ualificação, requalificação, especialização... Essas palavras estão entre as mais citadas, hoje, em qualquer discussão que envolva a expansão e implantação de projetos de energia eólica no Brasil. O desafio é grande: o mercado sofre com a falta de pessoal qualificado para desenvolver os projetos e a academia e institutos de formação de mão de obra tentam se adaptar para garantir quantidade e qualidade no ensino nessa área nova e ainda pouco explorada no Brasil.
“Na verdade, temos que reconhecer... é uma área muito nova. Mas, tenho certeza que a academia vai dar a resposta esperada ao mercado”, diz o professor aposentado da UFRN, Wilson da Mata, que agora trabalha com o desafio de implantar no Rio Grande do Norte o Instituto Senai de Inovação – Energias Renováveis, que será o único entre os 25 que estão sendo criados pelo 'Sistema S' para desenvolver pesquisas e impulsionar a formação de mão de obra especializada para o setor. “Há um fosso entre as áreas acadêmicas e a indústria em geral no Brasil. Mas vamos trabalhar forte para encurtar essas distâncias e ajudar a formar o profissional e pesquisador que o setor merece”, afirma, otimista.
A expansão acadêmica voltada para a área de energias renováveis está longe de acompanhar a dinâmica do setor no Brasil. Hoje, segundo dados do site do Ministério da Educação, há apenas 12 cursos de graduação específicos para a área de energia eólica. Maria do Carmo Martins Sobral, pós-doutora em Tecnologia Ambiental, professora da UFPE e membro da Capes, reconhece o desafio da academia para atender essa demanda de profissionais e afirma que “as ações ainda têm se restringido às áreas das engenharias”.
Wilson da Mata ressalta que as mudanças curriculares de universidades não ocorrem na mesma velocidade que as transformações do mercado. “É assim em qualquer área... Educação não é uma produção em série. Mas, o importante é que a academia consiga acelerar a resposta para os setores importantes da economia. E esse processo - para as energias renováveis - tende a acelerar muito de agora em diante”, argumenta ele, que foi um dos responsáveis pela implantação do curso de Engenharia do Petróleo, dentro da UFRN. O professor, que também é engenheiro aposentado da Petrobras, compara a preparação da academia para atender a demanda das eólicas à que ocorreu para a indústria do petróleo entre os anos 80 e 90.
Esse descompasso entre a velocidade de crescimento econômico e qualificação de especialistas não chega a impedir o desenvolvimento da industria eólica, mas atrasa e encarece projetos. O diretor executivo da BioConsultants, Hugo Alexandre, afirma que praticamente 'forma' todos os seus profissionais. A consultoria atua no licenciamento de projetos eólicos em cinco estados (RN, CE, PE, PI e BA) e tem hoje cerca de 50 funcionários (entre fixos e temporários). São profissionais como biólogos, arqueólogos, geógrafos, geólogos, engenheiros e administradores que receberam das universidades pouca qualificação específica para a área que hoje atuam. “Os alunos saem das faculdades sem a mínima condição de atuar no mercado de trabalho. Os alunos são formados para o meio acadêmico, não para o mercado. Essa cultura precisa mudar para ajudar o país a se desenvolver”, analisa Hugo Alexandre.
O tecnólogo em Petróleo e Gás, Luciano Medeiros, corrobora com essa opinião: “O que aprendi na área de eólica, aprendi na marra, aprendi fazendo, já atuando no mercado”, revela. Luciano hoje faz uma especialização em Petróleo e Energias Renováveis e atua na BioConsultantes como gerente de logística. Entrou na empresa como estagiário e já recebeu diversas promoções na empresa. Mesmo confirmando a pouca noção de prática profissional adquirida na academia, ele ressalta: “A universidade nos dá a chave... mas é preciso saber qual porta abrir no mercado de trabalho”.
