente, Iberê Ferreira se mostra muito emotivo. Admite que sentiu medo ao receber a notícia de que estava com um nódulo no pulmão e frisa que o “medo grande” foi da cirurgia. A alta hospitalar está marcada para hoje e na próxima segunda-feira Iberê espera desembarcar em Natal. O tratamento de quimioterapia e radioterapia começará no dia 5 de abril. Serão cinco semanas e, nesse período, Iberê passará cinco dias da semana em São Paulo. “Ficarei indo e vindo, mas não deixarei de administrar o Estado”. Para isso, já solicitou até uma sala ao presidente da Fiesp, Paulo Skaf, onde ficará despachando durante o período em que estiver em tratamento na capital paulista.A entrevista, abaixo, foi concedida no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, para onde a TRIBUNA DO NORTE enviou a repórter Anna Ruth. Ela conseguiu ter acesso ao vice-governador que concordou, pela primeira vez após a cirurgia, falar demoradamente e com exclusividade ao jornal. Que momento é este da sua vida? Qual a reflexão que o senhor faz?
A reflexão que eu faço é da fragilidade da vida da gente. A gente as vezes briga por tantas coisas, luta por tantas coisas e esquece de outras tantas que são tão importantes, como a saúde. Tenho hoje a convicção que a prevenção é uma coisa fundamental. Se eu não tivesse procurado os exames de rotina, não teria detectado o câncer, até porque não sou fumante e nunca tive nenhum sintoma referente a problema nos pulmões. Vim fazer os exames de rotina, até porque é ano eleitoral, de campanha maior. E fui surpreendido na última hora com uma informação que deixa a gente atordoado. No primeiro momento é difícil e vi que é fundamental que as pessoas tenham fé em Deus. A pessoa não pode viver sem ter fé. Quando fui informado (da doença) procurei alguma coisa e não encontrei, só encontrei a fé. Foi a fé que me segurou, foi que me deu as condições de reagir e decidir o que iria fazer da minha vida.O que pesou na decisão de fazer a cirurgia antes de assumir o Governo?
Eu tomei uma decisão e minha decisão foi a seguinte: primeiro lugar minha vida, tenho que lutar pela minha vida. Perguntei a equipe médica qual seria a atitude correta para quem queria resolver o problema e ela disse que seria retirar.
O senhor sentiu medo?
Senti medo. Senti muito mais medo da cirurgia do que da própria doença. Agora, eu fico impressionado com o poder de adaptação da criatura humana. Depois de segundos, minha forma de agir, de ver as coisas é outra.
O senhor se submeterá a cinco semanas de quimioterapia e radioterapia. Isso poderá comprometer a sua campanha como candidato a governador?
Não. Isso eu conversei com os médicos. É que as vezes a gente raciocina como se estivesse as vésperas da eleição. Estamos em março, a eleição é em outubro, convenção será no final de junho. Raciocine que eu assumo em abril e eu tirarei cinco semanas para cuidar dessa prevenção sugerida pelos médicos no tratamento. Serão cinco dias por semana, em cinco semanas. Então vou passar um mês vindo e passando cinco dias em São Paulo. É um sacrifício, atrapalha alguns planos, mas não inviabiliza a campanha nem minha administração. No primeiro momento, como governador, vou anunciar e publicar medidas a serem adotadas na área da segurança, na área administrativa, na área de saúde. Feito isso, entrego e delego aos secretários, deixo as pessoas para ficarem acompanhando, faço o projeto, volto para o tratamento.
Esse medo de inviabilizar a candidatura pelo tratamento, então, o senhor não tem?
Nao. Pela forma como me foi descrito, são cinco semanas em abril. Cinco semanas em abril não inviabilizará uma candidatura cuja eleição será em outubro. As convenções serão em junho e o pleito em outubro.
Mas, o senhor não chegou a cogitar disputar um outro cargo, para o qual a campanha fosse mais “leve”?
De jeito nenhum. Eu só tenho a alternativa de ser candidato a governador. Sigo essa alternativa sem aflição, sem angústia e sem irresponsabilidade. Se não desse para assumir não assumiria.
Há algo que lhe faça mudar de ideia em relação à candidatura?
Só a minha saúde. E sobre isso eu tenho muita fé. Tenho uma formação religiosa cristã. Reconheço que quando criança fui muito mais assíduo, frequentador, depois me afastei um pouco. Mas sinto que ainda tenho uma fé muito forte.
Há comentários de que o senhor poderia assumir o Governo e o ex-prefeito de Natal Carlos Eduardo seria o candidato da base governista. Outros chegaram a apostar que até o próprio deputado Robinson Faria poderia rever a posição e ser o candidato apoiado pela governadora Wilma de Faria.
