Edilson Braga
edilsonbraga.rn@dabr.com.br
Sérgio Henrique Santos
sergiohenrique.rn@dabr.com.br
Menos de três meses após a formação do Conselho Político do governo Rosalba Ciarlini (DEM) como uma forma de tentar contornar a crise administrativa da gestão estadual, o grupo "se dissolveu por inanição". A revelação é do deputado federal e líder nacional do PMDB, Henrique Eduardo Alves, durante entrevista a O Poti/Diário de Natal em seu apartamento, na cobertura de um edifício residencial na Ladeira do Sol, em Natal. O conselho era formado pelo próprio Henrique, pelo ministro da Previdência, Garibaldi Alves Filho (PMDB), o presidente nacional do DEM, José Agripino Maia, além da própria governadora e do marido dela, o ex-deputado Carlos Augusto Rosado (DEM). "Foram só duas ou três reuniões" em Brasília (DF). Apesar de ser aliado do governo, Henrique criticou a gestão Rosalba por falta de "melhor coordenação política", falou sobre as eleições de outubro e as candidaturas próprias do PMDB à prefeitura do Natal e de outros 97 municípios do Rio Grande do Norte. "Independentemente de quem ganhe, Natal tem bonscandidatos: um ex-prefeito como Carlos Eduardo com uma ex-governadora na chapa, e deputados capacitados como Hermano Morais, Rogério Marinho e Fernando Mineiro". Ele também comentou que os natalenses ainda estão desinteressados no pleito eleitoral, e que aguarda o crescimento nas pesquisas do candidato peemedebista ao Palácio Felipe Camarão. Em nível nacional, Henrique comentou seu objetivo de ser presidente da Câmara Federal, opinou que o mensalão é um alerta às más práticas políticas e eleitoreiras e comentou sobre a aliança com o governo Dilma Rousseff (PT), que pretende apoiar em 2014. Para 2018, a ideia é que o PMDB tenha candidato a Presidente da República. O deputado também falou sobre sua história política de mais de 40 anos, e sobre as críticas feitas na imprensa à ética fisiologista do PMDB. "Temos lealdade e coerência. Respeitamos as propostas e os nossos adversários", jurou. Confira a entrevista completa.
Foto: Fábio Cortez/DN/D.A Press |
DN: Como o PMDB se preparou para as eleições municipais deste ano? Tem candidatos próprios em quantos municípios?
Henrique Eduardo: O PMDB se articula para ser sempre o maior partido do país há muitos anos. Por sua base municipal, por sua liderança municipalista, pela militância em cada cidade nesse Brasil, e esperamos repetir esse feito no pleito de 2012. Hoje são 1.250 prefeitos do PMDB, mas como surgiram outros partidos e dividiram o bolo eleitoral, o partido espera uma base de mil prefeitos. Aqui no Rio Grande do Norte o PMDB tem hoje candidaturas próprias em 98 cidades, das 167. O segundo partido a disputar com mais candidaturas próprias é o DEM, com 49. Ou seja, a metade do PMDB. Isso mostra a base enraizada e a raiz muito forte do PMDB.
Na eleição presidencial, o PMDB sempre participa como coadjuvante. Por que o partido não aparece mais com a força que tinha antigamente?
Esse é um erro que nós temos que assumir. Temos grandes lideranças regionais como o [Roberto] Requião (PR), Sérgio Cabral (RJ), Jarbas Vasconcelos (PE). Importantes nomes regionais, lideranças que comandam estados importantes do país, mas eles próprios não procuram fazer interação com outras regiões ou em outros estados. Eles se acomodam em seus estados, no máximo em suas regiões e deixam de fazer melhor inter-relação que os tornem nomes nacionais. Esse talvez tenha sido um dos erros do PMDB para se preparar para uma eleição nacional. Precisamos fazer com que esses nomes fortíssimos possam construir, a médio prazo, uma candidatura presidencial. No momento temos um projeto com Michel Temer, que ocupa a vice-presidência do país. Ou seja, para 2014, já temos compromisso com a candidatura Dilma Rousseff para presidente e Michel, para vice. Se estamos ajudando a dar certo, é natural que caminhemos juntos em 2014. A médio prazo, pensamos em uma alternativa presidencial com a bandeira do PMDB.
A imagem que o partido angariou durante todos os anos, a política do 'toma lá, dá cá', prejudicou o PMDB?
Não. As pessoas têm uma visão distorcida do PMDB. A principal característica do PMDB é o seu equilíbrio. Hoje, no Brasil, alguns partidos não dialogam com outros partidos. Alguns partidos não conversam com o PT, outros não conversam com o PSDB, certos antagonismos que impedem uma relação entre eles. Com o PMDB não: todos conversam com o PMDB. Temos diálogo aberto com todos. O partido se construiu no eixo do equuilíbrio da política nacional. Por isso tem papel preponderante nos governos que se formam. O PMDB tem a segunda maior bancada na Câmara, a maior bancada no Senado, ou seja, o eixo da condução política do Brasil passa por essa força que o partido exerce.