John: aprendendo para ensinar
Mão de obra especializada para trabalhar na indústria de energia eólica é escassa. Mão de obra especializada para formar mão de obra especializada é mais rara ainda no Brasil. E foi observando esse novo campo de atuação, que o já engenheiro mecânico, especialista em petróleo e gás e com doutorado em materiais composto, o peruano John Edward Neira Villena enveredou pela área de energias renováveis. “Vi uma ótima oportunidade de seguir carreira acadêmica nessa área. E fiz a pós-graduação em eólica e logo que conclui o curso, migrei da área acadêmica de petróleo e gás”, explicou. Após a especialização, John foi enviado pelo CTGAS-ER para um intercâmbio na Alemanha, para aprofundar conhecimento na área de eólica. Próximo mês de julho, o peruano está deixando Natal para coordenar a área de tecnologia de automação no Senai de Goiás. “Minha família está lá, daí a escolha. Mas vou continuar na área acadêmica de eólica, com cursos à distância do CTGAS-ER”, concluiu.
Pesquisas ainda engatinham
U
m dos mais festejado programas educacionais do Governo Federal – o Ciência Sem Fronteiras – pode demostrar o vácuo existente no Brasil na formação de mão de obra e desenvolvimento de pesquisa para a área de energias renováveis. Dados publicados no site do programa revelam que das mais de 50 mil bolsas de graduação e pós-graduação que já foram liberadas para estudantes universitários, apenas 1,2% (630 bolsas) são para pesquisas nessa área.
Quando se analisa esses dados levando em consideração os estados com maior potencial para a indústria de eólica, a situação é ainda mais preocupante. O Rio Grande do Norte, por exemplo, se reveza com o Ceará na liderança de produção desse tipo de energia, mas não conta com potencial parecido no ranking dos que mais pesquisam o setor. Das 630 bolsas distribuídas para a área no País, apenas sete (7) foram para estudantes potiguares. Isso representam menos de 0,6% do total de bolsas distribuídas nas universidades potiguares.
O professor Wilson da Mata acredita que essa falta de sintonia entre mercado e pesquisa tende a diminuir na área de energias, especialmente em eólica. Ele explica, inclusive, que será estudada a necessidade de criação de um novo curso de graduação específico para energias renováveis na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. O objetivo seria, não só formar especialistas no setor, mas estimular a iniciação científica.
A preocupação inicial, segundo o professor, será o de fortalecer as disciplinas da área dentro dos demais cursos de engenharia para tentar atrair mais estudantes para o setor. “Mas se isso atrapalhar o desenvolvimento das pesquisas e formação de especialistas aguardados para o setor, vamos requerer a criação do novo curso. A graduação é a porta de entrada para a pesquisa e formação de mão de obra qualificada”, explicou.
O Ciência Sem Fronteiras foi implantado em 2011 e tem como objetivo oportunizar que estudantes de graduação e pós-graduação de universidades publicas brasileiras tenham experiências de formação e pesquisa em diversas escolas do mundo. A área tecnológica – o gargalo do desenvolvimento industrial do País – é desde sempre uma das prioridades do programa que lista entre as suas cinco missões a de “ampliar o conhecimento inovador de pessoal das indústrias tecnológicas”.
A pós-doutora em Tecnologia Ambiental e professora da UFPE, Maria do Carmo Martins Sobral, lembra que a importância do programa vai muito além da formação de pesquisadores. Ela destaca o papel fundamental da experiência para a “capacitação internacional dos docentes, garantindo a consolidação e a expansão da ciência e tecnologia, da inovação em áreas prioritárias”, completa.
RN terá centro de inovação
O
Rio Grande do Norte será o centro de pesquisa e inovação na área de energias renováveis no Brasil. Esse é o objetivo do Instituto Senai de Inovação – Energias Renováveis (ISI-ER) que, depois de passar dois anos engavetado, está saindo do papel. O projeto está sendo orientado por duas consultorias internacionais: Fraunhofer (Alemanha) e MIT (EUA).
A expectativa é que até o final de julho próximo seja firmado financiamento com o BNDES para liberação dos R$ 27 milhões necessários para a construção do prédio de 4 mil metros quadrados de área e aquisição dos equipamentos dos primeiros laboratórios.
O diretor do ISI-ER, o doutor em energia e professor aposentado da UFRN, Wilson da Mata, explica que o objetivo principal do projeto é intermediar a relação entre indústria e pesquisa visando otimizar e acelerar soluções para o desenvolvimento do setor no Brasil. “Vamos encurtar a distância entre o que o Brasil precisa e o que existe. Assim, podemos acelerar o desenvolvimento industrial do País”.
