quinta-feira, junho 21, 2012

'Lula deve ter percebido o fora que ele deu', afirma Erundina

Mariana OliveiraDo G1, em Brasília
A deputada Luiza Erundina (PSB-SP) afirmou nesta quarta (20), em Brasília, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu um "fora" ao negociar uma aliança eleitoral com o PP e ao se deixar fotografar cumprimentando o deputado federal Paulo Maluf (PP-SP), presidente estadual do partido em São Paulo.
Erundina desistiu de disputar a eleição municipal como vice de Fernando Haddad, pré-candidato do PT, devido ao acordo com Maluf, de quem é rival. Na última segunda, Lula e Haddad participaram de um almoço com Maluf e posaram para fotógrafos e cinegrafistas nos jardins da casa do deputado.
"O Lula é sensitivo, tem sensibilidade, é intuitivo. Nessas alturas, ele já deve ter lido o que falei. Com certeza, Lula já deve ter percebido o fora que ele deu [ao fazer fotos com Maluf]", afirmou a deputada. A assessoria do ex-presidente afirmou que ele não vai comentar as declarações da deputada.
A deputada Luiza Erundina (PSB-SP) caminha na esteira rolante do anexo 4 da Câmara (Foto: André Dusek / Agência Estado)A deputada Luiza Erundina (PSB-SP) nesta quarta, na esteira rolante do anexo 4 da Câmara dos Deputados (Foto: André Dusek / Agência Estado)
Apesar da crítica, ela disse que não pode "responsabilizar" o ex-presidente pela aliança com Maluf. "Não posso responsabilizar o ex-presidente pela sua posição. Ele deve ter sua razões. Não quero julgar. Mas o fato em si [foto com Maluf] contribuiu para a minha decisão."
Erundina disse que o PT cedeu à "exigência" de Maluf de uma aparição pública ao lado de Lula.
"Ele [Maluf] fez um cálculo. Exigiu que Lula fosse lá. Isso foi o que eu li. Já acho absurso, osso duro de roer, eventualmente ter que tê-lo na coligação. Acho que não tinha... um minuto na TV, o tempo que fosse, não justifica. É preço alto que se paga. Ainda por cima ceder a essa exigência", declarou em entrevista nesta quarta.
Apesar disso, a  deputada negou que a principal motivação da decisão dela tenha sido a "forma" pela qual a aliança foi apresentada. Para ela, Maluf tenta se "higienizar" ao aparecer ao lado de Lula.
"Não é a forma. É a posição dessa força dentro da campanha. Ele [Maluf] mesmo está dizendo: 'Olha, eu vou aparecer na campanha eleitoral'. Ele que está dizendo. Ele quer aparecer com outra imagem, que não é aquela de que está sendo procurado pela Interpol. Ele se higieniza", declarou.
Erundina disse que, quando aceitou ser vice, ninguém havia falado sobre aliança com PP ou Maluf.
"Domingo à noite eu estive com o candidato. Longas horas, muita reflexão política. Eu manifestei a ele a inconveniência dessa aliança, e ele me disse que não tinha nada de concreto. [...] Ele [Haddad] minimizou a importância dessa aliança e não colocou nada que pudesse concretizar o que se comprovou [aliança do PT com Maluf]."
Segundo Erundina, ela e Maluf são "óleo e água". "Não é questão pessoal. É questão política. Ele é muito expansivo, até demais. Ele tenta passar sempre intimidade. Eu convivo bem com a figura. Agora, politicamente, é um desastre", declarou.
A deputada também apontou como outro motivo para ter deixado a candidatura a vice na chapa de Haddad as relações de Maluf com o regime militar.
Um minuto na TV, o tempo que fosse, não justifica. É preço alto que se paga. Ainda por cima ceder a essa exigência [foto com Maluf]"
Deputada Luiza Erundina (PSB-SP)
"Num momento em que estamos buscando a verdade sobre crimes da ditadura militar, fazer justiça ao período em que essa figura [Maluf] foi figura de ponta na ostentação desse regime e construiu cemitérios para desovas de corpos de militantes de esquerda... [...] O cemitério [de Perus, em São Paulo] foi construído, e Maluf teve responsabilidade, ajudando a ditadura militar a esconder seus crimes. Conviver com essa pessoa não dá. Muito menos fazer política com ele", afirmou.
G1 fez contato com a assessoria do deputado Paulo Maluf e aguarda resposta.
Campanha de Haddad
Erundina afirmou que, embora tenha decidido retirar o nome da chapa, ajudará na campanha de Fernando Haddad.

"Com certeza não aparecerei junto com Maluf, mas estarei na campanha. [...] Me colocarei à disposição de meu partido para uma agenda que não deve ter o constrangimento de encontrar com essa pessoa."
Questionada se não haveria incoerência no apoio a Haddad em uma aliança na qual estará Maluf, ela disse que isso seria "valorizar muito a presença dele" no projeto.

Luiza Erundina disse quer que Maluf também vai pleitear espaço no governo, "Não quer só aparecer junto, mas vai querer ter poder real na gestão pública. Isso é mais um inconveniente. É uma das razões pelas quais não dá para aceitar a aliança com essa força. Reforça ainda mais a inconveniência de se aliar a essa força."

'Não serei nunca neutra'
A deputada afirmou que, ao recuar do posto de vice, não optou pela neutralidade, porque "a neutralidade sempre serve a alguém". "Não serei nunca neutra nem omissa na política."

Disse ainda que não poderia optar por apoiar outro candidato que não Haddad. "Não tem nenhum candidato que mereça - desculpa, mereça é muita pretensão - que me identifique.
"

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