Deputado com o maior número de mandatos no Congresso Nacional, prestes a iniciar o 11º da carreira, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB), declarou que a base aliada do presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) sofreu alguns tropeços de ordem organizacional, no 1º turno da campanha de Dilma Rousseff (PT) à presidência da República, mas que agora caminha, no segundo turno, para uma unidade e coerência em torno dos atores do processo. Na entrevista à TRIBUNA DO NORTE, o peemedebista também falou sobre como se portará o PMDB no governo Rosalba Ciarlini, sobre presidência da Câmara dos Deputados e também sobre candidatura majoritária da legenda nas próximas eleições municipal, em 2012, e estadual, em 2014.
Henrique Alves durante entrevista com a TRIBUNA do NORTE.
O que vai caber ao PMDB no 2º turno da campanha de Dilma Rousseff?
Nós temos uma enorme responsabilidade porque o nosso compromisso com a campanha da ministra Dilma tem várias razões. Primeiro, o governo Lula, onde tivemos participação efetiva do PMDB, inclusive ocupando sete ministérios, portanto, tendo uma co-participação muito importante nas ações do governo. Nós somos governo Lula. E, como acreditamos que esse foi um dos melhores governos deste país, ele deve continuar. Então nós estamos envolvidos por estas razões de participação efetiva e coerência. E o vice da chapa é indicação do PMDB, nosso presidente nacional e o melhor que poderíamos oferecer. Então nós temos uma vontade muito grande de que o partido possa dar e demonstrar uma grande contribuição à vitória que ela terá, se Deus quiser, no 2º turno.
Houve insatisfação em realção ao primeiro turno pela centralização excessiva na coordenação petista da campanha?
Houve. E não foi só do PMDB, foi de todos os partidos da base aliada que tiveram pouco acesso. O PMDB ofereceu cinco minutos de televisão no programa eleitoral de dez minutos que a ministra Dilma tinha. Isso diariamente. E em toda a campanha não se ofereceu sequer um minuto da participação do PMDB, através do candidato a vice-presidente, do presidente nacional do partido, que poderia e deveria ter falado pelo menos aos militantes do PMDB, que é o maior partido do Brasil, com mais de 1.200 prefeitos, milhares de vereadores; maior partido em termos de bancada estadual, federal, governadores, ou seja, é um grande exército de militantes. Nem assim o nosso vice-presidente teve direito à participação. Isso é um exemplo claro e prático para mostrar que a campanha foi muito centralizada e se formou em torno da candidata uma blindagem desnecessária. Ela aparecia muitas vezes nem mais como candidata mas como presidente da República, tal o aparato em torno dela. Isso serve de lição. Eu acho que ela, como candidata, até que fez muito porque nunca disputou uma eleição e cumpriu o seu dever como melhor podia fazer. É tanto que chegou a 47% das intenções de votos, mas envolta dela se formou um núcleo de resistência. Outro exemplo de ordem prática é que que para que gravassem para Garibaldi, senador do Rio Grande do Norte, liderando todas as pesquisas, eu briguei quase 15 dias para conseguir a gravação, na qual a ministra Dilma pedia votos para Garibaldi. Enquanto isso, a ex-governadora Wilma, com todos os méritos, logo no início teve um apelo do presidente Lula; o candidato Hugo Manso com 7% teve um apelo da ministra Dilma. Isso mostra também a dificuldade de acesso. Tudo foi relatado à ministra Dilma. Algumas coisas ela nem sabia e determinou uma completa reformulação. E não é só em relação ao PMDB. PT não ganha sozinho e nem PMDB. Nós temos que buscar PR, PP, PT, PC do B, PDT, todos os partidos. Nessa hora não tem partidos grandes ou melhores.
De que forma esses partidos vão participar efetivamente da campanha da ex-ministra?
A coordenação da campanha antes era restrita há três ou quatro nomes, todos coincidentemente vinculados ao PT. Tudo bem que é um grande partido, é o partido da candidata e que merece o nosso respeito. Mas não pode ser sozinho coordenando uma campanha para a Presidência da República. O nosso companheiro Moreira Franco, por exemplo, se demitiu da vice-presidência da Caixa Econômica para ser nosso representante na coordenação. Só foi chamado nas três primeiras reuniões, depois nem chamado foi. Ele chegou a elaborar junto com um companheiro do PT um programa de governo só que não saiu do papel. Não conseguiu se viabilizar. Acho que foi um equívoco da campanha e acho que como ela disparou muito, chegando a 50%, achou que aquilo bastava. Mas provou que não bastava. Então essa lição todos nós aprendemos. Há uma parte de culpa nossa também porque, com a campanha nos estados, nós cobramos menos, deixamos de procurar mais, largamos um pouco, mas agora não. Todos nós estamos vendo os erros e agora sim, a campanha está muito melhor. A coordenação se ampliou, os partidos da base estão representados.