O ISI-ER faz parte do programa de Melhoria da Competitividade implantado pelo Senai. A intenção é implantar 25 estruturas semelhantes em diversos estados brasileiros para alavancar e ultrapassar os gargalos que impedem maior celeridade de crescimento do setor produtivo do País. O do RN, que será instalado na Escola Agrícola de Jundiaí, através da parceria entre a Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (que administra o 'Sistema S' no Estado) e a UFRN, é o único do país com foco em energias renováveis.
O presidente da Fiern, Amaro Sales, ressalta que os ISIs visam, em especial, desenvolvimento de pesquisa aplicada para setores pré-competitivos a partir de uma atuação como elo entre instituições de pesquisa e o setor produtivo. “Para isso, esses institutos assumirão participação ativa em fases intermediárias do desenvolvimento de inovações, principalmente na validação tecnológica do conhecimento gerado em instituições de pesquisa, no desenvolvimento de protótipos e na definição de produtos. Serão centros de excelência, dotados do que há de mais moderno no mundo e se posicionarão como referência nas suas áreas de atuação", detalha.
A implantação será feita em 30 meses, após assinatura do contrato. O projeto prevê um quadro fixo de 20 pesquisadores da área de energia, com ênfase para o setor eólico e solar.
“Vamos contribuir para a atração de empresas e indústrias que possam consolidar uma cadeia produtiva em volta – inicialmente – da energia eólica, e em um segundo momento, da solar e demais energias”, explica o diretor do ISI-ER.
A falta de especialistas na área de energia é apontado como um gargalo para a consolidação do projeto, mas Wilson da Mata argumenta que já há uma estratégia para vencer o problema. Em paralelo à construção, a equipe do ISI-ER vai fomentar a expansão da pesquisa em energias renováveis na UFRN e outras universidades do País para atrair e extrair desses grupos os nomes que formarão o 'time' de pesquisadores fixos da instituição. “Também não descartamos a captação de pesquisadores de outros países que tenham maior experiência no setor. Mas, em cinco ou 10 anos seremos um instituto de médio porte e auto suficiente em pesquisa e formação. Essa é a nossa meta”, concluiu o diretor.
Aldemir: em busca de oportunidade
Há sete anos Aldemir chegou a Natal vindo do Amazonas. De tanto passar em frente ao prédio de uma escola técnica, ele quis saber o que poderia estudar no local: “descobri o mundo do gás e decidi: essa vai ser a minha profissão”. Após o primeiro curso técnico na área de gás natural, ele concorreu mais de 500 alunos e conseguiu uma das vagas de especialização técnica em energia eólica. A volta aos estudos despertou um desejo antigo: fazer graduação na área de petróleo. O curso está em andamento e Aldemir também já está enveredando para a área de pesquisa. “Desenvolvi um projeto de um microgerador que recebeu menção honrosa na faculdade. Embora haja todo esse interesse pela área e da qualificação que tem buscado nos últimos anos, Aldemir ainda não conseguiu vaga no mercado de trabalho das eólicas. “Todas as empresas perguntam: você tem experiência? Não, tenho qualificação”. Mas ele diz que não vai desistir. “Serei um profissional dessa área. Quero isso, estudo para isso e vou conseguir”.
O desafio de capacitar formadores
O
deficit de trabalhadores para a indústria eólica atinge todos os níveis de formação. A maior demanda está para os profissionais do nível médio. Desde 2011 o Governo Federal criou o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), com o objetivo de ampliar a oferta de cursos de educação profissional e tecnológica.
Das dezenas de cursos ofertados, um é específico para a área (Técnico em Sistemas de Energia Renovável). Uma turma desse curso será iniciada próximo dia 2 de junho, no CTGAS-ER, que tem como meta se transformar em referência nacional e internacional na formação de mão de obra na área de energias renováveis, com ênfase para a indústria eólica.
Para isso a escola vem tentando ultrapassar um dos maiores desafios desse setor de formação: encontrar professores com conhecimento específico. “Como a área é nova, temos que capacitar, também, os professores para esse setor bastante específico e ainda novo em nossa indústria. E como esse mercado tem pressa, precisamos oferecer essa capacitação em paralelo à formação de mão de obra”, explica a diretora Executiva do CTGAS-ER, Cândida Amália Aragão de Lima.
