Não bastasse a situação econômica adversa, o governo Dilma parece enfrentar, no seu início, uma pororoca política. Os sintomas, na verdade, são de que a política tal e qual a conhecemos está à beira da implosão.
O PMDB é situação e oposição simultaneamente; no PT seus integrantes atiram-se uns aos outros à fogueira quando convém; o candidato a presidente do PSDB faz oposição cerrada o que a muito não se faz com tanta inteligencia, no DEM o sucesso é Ronaldo Caiado, o goiano é inteligente e sabe fazer oposição. O número de partidos políticos não para de aumentar (um ao ano, em média), embora 75% da população os rejeitem, um índice recorde segundo as pesquisas.
Difícil escapar à percepção de que algo está fora da ordem e que não diz respeito apenas às circunstâncias do momento.
O buraco é muito mais embaixo. Os primeiros sinais vieram das ruas, em junho de 2013, 2014 está se repetindo em 2015. Ficou evidente o fosso entre o que fazem, dizem e querem os políticos e as demandas da sociedade. Parecem que falam línguas diferentes. De lá para cá, o buraco não foi tapado. Se pontes foram construídas, está difícil de enxergá-las.
Neste cenário, o escândalo da Petrobras e a futura entrada em cena dos parlamentares citados nas delações premiadas (com provável julgamento no STF) pode ser o estopim da implosão. Para parte da oposição isto significará impeachment com seu estilo ausente, como se as tormentas não a deixa dormir e governar com negociações suspeitas.Petrobras(ela era a presidente do conselho), BNDS e outras muitas que a mídia está atenta.
Mas o terremoto pode ser mais significativo do que isso.
O exemplo internacional mais próximo a nos orientar sobre o que é a implosão de um sistema político é o que ocorreu na Itália. Me refiro à Operação Mãos Limpas — a devassa anticorrupção ocorrida nos anos 1990, quando promotores públicos conduziram investigações contra centenas de políticos, empresários, funcionários de governo e juízes. Vieram à tona, na Itália, desde as irregularidades existentes no financiamento dos partidos políticos ao relacionamento de governantes com a máfia.O resultado imediato dessa gigantesca crise política foi o desaparecimento dos principais partidos existentes à época, como a Democracia Cristã e o Comunista.
Passada a devassa nem a máfia nem a corrupção acabaram na Itália, mas essa é outra história.
Se vingar algo similar a isto no Brasil, será sem dúvida um terremoto político de largas proporções. Por este enredo, a crise terminaria em uma reforma política “de verdade” e num rearranjo de forças cujo alcance, no momento, só é possível vislumbrar como ficção. O cerco a Dilma e Lula está crescendo vertiginosamente. Não sabemos aonde vai dar, mais que vai, vai, quem for vivo verá.
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