Eu não negocio absolutamente nada com relação a doença. Vai ser candidato porque não está doente, não vai ser candidato porque não está doente, isso eu não comento. Eu serei candidato no pleno gozo da minha saúde. Eu me nego a negociar nesses termos ou dizer que eu vou trabalhar menos em um cargo. Eu vou com toda força ou não vou (ser candidato).E neste momento o senhor vai ser candidato?Nesse momento vou com toda força, com toda convicção, toda fé que tenho em Deus de que vou ficar bom e com toda convicção que isso não vai me atrapalhar. E digo isso não só pela fé, mas porque tenho dados sobre os tratamentos, como já lhe disse. Se me dissessem: o tratamento será de seis meses, eu não iria prejudicar o meu Estado nem o meu partido, tampouco iria colocar os meus amigos em situação difícil. Eu saberia sair com dignidade e fazer o que era minha opção, ou seja, cuidar da minha saúde.
Até que ponto o senhor irá vincular sua candidatura ao Governo à candidatura ao Senado de Wilma de Faria?
Eu tenho uma grande admiração pela governadora, tenho dito que não existem pessoas e governos iguais. Alguns dizem que os governos serão iguais, mas nem os dedos das mãos são iguais. Ela tem projetos importantes e que são bem avaliados. Eu vou tratá-los com todo carinho, se puder melhorar, melhorarei, e darei a ela toda atenção que ela sempre mereceu. Ela (a governadora) sempre foi muito correta e nesse momento difícil, hora nenhuma questionou, disse que estava comigo e eu que resolvia.
Eleitoralmente, o senhor buscará vincular a sua candidatura com Wilma de Faria?
Sim, onde for possível vincular com o nome dela eu farei. Agora, tenho convicção e certeza de que em alguns municípios ela tem o apoio de lideranças e de parte da população que não votam em mim. Quem vota em mim é do outro lado e eu saberei respeitar, sem nenhum problema.Iberê quer discutir projetos e rejeita ‘pastoril político.’
O senhor teme que,o eleitor possa vê-lo como um candidato mais frágil e, por isso, menos capaz de assumir o Governo?
Foi exatamente por isso que, no primeiro momento, tomei a decisão de não esconder absolutamente nada. O homem público tem obrigação de dar informação da sua vida à população. A doença de Iberê interessaria a meia dúzia de pessoas. Mas eu, como homem público, me sinto no dever de dizer a todos. Não posso imaginar que um cidadão vote em mim e quando assumir ele verifique que eu não posso assumir por estar doente.
Mas o senhor teme que sua doença possa transparecer fragilidade para o eleitor potiguar?
Não. A medicina está tão avançada, os exemplos são tão claros, como a ministra Dilma Roussef, que está avançando nas pesquisas para presidente da República. No Estado tivemos problema como de Henrique Eduardo que venceu e está hoje vivendo o melhor momento da sua vida pública. Vejo, hoje, o grande desenvolvimento da medicina, pela modernidade que hoje existe da medicina e os exemplos que estão aí. (Nesse momento ele se emociona). A quantidade de e-mails, de mensagens que recebi, foi algo que me tocou muito. Eu não imaginava que tivesse tanta gente, que torcesse pelos outros, são pessoas que não têm acesso a mim, que nunca fiz nada, mandam mensagem, insistem. (Novamente se emociona).
O que o senhor diria para os adversários no pleito de 2010?
Que se preparem para não serem tomados de surpresa, façam seus checapes. Vou chegar pronto para trabalhar, para discutir os projetos do Rio Grande do Norte, discutir propostas. Só não vão contar comigo para encher o Rio Grande do Norte de bandeira azul, vermelha, encarnada, para fazer pastoril político. Isso não.E para os que pensam ou comentam sobre uma troca de nomes na chapa do PSB?Serão frustrados.
Como o senhor escolherá o candidato a vice-governador?
Acho que nunca fizemos uma coisa tão certa como deixar a vaga de vice para ser negociada. Agora que estamos com uma legislação eleitoral começando a ser interpretada por juristas e tribunais. Quantos partidos estavam devidamente acertados e agora, em função das novas interpretações, vão ter que mudar? Estamos prontos e abertos para qualquer mudança, tendo ainda uma vaga na nossa chapa.
O senhor teme que o PMDB venha aceitar esse convite feito pelo senador Garibaldi Filho ao deputado Henrique Alves para apoiarem, juntos, a chapa do DEM (Rosalba Ciarlini)?