Há preocupação de que a centralização do primeiro turno demonstre um estilo que vai se refletir no governo, caso ela vença o pleito?
Não. Porque Lula, nos governos dele, sempre foi muito democrático e muito aberto. Quantas reuniões eu tive, como líder do PMDB, com o presidente Lula... Eu acho que a campanha é que cresceu muito e se achou que aquilo bastava. Mas agora não. Agora é ir para a rua, suar a camisa literalmente, percorrer dois ou três estados por dia, quebrar essa blindagem e ela ser o que Lula foi como candidato. E ela tem disposição para isso. Em volta dela se formou um cinturão onde eu acho que foi a falha, mas agora já corrigida. Há um clima de muita vontade, disposição e, se Deus quiser, teremos uma grande vitória porque estará em julgamento, também, um dos melhores governos que esse país já teve e que eu acho que merece um julgamento favorável do povo brasileiro.
Ainda há perspectiva de apoio de Marina Silva a Dilma Rousseff?
Eu acho que Marina está muito pressionada por todos os partidos. Todo mundo agora tem acesso à Marina, todo mundo agora é interlocutor junto à Marina. Eu imagino as pressões que ela deve estar sofrendo. Mas como ela é uma pessoa de muito bom senso, muito respeitável, equilibrada, eu tenho impressão de que ela vai liberar o seu partido e os seus eleitores para escolherem melhor. No segundo turno tem uma vantagem que permite mais o debate, torna a campanha mais profunda em cima do candidato, da sua história, do que ele propõe, as coisas boas, do que pode melhorar... Eu acho o segundo turno para a democracia muito interessante e salutar.
Como o senhor vai para o 11º mandato e será o parlamentar com mais mandatos na Câmara?
Ele tem uma marca para mim muito gratificante. Porque não é você conseguir mandatos sucessivos, se arrastando, a votação caindo e você quase se elegendo... Aí é uma marca muito gratificante. No momento que se questiona tanto os políticos, eu chego ao 11º mandato com a maior votação de todas as eleições. Até o 10º mandato a eleição que eu mais tive voto foi a 10ª e a partir do 11º a eleição que eu tive mais voto foi a 11ª, então isso mostra que eu cumpro meu dever, eu sei dos meus deveres, dos meus direitos como parlamentar, eu respeito o cidadão, respeito a confiança que o Estado deposita no meu trabalho. É tanto que a cada eleição eu tenho tido a renovação ampliada da confiança do povo do Rio Grande do Norte. Se isso me emociona muito também aumenta a responsabilidade de transformar isso em mais trabalho, mais resultado em cada mandato.
O PMDB passou a campanha dividido. Como será a relação do PMDB com o governo Rosalba Ciarlini?
Para mim foi uma eleição muito difícil. O partido não teve candidato próprio a governador, se dividiu, e ficou meio a meio. E é muito difícil chegar nos municípios e passar dez minutos do discurso explicando que tava ali e Garibaldi não estava, explicar as razões dele e as minhas... Isso já era uma situação constrangedora. E só não estar perto de Garibaldi me fez uma falta enorme. Eu não estava acostumado a fazer política sem Garibaldi. 40 anos com ele e isso não foi fácil superar. E mais, a campanha majoritária é a que dá estrutura de campanha. As movimentações da majoritária como como carreatas, os comícios se tornam regionais, e isso é bom para os candidatos. De um lado, Garibaldi com Rosalba e eu não podia estar. Do outro lado, eu comecei a estar com Iberê até uma declaração infeliz do candidato do PT, Hugo Manso, uma declaração gratuita contra Garibaldi que eu tive que reagir e me impossibilitou de ficar no mesmo palanque. Então de repente eu fiquei sem palanque majoritário de um lado e do outro. Então tive que falar sozinho a minha campanha sem ter do lado as estruturas majoritárias de campanha. Então foi outra dificuldade. Por isso que eu valorizo tanto a votação que tive. Praticamente quase 40 mil votos a mais que na anterior. Eu não tenho como agradecer todas as demonstrações de solidariedade, confiança e empenho... E eu espero trabalhar muito mais neste próximo mandato até porque nós temos imensos desafios a vencer a partir do próximo ano.
O senador Garibaldi disse que o PMDB pode indicar nomes para o secretariado (do governo Rosalba). Como está essa discussão?