Qual é a ética do PMDB?
A ética do PMDB é a ética da lealdade, da coerência, da tradição política pautada nos princípios de homens como Ulysses Guimarães e Tancredo Neves. Sempre coerente nas suas propostas, na sua história e nos seus objetivos. A lealdade está no trato com seus companheiros e no respeito aos adversários. Por isso ele tem esse imenso prestígio nacional que não é apenas localizado no Sul, no Nordeste e em alguns grotões, mas está capilarizada por todo o Brasil.
Por que, então, a grande mídia diz exatamente o contrário? Que o PMDB não tem ética, só negocia e não se interessa pelos problemas do país e só visa cargos?
Não se atira pedras em árvores que não dão frutos. Isso acontece pela força do PMDB. O partido mostrou isso ao longo do tempo. Fez isso especialmente no combate à ditadura, que inclusive permitiu a liberdade de imprensa. A liberdade que aqui e acolá é injusta com o PMDB. Ela existe porque foi uma luta nossa, luta histórica. Ao longo do tempo, o partido tem enfrentado forças políticas várias, e isso gera antagonismos, que tem vertentes na imprensa brasileira e nas pessoas que têm a liberdade de julgar. Mas isso não prospera porque, se tudo fosse verdade, o partido tenderia a se deteriorar, a se desgastar. Mas pelo contrário. Talvez hoje o PMDB viva um dos melhores momentos da sua história. Temos o Vice-presidente da República, a segunda maior bancada da Câmara, a maior bancada do Senado e, portanto, do Congresso Nacional, um número expressivo de governadores, de vereadores, prefeitos e deputados estaduais. Com tantos anos de vida pública exposta, corajosa e ousada, não manteria esse patamar se não tivesse dentro dele muita coerência, muito respeito e muita ética.
Foto: Fábio Cortez/DN/D.A Press |
Depois de mais de 40 anos na Câmara Federal, chegou a hora e a vez do senhor ser presidente do Legislativo?
Vocês devem imaginar a minha emoção em conseguir alcançar esse objetivo. São 42 anos naquela Casa, que é minha casa, onde eu vivo a maior parte das minhas horas, dos meus dias, de minhas alegrias e de minhas frustrações também, que fazem parte do jogo político. Seria uma grande realização se eu chegasse a presidi-la. Até pela experiência que eu tenho, compromisso com o Parlamento, pelo Poder Legislativo, conheço profundamente. Suas qualidades, seus defeitos. Acho que poderia dar uma grande contribuição, mas não depende só de minha vontade, mas de uma grande costura que há de se fazer com todos os partidos. Você tem que convencer. É uma eleição difícil. Os eleitores são deputados, portanto, muito qualificados. Muito exigentes, conhecem a Casa e suas demandas. Mas eu acredito que está próximo esse momento. Já temos uma aliança com o PT, que inaugurou o entendimento entre as duasmaiores bancadas na presidência com o Arlindo Chinaglia (PT), quando se elegeu presidente com apoio do PMDB. Depois, fruto desse entendimento, se elegeram Michel Temer (PMDB) e Marco Maia (PT), o atual presidente. Agora, pelo entendimento entre PT e PMDB, seria a vez do PMDB ocupar a presidência. Eu vou buscar o consenso naquela Casa. Acho que está na hora da Câmara assuma seu papel de Parlamento, corajoso, ousado e independente. Um Parlamento que seja de todos os partidos, de todas as bancadas, que seu compromisso seja para a dignidade e a coerência interna, e também externamente mais aberta, mais transparente. Espero que eu consiga realizar esse meu sonho.
Existe alguma disputa interna no PMDB para sugerir outro nome?
Não. Meu nome é consenso. Sem nenhuma presunção, mas é uma constatação. Se nos reuníssemos hoje, teríamos a unanimidade. Me elegi líder do PMDB em 2007 e, na hora em que me elegi, propuseram um rodízio de um ano de gestão de cada líder. É natural que todos quisessem ser líderes. Mas como fuiaprovado, me reelegi em 2008, 2009, 2010, 2011 e 2012 sem disputa. Consegui construir na bancada uma unidade, respeito muito grande, e a experiência ajudou, e isso vai se caracterizar na eleição do presidente em outubro, que também será uma bandeira importante para o Rio Grande do Norte.
Qual sua análise sobre o mensalão? Quais os prejuízos que trouxe ao país?
