Pesquisas ainda engatinham
U
m dos mais festejado programas educacionais do Governo Federal – o Ciência Sem Fronteiras – pode demostrar o vácuo existente no Brasil na formação de mão de obra e desenvolvimento de pesquisa para a área de energias renováveis. Dados publicados no site do programa revelam que das mais de 50 mil bolsas de graduação e pós-graduação que já foram liberadas para estudantes universitários, apenas 1,2% (630 bolsas) são para pesquisas nessa área.
Quando se analisa esses dados levando em consideração os estados com maior potencial para a indústria de eólica, a situação é ainda mais preocupante. O Rio Grande do Norte, por exemplo, se reveza com o Ceará na liderança de produção desse tipo de energia, mas não conta com potencial parecido no ranking dos que mais pesquisam o setor. Das 630 bolsas distribuídas para a área no País, apenas sete (7) foram para estudantes potiguares. Isso representam menos de 0,6% do total de bolsas distribuídas nas universidades potiguares.
O professor Wilson da Mata acredita que essa falta de sintonia entre mercado e pesquisa tende a diminuir na área de energias, especialmente em eólica. Ele explica, inclusive, que será estudada a necessidade de criação de um novo curso de graduação específico para energias renováveis na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. O objetivo seria, não só formar especialistas no setor, mas estimular a iniciação científica.
A preocupação inicial, segundo o professor, será o de fortalecer as disciplinas da área dentro dos demais cursos de engenharia para tentar atrair mais estudantes para o setor. “Mas se isso atrapalhar o desenvolvimento das pesquisas e formação de especialistas aguardados para o setor, vamos requerer a criação do novo curso. A graduação é a porta de entrada para a pesquisa e formação de mão de obra qualificada”, explicou.
O Ciência Sem Fronteiras foi implantado em 2011 e tem como objetivo oportunizar que estudantes de graduação e pós-graduação de universidades publicas brasileiras tenham experiências de formação e pesquisa em diversas escolas do mundo. A área tecnológica – o gargalo do desenvolvimento industrial do País – é desde sempre uma das prioridades do programa que lista entre as suas cinco missões a de “ampliar o conhecimento inovador de pessoal das indústrias tecnológicas”.
A pós-doutora em Tecnologia Ambiental e professora da UFPE, Maria do Carmo Martins Sobral, lembra que a importância do programa vai muito além da formação de pesquisadores. Ela destaca o papel fundamental da experiência para a “capacitação internacional dos docentes, garantindo a consolidação e a expansão da ciência e tecnologia, da inovação em áreas prioritárias”, completa.
RN terá centro de inovação
O
Rio Grande do Norte será o centro de pesquisa e inovação na área de energias renováveis no Brasil. Esse é o objetivo do Instituto Senai de Inovação – Energias Renováveis (ISI-ER) que, depois de passar dois anos engavetado, está saindo do papel. O projeto está sendo orientado por duas consultorias internacionais: Fraunhofer (Alemanha) e MIT (EUA).
A expectativa é que até o final de julho próximo seja firmado financiamento com o BNDES para liberação dos R$ 27 milhões necessários para a construção do prédio de 4 mil metros quadrados de área e aquisição dos equipamentos dos primeiros laboratórios.
O diretor do ISI-ER, o doutor em energia e professor aposentado da UFRN, Wilson da Mata, explica que o objetivo principal do projeto é intermediar a relação entre indústria e pesquisa visando otimizar e acelerar soluções para o desenvolvimento do setor no Brasil. “Vamos encurtar a distância entre o que o Brasil precisa e o que existe. Assim, podemos acelerar o desenvolvimento industrial do País”.
O ISI-ER faz parte do programa de Melhoria da Competitividade implantado pelo Senai. A intenção é implantar 25 estruturas semelhantes em diversos estados brasileiros para alavancar e ultrapassar os gargalos que impedem maior celeridade de crescimento do setor produtivo do País. O do RN, que será instalado na Escola Agrícola de Jundiaí, através da parceria entre a Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (que administra o 'Sistema S' no Estado) e a UFRN, é o único do país com foco em energias renováveis.
O presidente da Fiern, Amaro Sales, ressalta que os ISIs visam, em especial, desenvolvimento de pesquisa aplicada para setores pré-competitivos a partir de uma atuação como elo entre instituições de pesquisa e o setor produtivo. “Para isso, esses institutos assumirão participação ativa em fases intermediárias do desenvolvimento de inovações, principalmente na validação tecnológica do conhecimento gerado em instituições de pesquisa, no desenvolvimento de protótipos e na definição de produtos. Serão centros de excelência, dotados do que há de mais moderno no mundo e se posicionarão como referência nas suas áreas de atuação", detalha.
A implantação será feita em 30 meses, após assinatura do contrato. O projeto prevê um quadro fixo de 20 pesquisadores da área de energia, com ênfase para o setor eólico e solar.
“Vamos contribuir para a atração de empresas e indústrias que possam consolidar uma cadeia produtiva em volta – inicialmente – da energia eólica, e em um segundo momento, da solar e demais energias”, explica o diretor do ISI-ER.
A falta de especialistas na área de energia é apontado como um gargalo para a consolidação do projeto, mas Wilson da Mata argumenta que já há uma estratégia para vencer o problema. Em paralelo à construção, a equipe do ISI-ER vai fomentar a expansão da pesquisa em energias renováveis na UFRN e outras universidades do País para atrair e extrair desses grupos os nomes que formarão o 'time' de pesquisadores fixos da instituição. “Também não descartamos a captação de pesquisadores de outros países que tenham maior experiência no setor. Mas, em cinco ou 10 anos seremos um instituto de médio porte e auto suficiente em pesquisa e formação. Essa é a nossa meta”, concluiu o diretor.