Não é hora de discutir assuntos que podem gerar alguns constrangimentos e desentendimentos. Essa não é uma posição definida e nem consensual dentro do PMDB. Tem parlamentares que apoiaram Iberê. Dos 6 estaduais eleitos, 4 apoiaram Iberê. Essa não é uma condição consensual e nem é hora de discutir. Agora, independente disto, assim como fiz com a governadora Wilma, farei com Rosalba e o que ela precisar em favor do RN ela sabe que contará comigo onde eu estiver, ainda mais com Garibaldi como parceiro dela. Agora a posição do partido será discutido depois, democraticamente, respeitando os companheiros que apoiaram Iberê e Rosalba, nós faremos o que for melhor para o RN, respeitando as coerências e posições de cada um.
O fato de ter, de longe, elegido a maior bancada na Assembleia Legislativa, credencia o PMDB a indicar o nome do presidente da Casa?
O PMDB aumentou em 50% a sua bancada e será a maior com seis deputados. Mas esse assunto ficará restrito aos deputados estaduais. Eles que vão conduzir e eu não vou interferir nesse processo. Eles têm que ver o que é melhor para a bancada aqui na AL no dia a dia, na convivência com os outros partidos e parlamentares. Tem que ver também a posição importante do presidente Robinson, vai ser a sua sucessão e ele terá uma liderança importante na condução desse processo e eu acho que eles vão saber conduzir da melhor maneira possível para a Assembleia, que é um órgão, como o parlamento nacional, muito vigiado e muito questionado também e precisa mostrar cada vez melhor a participação do Poder Legislativo.
O nome do senhor surge como um dos mais possíveis sucessores para a Presidência da Câmara. Mas o fato do PT ter elegido a maior bancada atrapalha esse projeto?Nós tiramos esse assunto de pauta agora no segundo turno. Nós vamos levar para o segundo turno o que nos une e nos agrega. Tudo aquilo que nos divide, ou no Estado, ou em nível nacional, a gente deixou para um segundo, terceiro planos. Agora esse é meu sonho maior. Ser presidente de uma Casa onde estou há 40 anos... Imagine a minha realização como homem público, mas eu deixei para o segundo momento porque agora vamos nos concentrar todos, com toda a energia, para ganhar a eleição. Mas esse critério pontual não é o que, obrigatoriamente, deve prevalecer. Porque neste mandato que se encerra, o PMDB elegeu a maior bancada e fez com o PT um entendimento, e mesmo com a maior bancada ofereceu ao PT, que era a segunda bancada, a presidência da Câmara, quando elegeu Arlindo Chinaglia [deputado federal pelo PT/SP, presidente da Câmara em 2007/2008]. Ficou, à época, um entendimento que nos dois outros anos seria do PMDB, que foi o que aconteceu com Michel Temer (deputado federal pelo PMDB/SP, presidente da Câmara no biênio 2009/2010]. Então não foi critério deste último quadriênio e esse, certamente, não será o critério determinante. Mas isso nós vamos discutir posteriormente, até porque eu acho que quem for o presidente da Casa neste momento de resgate do poder legislativo, de recuperar as suas prerrogativas, devia ser um candidato de consenso da instituição e não um candidato de partido, de dois partidos ou de governo. Eu sonho com essa formulação. Mas vamos deixar para depois da eleição, que agora nós temos que ganhar a campanha, se Deus quiser.
O senhor defende que a ministra Dilma tenha dois palanques no RN, em face das divergências locais?
Não. Vai ser um palanque só, nós já nos reunimos ontem (quinta-feira) e já definimos isso para quando ela vier aqui ou o presidente Lula. Agora durante esse período que eles não vêm aqui eu propus, e foi aceito, a descentralização. Nós temos 167 cidades para andar e é muito melhor, em vez de ficar todo mundo indo para um canto só, ir cada partido e seus representantes para um lugar diferente para que possamos atingir o maior número de cidades e de eleitores. O PMDB, por exemplo, já está se organizando para a partir do dia 15 ou 16, fazer o seu roteiro em 15 dias, realizar um mutirão no Estado. Ontem, a deputada Sandra [Rosado, deputada federal] me ligou dizendo que queria participar com a deputada Larissa [Rosado, deputada estadual], e me parece que outros partidos aliados poderão participar nesta vertente.Há uma possibilidade de se abrir uma janela partidária em uma eventual reforma e a posição da governadora eleita sempre foi de uma oposição moderada ao presidente Lula.
Abrindo essa janela, o senhor acha que o PMDB pode ser uma possibilidade para ela?
