quarta-feira, abril 27, 2011

Coleta de lixo em marcha lenta

Isaac Lira - repórter
A coleta de lixo de Natal e na Região Metropolitana corre o risco de ser seriamente prejudicada a partir de hoje. Os garis do Sindicato dos Empregados em Empresas de Asseio, Higienização e Limpeza do Rio Grande do Norte (Sindlimp/RN) pretendem vincular a coleta ao recebimento do lixo pelo Aterro Sanitário de Ceará-mirim. Como o aterro tem trabalhado abaixo da sua capacidade – por falta de pagamento, segundo a empresa administradora, a Braseco – o lixo deve ficar acumulado na frente das casas. “Só faremos a coleta quando houver onde destinar o lixo”, avisa o presidente do Sindlimp, Fernando Lucena. Ontem, o Sindicato realizou uma assembleia na Urbana, cujos garis são responsáveis pela coleta na zona Norte em conjunto com a empresa Trópicos, onde a diminuição da coleta ao mesmo nível do recebimento do lixo pela Braseco foi aprovada por unanimidade, segundo Lucena. Hoje, às 18h30, os garis das empresas Lider e Marquise, responsáveis pelo lixo do restante de Natal, serão ouvidos sobre essa questão. “Imaginamos obter o mesmo nível de aprovação. No restante da semana, faremos o mesmo trabalho nos municípios da Região Metropolitana”, promete o presidente do Sindicato. A diminuição da coleta ao mesmo nível do recebimento pelo aterro é a intensificação da crise pela qual passa o setor de limpeza urbana em Natal e cidades vizinhas. Segundo o que a administradora do Aterro Sanitário de Ceará-mirim alega, a “Operação tartaruga” se deve ao atraso no pagamento por parte da Prefeitura do Natal. Sem o pagamento não há como atender à demanda e também fica impossível expandir a capacidade do aterro. Fernando Lucena diz não entrar no mérito do problema. “Não quero saber quem é o causador. O que eu sei é que os trabalhadores e a sociedade são as vítimas”, diz. Para ele, não há mais Aterro Sanitário, mas um “lixão disfarçado”. “Os caminhões passam horas esperando. Na última segunda-feira, um caminhão ficou das 10h30 às 15h30 esperando. Ao invés de três carradas, conseguiu desaguar apenas uma. Onde essas duas outras carradas ficaram? Na rua”, reclama. Em outros momentos, os caminhões passam a noite com o lixo acumulado na caçamba, porque não deu tempo descarregar, tendo em vista que o Aterro limita os horários para receber o lixo. Isso aumenta o nível de insalubridade dos garis. A perspectiva do Sindlimp é fechar a estação de transbordo de Cidade Nova em 15 dias, caso o excedente de seis mil toneladas, segundo Lucena, não seja retirado. “A partir de agora, iremos radicalizar”, encerra. 00000000000000O diretor da Urbana, Sérgio Pinheiro, informou à TRIBUNA DO NORTE que não havia sido informado, ontem à noite, das pretensões do Sindlimp. “Até agora não fui informado de nada”, espantou-se. Por conta da falta de informação oficial, Pinheiro preferiu não se pronunciar oficialmente sobre o assunto. “Só posso falar quando houver uma comunicação oficial do Sindicato. O que é possível afirmar é que a Assessoria Jurídica da Urbana tomará a atitude cabível ao caso, caso necessário”, diz.O Ministério Público Estadual denunciou à Justiça a falta de controle na fiscalização da Urbana sobre as empresas prestadoras de serviço na coleta de lixo. O promotor do Meio Ambiente, João Batista Machado, afirma, na ação civil pública impetrada ontem, que a Urbana não fiscaliza o trabalho de caminhões de lixo e caçambas contratadas junto às empresas de forma eficiente, dando margem para várias irregularidades. Entre os fatos alegados pelo MPE está o recolhimento de lixo em terrenos baldios através de tratores. Durante o trabalho, os veículos recolhem, além do lixo, grandes quantidades de areia, causando um sobrepreço e um gasto acima do necessário. O diretor da Urbana, Sérgio Pinheiro, disse desconhecer os fatos relatados pelo promotor. João Batista pediu na ação a instalação de câmeras e o rastreamento dos caminhões.O Rio Grande do Norte não dá um destino adequado a 72,7% do lixo que produz. O dado preocupante foi divulgado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) no estudo “Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2010”. O panorama é publicado todos os anos desde 2003, com o detalhamento da coleta e tratamento do lixo no Brasil, incluindo os estados. O RN tem o segundo pior desempenho do Nordeste e o sétimo pior do Brasil, com uma performance significativamente abaixo do nível nacional.
De acordo com o diretor executivo da Abrelpe, Carlos Roberto Vieira, tratar adequadamente os resíduos sólidos é, na maior parte dos casos, levar a um aterro sanitário com licença e controle ambiental fiscalizados pelos órgãos competentes. Há casos de municípios que destinam o seu lixo para aterros “não-oficiais”, sem controle ambiental algum. Nas demais situações, os resíduos são jogados nos lixões. “Destinar os resíduos corretamente é colocá-lo num aterro, que é uma obra de engenharia com capacidade de armazenar o lixo sem perigos de contaminação do ar, do solo, da água. As outras formas de destinação são passíveis de contaminação”, diz.Nesse contexto, a média do Brasil é de tratar adequadamente 56,7% do lixo produzido, enquanto o RN trabalha de forma correta apenas 27,3% daquilo que gera. Em ambos os casos, os números significam uma pequena evolução comparando-se com 2009. O RN, por exemplo, tratou 1,2% a mais em aterros sanitários em 2010, com relação ao ano passado. Contudo, a geração de lixo no total cresceu 12,6% em todo o Estado. Resultado: o aumento da destinação adequada não acompanhou o aumento de resíduos produzido e, por isso, há mais lixo despejado em locais impróprios.A situação do Estado, nesse ponto, se repete no restante do país. “Tivemos uma evolução discreta contra um aumento de 23 milhões de toneladas de lixo. Então, uma coisa não compensou a outra, além de que a coleta seletiva e a reciclagem são pequenas e estão estagnadas. Não estamos avançando”, relata Carlos Roberto Vieira. Contudo, a tendência a partir de agora é o aumento da responsabilização de estados e municípios pelo destino do lixo. O Plano Nacional de Tratamento de Resíduos Sólidos deve ser viabilizado até julho desse ano. O objetivo é impedir a proliferação de casos como no RN, com toneladas de lixo despejadas sem nenhum cuidado.



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