O Supremo [Tribunal Federal] é quem vai decidir. Essa discussão acontece numa hora importante. O Brasil vive momentos novos na política e na economia. Independentemente de quem seja culpado ou inocente, a simples discursão já é um alerta à formação de novos métodos e processos na política brasileira.
Esses novos métodos passam pelo esquecimento da prática do Caixa 2?
Acho que a questão do Caixa 2 precisa ser discutida. A lei que está aí está completamente exaurida. Embora tenha melhorado a fiscalização, superando as distorções do processo eleitoral, mas eu acho que ainda precisamos de uma lei eleitoral mais clara sobre o que é ou não legal e permitido ou exagero ou desvio. Precisamos de uma reforma política, que já vem sendo tentada há muitos anos. Defendo que a reforma seja pensada para duas eleições adiante, seria um primeiro passo. Não se consegue fazer uma reforma com o Parlamento atual porque distorce e desqualifica a discussão. Precisamos escolher, dentro do Parlamento, um número determinado de parlamentares que, durante um ano, possa se dedicar à reforma política e propor mudanças para o processo eleitoral duas eleições seguintes. Ouvir a sociedade, os setores envolvidos e fazer uma boa proposta. Isso permearia as atividades para as próximas eleições. Está muito difícil o processo eleitoral na atualidade. Muitos candidatos estão com candidaturas impugnadas, o processo em si está conturbado.
Esse já é um plano de uma possível gestão sua na presidência da Câmara?
É uma ideia que a gente poderá discutir com os partidos. É necessária uma reforma política eleitoral. A médio prazo, os resultados seriam alcançados.
Nessa discussão do processo do mensalão, qual o papel da imprensa? Fazer pressão sobre o Supremo?
Eu não diria pressionar, mas mobilizar. Precisamos discutir o método que se acusa, se denuncia e se prova. A mobilização deu uma consciência melhor ao Brasil. Do que pode acontecer, do que não deve acontecer. Um alerta, um sinal amarelo às práticas políticas e eleitorais, para que as pessoas percebam que essas práticas estão mudando.
Com relação à eleição municipal, qual a avaliação que o senhor faz do candidato do PMDB a prefeito de Natal?
Primeiro é preciso fazer um mea-culpa. Por 20 anos deixamos de disputar a eleição em Natal. Fizemos composições e coligações legítimas, mas não lançamos candidatos próprios. Por isso insistimos agora em lançar candidato e mostrar, no primeiro turno, a sua cara, suas ideias, suas propostas para Natal. É isso o que mobiliza a militância. Encontramos um candidato de qualificação super ficha limpa de Hermano Morais. Ele tem quatro mandatos de vereador, um de deputado estadual e nunca se leu, ouviu falar de qualquer rasura ou ato que tisnace a conduta ética, política, profissional e até pessoal do deputado Hermano Morais. Essa preliminar ele já preenche para ser prefeito da cidade do Natal. Além disso, conhece a cidade. Vive o dia a dia da cidade. Ele também tem consciência de que os problemas não se resolvem sozinho. A cidade está, há muitos anos, sem ordenamento de suas dificuldades, saneamento, mobilidade, trânsito, novas perspectivas de vida para o cidadão. Isso vem se acumulando. Precisamos de um candidato que saiba que com o orçamento da prefeitura não vai conseguir realizar. Nem adianta prometer, e sim buscar parcerias: o governo do estado, o governo federal. Hermano terá um grande apoio lá em Brasília, e aqui também, da governadora Rosalba. Precisamos fazer a mesma conjunção que existe em outros estados e suas capitais, como no Rio de Janeiro, com Eduardo Paes e Sérgio Cabral [respectivamente prefeito e governador do RJ] com o governo dos presidentes Lula e Dilma. Somar esforços para fazer um resgate da qualidade de vida do povo de Natal.
O candidato Hermano Morais ataca alguns adversários. É uma postura orientada pelo partido?
Não é ataque, e sim afirmação. Deixar uma posição clara. Ele está partindo para uma verdade explícita e verdadeira. Ousada. Ele está deixando claro para o povo de Natal o prefeito que ele vai ser. Não é hora de agradar, mas de mostrar verdades.
O senhor acha que ele tem condições de levar a eleição para o segundo turno?
Não tenho dúvidas. Em várias cidades brasileiras os eleitores estão desinteressados na eleição. Pesquisas indicam que o percentual de desinteresse pela eleição chega a 60% em algumas capitais, como Salvador. As pessoas relacionam os nomes dos candidatos quando tem alguma referência, um parente próximo, um cargo comissionado na prefeitura, enfim, acho que as pessoas só começarão a ter o foco na eleição a partir do programa eleitoral no rádio e na televisão. Em todo o país, a eleição está indefinida, e em Natal não é diferente. No programa eleitoral, as pessoas vão identificar,em suas casas, qual o candidato é melhor para sua cidade.