Eu não diria isso. Primeiro o que nós temos que fazer é uma reforma política. Quem vier a ser o presidente da Câmara o item obrigatório, número 1, deve ser a reforma política. Nós não podemos mais enfrentar eleições no modelo que está, embora o eleitor mais consciente e a imprensa realize um trabalho de advertência, de convocação e conscientização. Mas o processo político provou, nesta eleição, ser muito confuso. Uma falta de coerência mais definida. Você chegava em um palanque e tinha um estadual que aprovava Iberê, o outro Rosalba, o outro Carlos Eduardo, e isso confunde muito a cabeça do eleitor. Tem que partir para o financiamento público e nós temos que fazer uma completa reformulação no processo político-eleitoral. Vamos ver se já que vai partir para uma reforma definitiva talvez antes seja interessante permitir que cada um fique onde quer ficar, já que hoje estão todos por sobrevivência, se acomodando nos partidos. Talvez em uma coisa verdadeira, clara e definitiva o primeiro passo seja dar liberdade para cada um se colocar ou por coerência ou ideologicamente. Então essa questão vai ficar para um segundo momento e a senadora Rosalba poderá definir com seus companheiros o que é melhor para sua vida política, partidária e eu acho que não é a hora de se pensar, nem de longe, nesse assunto.
Qual o maior desafio, na sua opinião, da próxima bancada federal do Rio Grande do Norte?
Eu já tenho vários desafios como deputado federal. Tenho várias brigas, no bom sentido, que eu vou comprar. Tenho várias bandeiras que eu vou assumir logo e espero já tratar desses assuntos, com Dilma eleita no segundo turno, logo na sua posse. Há vários desafios que não podem esperar. Primeiro a consolidação do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante. Eu tenho boas notícias. Eu estive com a Anarc anteontem (quarta-feira) e até o final do mês vai ser remetido para o Tribunal de Contas, para a finalização do modelo do edital, pós audiências públicas e consultas realizadas. O Tribunal de Contas tem dois meses para finalizar a sua análise, vamos tentar encurtar para um mês. Eu vou lá para dentro pedir aos ministros que, com todo o rigor e critério, se puderem agilizar o processo é do interesse do nosso Estado. Então acho que no mais tardar em janeiro esse edital está nas ruas. Eu acho que vai ser um RN antes e depois desse aeroporto. Uma obra de um bilhão de reais, que vai gerar 30 mil empregos, vai ser o aeroporto mais moderno do Brasil, de cargas e passageiros. Vai ser a porta de entrada e saída do mundo, que me desculpe São Paulo e Rio de Janeiro. Tem também as duas ZPEs de Assu e Macaíba, instrumentos econômicos importantíssimos para desenvolver o estado do ponto de vista econômico e industrial. Nós temos outra questão gravíssima que é o novo Porto para o Rio Grande do Norte. O que está aí está esgotado a sua capacidade. Nós estamos perdendo espaços para os Portos de Pecem e Suape, afetando, portanto, a economia do nosso Estado. Esse trânsito caótico de Natal não pode continuar e tem espaço para o metrô de superfície. Há um projeto já pronto, da ordem de 200 milhões de reais, que está engavetado, e nós temos que buscar porque esse trânsito tende a se agravar com o passar dos anos. Tem também a questão da Transposição do Rio São Francisco, que precisamos consolidar a sua segunda etapa, que vai entrar no nosso Estado. A duplicação da BR-304 já se impõe pelo risco que a BR hoje já proporciona pelo seu estreitamento. Então já são aí processos de grande monta de recursos, mas serão desafios imediatos que eu espero que não sejam só meu, mas da bancada, da governadora, do Rio Grande do Norte. Se Deus quiser eu espero contar para essas soluções com o vice-presidente Michel Temer que eu asseguro ao RN, se eleita a ministra Dilma, um braço direito em favor do nosso Estado.
O PMDB vislumbra disputar 2012 e 2014 com candidato próprio?
Nós aprendemos nessa eleição duas lições. A necessidade do partido ter em cada eleição sua cara, suas ideias, seus projetos, para ganhar ou perder, mas é sempre bom e um partido se revitaliza e cresce quando está presente. Eu acho que nós cometemos alguns erros no passado recente por não termos um candidato próprio do PMDB. Essa é uma questão que eu quero colocar no âmbito do partido, mas certamente eu acho que seria importante para um partido do tamanho do PMDB no Brasil e, hoje, no Estado, que ele pense nas eleições futuras em uma candidatura própria.O senhor já visualiza nomes?De jeito nenhum. Nem sei se essa tese é vitoriosa porque nós temos aliados nesta eleição que postulam. Nós temos candidaturas postas como a prefeita de Natal, que deve postular a sua reeleição. Temos o ex-prefeito Carlos Eduardo que nós sabemos postula também retornar à prefeitura de Natal. Temos a ex-governadora Wilma, que não sabemos se pensa nisso, e foi de partido aliado nesse processo. Então não vamos nem mexer nisso. Mas eu acho que o PMDB, que já cresceu tanto no Estado e tem uma posição hoje tão amadurecida e respeitada, precisa pensar nisso: Se quer ampliar e crescer para o futuro, deve disputar eleições majoritárias a partir do próximo pleito.