Para tentar expandir o conhecimento no setor eólico e capacitar os formadores, o CTGAS-ER enviou professores especialistas para aperfeiçoamento na Alemanha. “Temos pressa em conhecimento; o setor tem pressa em mão de obra. Não podemos formar professores e só depois formar mão de obra para a indústria. Estamos fazendo isso em paralelo”, ressaltou Cândida.
O CTGAS-ER forma Comitês Técnicos Setoriais que guiam o planejamento de abertura, expansão ou manutenção de cursos na grade curricular. Desses grupos, participam representantes pedagógicos da escola, do setor industrial, da academia e de instituições representativas de cada setor. Segundo a diretora, o centro segue a demanda do mercado. “Nós existimos em razão da necessidade de mão de obra e tecnologia especializada da indústria”.
O centro oferece cursos técnicos presenciais e à distância voltados para a área de energia eólica. Mas também já formou uma turma de pós-graduação (Especialização lato sensu em energia eólica) com quarenta alunos graduados em Engenharia Elétrica, Engenharia Mecânica, Engenharia Civil e área afins.
Dessa turma, inclusive, saiu um dos professores que atuam na área. O peruano John Edward Neira Villena, que já tinha mestrado e doutorado na área de Petróleo e Gás e Materiais Compostos, fez a pós no CTGAS-ER e migrou para o departamento de eólica dentro da escola.
“É uma área promissora, especialmente para a quem quer seguir carreira acadêmica”, analisa o professor. Poucos dias após conceder essa entrevista (final de abril/2014) John Edward aceitou um convite para gerenciar a área tecnológica do Senai em Goiás. Lá, não vai trabalhar diretamente com cursos do setor eólico: “Mas vou continuar como professor da área aqui no CTGAS-ER com os cursos à distância”, detalha.
Luciano: prática e academia
A vontade de conciliar a vida profissional com viagens levou Luciano Fagner (31) a ingressar na faculdade de Tecnologia em Petróleo e Gás. Achava que a área iria permitir muitas viagens. “Ledo engano”, diz. Antes de terminar a graduação, aceitou participar de estágio não-remunerado em uma consultoria ambiental. “Não sabia o que empresa ia querer de mim, mas estava disposto a aprender”. Dois meses depois, o estágio se transformou em emprego efetivo e hoje Luciano é coordenador de logística da empresa que trabalha quase exclusivamente com a liberação ambiental para parques eólicos em cinco estados do Nordeste. Ele conseguiu essa função porque conhece todos os processos que envolvem a instalação desse tipo de empresa (desde o projeto até a entrada em operação). Hoje ele faz pós-graduação em energia e petróleo. “O que sei hoje da área de eólica eu aprendi em campo... na marra. A graduação nos dá a chave, mas é preciso saber abrir a porta certa”, conclui.
Poucos cursos, grandes perspectivas
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) que acompanha o desenvolvimento dos cursos de pós graduação stricto senso (mestrados e doutorados) não possui m levantamento específico da área de Energias Renováveis. A informação mais detalhada que possui é a de que 696 discentes receberam títulos em cursos de mestrado e doutorado em Ciências Ambientais e outros 2.676 estavam matriculados nos cursos, até o ano 2012. É nessa área (Ciências Ambientais) que estão relacionadas pesquisas na área de eólica. Pelos dados encontrados no site da Capes, hoje existem 88 cursos dessa área ativos nas universidades brasileiras.
Já os cursos de especialização e MBA, não são acompanhados diretamente pelo MEC. Segundo informações da assessoria de imprensa da Secretaria de Educação Superior, os cursos de pós-graduação lato sensu independem de autorização do MEC, mas só podem ser oferecidos por instituições cadastradas no Mistério.
Em Natal, pelo menos dois cursos de especialização em energias renováveis estão em andamento em universidades particulares: na UnP e Estácio de Sá Segundo a doutora em Química Izangela de Andrade, que coordena o curso na Estácio de Sá, a área acadêmica de eólica está em expansão e é promissora. “Primeiramente faz-se uma pesquisa de mercado. Existindo absorção dos profissionais pelo mercado o curso é indicado para abertura”, explica. E foi isso que ocorreu com a área de energias renováveis dentro da Faculdade, que também conta com cadeiras específicas da área em outros cursos de graduação, como nas Engenharias e de Petróleo e Gás.