Todas as pesquisas têm dado o candidato do PDT, Carlos Eduardo Alves, sempre com mais de 40% da preferência. Mesmo assim o senhor ainda acredita na vitória de Hermano?
Essas pesquisas revelam, mas não se divulga, que mais de 50% dos eleitores ainda estão indecisos. Esse percentual representa aqueles que já escolheram candidatos. E quando a gente busca na preferência, as pessoas tendem a lembrar que ele [Carlos Eduardo] foi prefeito por seis anos, e sua candidata a vice [a ex-governadora Wilma de Faria esteve no poder por doze anos. É um recall muito grande, que justifica a referência inicial. Eu desafio quem estiver lendo essa entrevista a fazer uma pesquisa na sua rua, se o vizinho já tem candidato. Sessenta por cento não terá escolha. Aí quando surgirem os nomes, vem a lembrança de quem foi e a pessoa vai dizer um nome. Estamos numa fase aguda em que as pessoas estão preocupadas com os problemas que vivem hoje. A situação é crítica na saúde, a educação é questionada, há insegurança pública, a mobilidade está ruim. Quando chegar próximo à eleição, as pessoas vão querer saber quem vai mudar sua vida no momento atual. Natal tem cinco bons candidatos pelo menos experientes. Temos um ex-prefeito que tem como vice uma ex-governadora, deputados da qualidade do [Fernando] Mineiro, Rogério Marinho e Hermano Morais.
O PMDB apoia, num cenário estadual, a administração da governadora Rosalba Ciarlini Como justificar a rejeição tão alta dela com menos de dois anos de gestão?
O governo tem enfrentado grandes dificuldades herdadas do governo passado, conforme ela revela. Mas já está em tempo de mostrar realizações que ela espera efetivar no segundo semestre. Apesar das dificuldades, acho que falta uma melhor coordenação política ao governo, que faça uma edificação melhor de sua base, inclusive com mais entendimento onde nós possamos ajudar. O PMDB está disposto a isso.
O Conselho Político do Governo não tem atuado para melhorar a administração?
Se formou com essaintenção, discutir e propor soluções. Houve duas ou três reuniões iniciais e não mais foi chamado. Era uma boa intenção, mas eu lamento. Acho que era um caminho sério. Tínhamos dois ex-governadores experientes, Agripino e Garibaldi, entre outros. O conselho se dissolveu na prática no momento em que se forma e não se reúne de forma ordenada. Se dissolveu por inanição. Não deram a ele a devida importância e a sua proposta.
Como o PMDB tem ajudado a melhorar a saúde no Rio Grande do Norte, tendo em vista que essa é uma das principais críticas à administração estadual?
Ocorre em todo o país, não apenas aqui no Rio Grande do Norte. Não me lembro de nenhuma campanha em que o calcanhar de Aquiles não tenha sido a saúde, com todas as suas demandas reprimidas. É assim em Brasília, São Paulo, na Paraíba. O governo federal tem feito tudo que é possível, mas não é apenas um problema de gestão, mas de recursos. Há uma demanda por verbas muito grande. É um grande problema do Brasil. A vertente saúde, educação e segurançamerece uma discussão permanente. Mesmo em calamidade pública aqui no estado, é muito difícil resolver. Temos tentado atuar, em Brasília, junto ao ministro [da Saúde, Alexandre] Padilha, que viabilizou recursos em relação ao Hospital Walfredo Gurgel, que tem demanda maior, mas a parceria tem que se estreitar e aprofundar cada vez mais. Temos sido interlocutores, junto com toda a bancada federal. A questão é apresentar bons projetos e apresentá-los. Além disso, termos uma bancada unida. Com a união para pleitear reivindicações, se consegue mais respeito. No caso da nossa bancada, a eleição nos divide, mas passada a campanha, precisamos nos reunir de novo e juntar forças, independentemente de partido. A unidade política é muito importante para o nosso estado. União não apenas nas fotografias, mas na prática. Questões como um novo Porto de Natal, a mobilidade da Copa que está ameaçada, criar ferrovias. Todos são projetos importantes para nosso estado. Temos bons senadores e deputados, além de um ministro respeitado como Garibaldi Alves [Previdência].
Com uma bancada tão qualificada, porque o RN sempre vê Pernambuco e Ceará saindo na frente nos grandes projetos?
É um bom momento, mas não dá para todos. Por isso precisamos nos fortalecer. Na luta de prioridades, os menores acabam com prejuízos. Além de Pernambuco e do Ceará, que você citou, a Bahia também recebe muita verba federal. Defendo que a classe política precisa estar unida. Todos empenhados em viabilizar bons projetos, mesmo com as divergências eleitorais. Essa é a hora do RN.
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