Não temo porque conheço Henrique de muitos anos. Eu comecei a vida pública com o deputado Henrique Eduardo, com Garibaldi Filho, com Antônio Câmara. Havia um prazo para se filiar ao MDB, que na época era secretariado por Roberto Furtado. Eu estava no Rio de Janeiro fazendo curso da Fundação Getúlio Vargas, curso de Administração de Empresas, e Henrique Eduardo – com o pai cassado - estava lá também. A gente conversava muito, na perspectiva de vir a ter candidato no Rio Grande do Norte. Garibaldi, em Natal, eu e Henrique no Rio. E nós viemos no carro da minha mãe e combinamos o seguinte: só tinha uma solução. Fazer viagem direta. Fizemos em 48 horas, Rio-Natal; eu dirigia um tanque de gasolina e Henrique dirigia outro tanque. Paramos em Natal, na porta do escritório de Roberto Furtado e assinamos, no último dia, a ficha de filiação do MDB para ser candidato a deputado. Digo isso porque falam na possibilidade de Henrique Eduardo deixar o palanque (de Iberê Ferreira). Eu o conheço e sei que ele toma posição e mantém posições políticas.
O senhor ofertaria a candidatura a vice para o PMDB?
Eu não sou dono da chapa. Evidente que seria uma alternativa. Seria alternativa como seria para o PT. De qualquer forma, o PT pretende uma vaga de senador na nossa coligação. Temos como acomodar o PT e PMDB, porque temos uma vaga de vice-governador e outra de senador.
Essa seria uma acomodação que lhe satisfaria?
Seria a menos traumática. Poderia ser o PMDB com um senador, o PSB com outro senador e o PT com o vice. Ainda teríamos os suplentes. Na minha opinião é menos traumática. Eu vi a nota do senador Garibaldi Filho (convidando Henrique para o palanque do DEM). Essa proposta de Garibaldi de juntar Henrique ao DEM é a mais traumática, porque tiraria Henrique, que é uma pessoa de posição, que tem compromisso com o presidente Lula, com a ministra Dilma, e o colocaria para fazer palanque com o DEM. É inviável. Mais fácil é Garibaldi vir (para o palanque do PSB), porque ele já faz parte do palanque do Governo Lula. E tenho certeza que se ele (Garibaldi Filho) for avaliar o passado, sobre com quem tem mais afinidades - Carlos Augusto Rosado e José Agripino de um lado; do outro lado Iberê e Henrique Eduardo -, ele nem contava. Viria para o lado de cá.
Em quem será seu segundo voto para o Senado?
Será aquele que participar da nossa coligação. Por sinal, não será nem o segundo porque eu vou votar nos dois de uma vez só.
O senhor tem receio de que a candidatura de Ciro Gomes possa atrapalhar, tirando a ministra Dilma do seu palanque?
Já temi (a candidatura de Ciro Gomes). Acho que a candidatura de Ciro Gomes, pelo o que tenho falado com pessoas do meu partido, não ameaça mais. Ela não se viabiliza. Ciro é um bom quadro, mas ele não se viabiliza. Ela (a candidatura de Ciro Gomes) não vai se viabilizar não por ação do presidente Lula, mas porque ela surgiu dentro de um entendimento do presidente Lula. A candidatura de Ciro Gomes nunca foi do PSB isoladamente.
Recentemente, o senador José Agripino concedeu entrevista a TRIBUNA DO NORTE analisando que a candidatura de Carlos Eduardo compromete a do senhor, já que os senhores disputariam o mesmo nicho de votos. Como o senhor avalia?
É um direito que ele (José Agripino) tem de fazer avaliação. A minha é outra. Eu avalio que a candidatura de Carlos Eduardo é de uma pessoa séria, que tem serviços prestados em Natal, que terá boa votação em Natal, mas assim mesmo ele não terá acesso ao segundo turno. A campanha será polarizada?De minha parte não. Farei o possível para não polarizar a campanha. O Rio Grande do Norte está precisando de campanha na qual sejam discutidas propostas, ideais e não radicalismo e não polarização de grupos.
A oposição tem procurado fazer associação da sua candidatura a um “terceiro Governo Wilma”. Como o senhor analisa?
Eu não me envergonho de ser vice-governador de Wilma de Faria. Têm pessoas que se envergonham de pessoas do seu próprio partido. Eu não me envergonho de jeito nenhum. Posso até não concordar com todas as decisões dela,mas respeito.
A decisão do presidente Lula de não ir para Estado onde a base dele tem dois candidatos, é ruim para a candidatura do senhor?
Eu não acho uma boa. O ideal era que ele pudesse vir. De qualquer maneira, não acho tão ruim porque ele virá no segundo turno e quem vai para o segundo turno sou eu. E aí vou contar com a presença dele no segundo turno. Esse ano nós vamos ter a primeira vitória, que é da minha saúde, segunda será o do Governo e a terceira será a campanha de outubro.