Em todo o Brasil, há apenas 12 cursos de graduação voltados especificamente para a área de Energias Renováveis, segundo dados do portal do Ministério da Educação. Um desses está sendo oferecido pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do RN, no município de João Câmara (79 km de Natal) – que é beneficiado pela indústria eólica.
O curso Tecnologia em Energias Renováveis foi criado em 2012 e tem duração de três anos. Quando foi aberto, apresentou concorrência de 10 candidatos por vaga, uma das maiores entre os IFRNs. O professor Gênesson Batista Carneiro, coordenador interino, explica que o curso foi implantado devido a carência de técnicos para as empresas que estavam se instalando na região.
“Sempre que se vai montar um curso no IFRN há uma audiência pública para discutir essa implantação com a comunidade escolar. Há uma votação, inclusive, entre as prioridades". Anualmente, são oferecidas 40 vagas. “A procura tem sido bem grande devido ao crescimento das eólicas e atraído alunos e várias outras cidades da região, e até de Natal”, diz.
Quando formados, os alunos saem com conhecimentos na área das energias renováveis, principalmente no campo das energias eólica, hidráulica, térmica e energia solar.
Futuro
Diversidade e custo menor
A
China, Estados Unidos e Alemanha possuíam em dezembro de 2012 mais da metade da capacidade instalada na produção de energia elétrica. Mas a expansão dessa alternativa energética está migrando para mercados emergentes da Ásia e América Latina: em 2012, o Brasil liderou o ranking mundial de ampliação da capacidade instalada de produção de eólica.
Segundo dados do relatório anual de energias renováveis (REN21_Global Status Report 2013), o País apresentou taxa de crescimento de 66% na produção de energia eólica. Hoje, esse número já chega a 4,5 GW e deve triplicar até 2018.
Mas, no Brasil, a indústria ainda é relativamente nova e tem a maior concentração de investimentos no Nordeste. O desenvolvimento do setor no mercado brasileiro pode ser dividido em duas fases principais.
A primeira é a fase Proinfa, o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica, criado no âmbito do Ministério de Minas e Energia em 2002 para aumentar a participação da energia elétrica produzida por fontes eólica, biomassa e pequenas centrais hidrelétricas (PCH) no Sistema Elétrico Interligado Nacional.
“O Brasil tinha instalado menos do que 30 MW até 2004, quando começou-se a implantar os projetos do Proinfa”, diz o diretor de vendas da Wobben Windpower, Eduardo Lopes.
A empresa, de origem alemã, fincou bandeira no Brasil bem antes dessa época, em 1995. Na ocasião, implantou na cidade de Sorocaba (SP) uma fábrica de pás eólicas para exportação. “Não havia um mercado no Brasil. Os trabalhadores foram formados pela empresa”, diz.
Entre os anos 2004 e 2006 a Wobben implantou dois parques eólicos no país, um deles no Rio Grande do Norte. A virada do setor ocorreria pouco tempo depois, a partir de 2009, quando a fonte eólica entrou fortemente nos leilões federais de energia – um sistema que garante mercado de longo prazo à produção e tem ajudado a tirar do papel uma série de usinas.
Segundo a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), o crescimento da indústria eólica no Brasil é resultado da combinação de alguns fatores. O primeiro é natural: o País possui um dos melhores ventos do mundo para a geração desse tipo de energia.
Esse cenário natural atrai os demais requisitos: preços competitivos; demanda crescente de energia e necessidade em diversificar a matriz de geração. Essa é a análise Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), que inclui, inclusive, a crise econômica internacional como um dos pontos que atraem para o Brasil os investimentos e conhecimento estrangeiros para essa área.
O setor de energia eólica também cresce impulsionado pela oferta de crédito em instituições nacionais e internacionais. O Banco do Nordeste foi um dos grandes financiadores da estruturação da atividade até 2011, ano em que o governo federal decidiu concentrar os empréstimos no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
As eólicas, são hoje, na instituição, um dos principais alvos de investimento. Divulgada na quinta-feira passada (22), a perspectiva de investimento para o setor elétrico brasileiro no período que vai de 2014 a 2017 é de R$ 191,7 bilhões, no banco, sendo a maior parte em geração hidrelétrica, com R$ 54,5 bilhões. Os complexos eólicos são o segundo destaque em porte de investimentos, com R$ 43 bilhões. Transmissão de energia elétrica vem em terceiro, com estimativas de investimentos de R$ 37,6 bilhões.
Alternativa em momento de crise
O
futuro do setor eólico é promissor. De acordo o Plano Decenal de Energia (PDE), divulgado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), como projeção para o ano de 2022, a fonte eólica terá 17GW de Capacidade Instalada, o que representará uma participação de 9,5% na matriz elétrica brasileira, ou seja, mais de três vezes o percentual de hoje (2,3%).
Especialistas apontam que essa expansão tem como uma das consequências o barateamento da energia distribuída no País. Com uma matriz energética mais diversificada, em período de chuvas escassas – como o que o Brasil enfrenta atualmente – a indústria eólica compensaria a queda na produção das hidrelétricas e conseguiria manter os preços do serviço.
O produto das eólicas é o segundo mais barato entre as fontes produtoras de energia no País. Dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica - de outubro de 2013 - mostravam que o MW/h da hidrelétrica era R$ 121,44 e o da eólica era R$ 136,26. Bem abaixo de outras fontes como: bagaço de cana (R$ 177,46), carvão (R$ 179,66), óleo combustível (R$ 186,62) e óleo diesel (R$ 201,36).
E a alta nos preços de energia no Brasil tem assustado não só os consumidores domésticos, mas – especialmente - a indústria, que vem reclamando constantemente do peso cada vez maior da energia no processo produtivo.
Em audiência realizada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), no início de maio deste ano, para debater o setor elétrico do País, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, defendeu a busca de soluções que possam baratear a energia vendida no Brasil. “A crise atual torna evidente a necessidade de introduzir novos aperfeiçoamentos no modelo institucional do setor”, afirmou.
Entre cinco propostas apresentadas pela indústria para baratear o serviço, estava diversificação da matriz energética (hoje dependente em 63% do setor hidrelétrico). E é essa uma das principais vantagens da eólica no Brasil: a fonte é a segunda mais competitiva, perdendo apenas para hídrica.
No início de maio deste ano, estudo do Sistema Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro) apontou que o custo médio da energia elétrica para a indústria saltou 17%, em um ano.
Em 16 de maio próximo passado a Firjan divulgou levantamento sobre a tendência de aumento do valor do serviço para a indústria e estima que o custo da energia elétrica para as indústrias brasileiras no mercado cativo pode chegar a R$ 420,20 por MWh ao final de 2015, caso o reajuste médio de 17,1% (já aplicado em algumas distribuidoras do País) se mantenha neste ano para as 41 distribuidoras que ainda terão seus reajustes aprovados e se repita no ano que vem.
Na comparação com janeiro de 2013 - quando foi concedido o desconto através da MP 579 e o valor era de R$ 263 por MWh - o aumento será de 60%. Caso a projeção se confirme e todas as outras variáveis se mantenham constantes, em 2015 o Brasil subirá para a 4ª posição em ranking de maior custo de energia, atrás apenas da Índia (R$ 596,96), Itália (R$ 536,14) e Singapura (R$ 459,38). Hoje, o país ocupa a 11ª posição. Os dados são do estudo “Perspectivas do custo da energia elétrica para a indústria no Brasil em 2014 e 2015”.
As oportunidades da indústria
S
egundo dados do estudo “A indústria do ventos e o Rio Grande do Norte” divulgado em 2013 e elaborado pelo presidente do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia – CERNE, Jean-Paul Prates, 86 países possuem usinas eólicas comerciais, sendo que 22 deles são capazes de gerar pelo menos 1 GW.
Até 2005, a Alemanha liderava o ranking dos países produtores de fonte eólica. Em 2008 foi ultrapassada pelos EUA, mas desde 2010 a China já é o maior produtor de energia eólica do planeta. Já o país com maior participação de fonte eólica em matriz energética nacional (30%) era a Dinamarca.
Entre os países da América do Sul, o Brasil emergiu como o mercado mais promissor para o desenvolvimento da energia eólica. E o Nordeste é a região do país com maior potencial. Os parques eólicos estão permitindo que essa região - antes eminentemente importadoras de energia - passe a ser potencial exportador de energia.
E dentro do Nordeste, o Rio Grande do Norte e o Ceará se revezam na liderança do ranking de potencia instalada no Brasil. O RN é um dos cinco estados brasileiros com maior potencial de geração de energia elétrica utilizando a força dos ventos, e poderá atingir os 7GW de capacidade geradora eólica instalada em 2016, o equivalente a 50% do que produz atualmente a maior hidrelétrica brasileira, a usina de Itaipu, em Foz do Iguaçu (PR).
O analista do IBGE/RN, Ivanilton Passos de Oliveira, avalia que o expansão do setor eólico no Estado é uma oportunidade de desenvolvimento da economia local que é baseada na indústria tradicional, com baixo poder de geração de riquezas e empregos. “O Estado sofre com a falta de infraestrutura e de mão de obra. Essas sãos duas barreiras que dificultam a atração de investimentos de maior porte para o Estado”, analisa.
Ivanilton Passos lembra que a indústria de eólicas é uma oportunidade também para a expansão do mercado de trabalho e de valor de salários no Estado. “Aqui no Rio Grande do Norte, a população trabalha na administração pública, serviços (especialmente turismo) e comércio. É muito importante para a economia do Rio Grande do Norte o surgimento de novas fronteiras de emprego”, detalha.
O analista do IBGE destaca que é importante a academia e as escolas técnicas reforçarem suas estruturas para essa nova área, para que não ocorra com o setor eólico o mesmo que ocorreu com a indústria do petróleo, aqui no Estado. “Sem uma boa qualificação, as melhores vagas de trabalho ficavam para profissionais de fora do Estado. Um exemplo: no município de Macau – que é produtor de petróleo – não existe qualificação para a área”, exemplificou.
O diretor do ISI-ER, Wilson da Mata, também concorda com as possibilidades de expansão econômica que a nova indústria dos ventos traz para o Rio Grande do Norte, mas alerta: “É preciso, nesse momento, que haja decisão política das autoridades para dar as condições necessárias para que essa indústria – hoje atraída por um potencial de recursos naturais – não seja afastada por questões de infraestrutura e burocracia”, ressaltou.
A Governadora Rosalba Ciarlini reconhece a importância do setor para a economia do Estado. “O Governo atua como um grande parceiro dos investidores do setor para garantir agilidade no processo de implantação e resolver qualquer entrave que possa surgir”, afirmou ela no início de maio, quando o Estado atingiu 1 GW de capacidade de geração.
Natural de Areia Branca – RN, filho de José Lúcio de Góis e Maria Vênus Siqueira de Góis. Casado com Clivaneide Pinheiro, os filhos, Rodrigo, Michelle e Dyêgo,netos, Matheus, Lucas, Henrique e Luiza. Radialista Rural e Tapuio de Mossoró. 1968, no Rio de Janeiro.Corresponte bancário na SALMAC, Operador na Bolsa de Valores, do Bco. de Inv. do Brasil. 1971, em Brasília, Sup. da Dist. de títulos e Corretora Levy.Gerenciou a DISBRAVE, 1979,em Natal, diretor da Villa Central Publicidade, diretor comercial do Jornal Folha da Manhã, assessor do ex-Governador Lavoisier Maia,D.Fed. Flávio Rocha, ex-Governador Vivaldo Costa, Chefe de Gabinete governador Fernando Freire, 1995 a 2002, Sec. de Estado de Articulação com os Municípios, fundador dos Partidos Liberal,PRN. PPB. 2002 cand. a dep. estadual com a 2º suplencia, apresentador do Programa RN Em Pauta da Rádio Poti. Assessorou o Deputado Luiz Almir na campanha de prefeito. É autor dos livros: Grandes Vultos Políticos do RN I, 1985, Quem é Quem na Política do RN, 1986. Areia Branca Minha Terra, 1999. História dos Municípios 2000, Historia dos Municípios 2007 e O Poder Político do RN 2009.
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