domingo, fevereiro 12, 2012

"Não estou com nenhuma saudade do poder", diz o vice-governador dissidente Robinson Faria

robinson_faria

O vice-governador Robinson Faria, presidente estadual do PSD, fez uma análise sobre os problemas que a governadora Rosalba Ciarlini (DEM) enfrenta no cargo. Para ele, o governo peca na forma como trata os programas sociais, não dá apoio à área da segurança e mantém a saúde centralizada. Robinson também lamenta o fato de a governadora gostar de governar com adversários e não com aliados. O líder do PSD disse isso alegando que está do alto de quem não tem saudades do poder. Sobre política, ele comentou também sobre o papel do PSD nas eleições em Natal e Mossoró e não poupou os membros da cúpula do DEM estadual. 
O Mossoroense: O senhor já está preparando-se para projetos futuros?
Robinson Faria: Política a gente constrói a cada dia. Estamos aqui visitando a nossa amiga, a deputada Sandra, a deputada Larissa e o vereador Lairinho que são meus amigos há muitos anos. Fui deputado com Sandra, com Larissa e com Laíre (Rosado que foi deputado estadual entre 1987 e 91). Larissa foi minha vice-presidente na Assembleia. É uma deputada bastante atuante, uma grande amiga que tem uma trajetória pela frente em nosso Estado. Aposto muito nesse amanhã de Larissa. Este é um almoço social, mas também um bate-papo político, de aproximação. Mossoró sabe do meu desejo de apoiar Larissa, mas por enquanto é um desejo do presidente estadual do PSD, do vice-governador, que aguarda a deliberação final das bases do PSD em Mossoró muito embora eles saibam que a minha posição é em favor de Larissa. Ela tem a simpatia do grupo, mas como ainda não tivemos essa convenção do PSD vamos aguardar. É lógico que o caminho natural do partido é esse encontro com Larissa. É algo natural entre os partidos de oposição no Estado. Aqui com um toque a mais pela amizade que eu tenho e a admiração que tenho pela deputada Larissa.

OM: PSD e PT abriram diálogo em Natal. Existe possibilidade de o senhor apoiar o deputado Fernando Mineiro na capital?
RF: Em Natal estamos conversando com todos os partidos de oposição. Com o PT do deputado Fernando Mineiro, que foi deputado comigo, é meu amigo de muitos anos. Conversei com o deputado Agnelo Alves que tem o filho Carlos Eduardo candidato a prefeito de Natal e com a ex-governadora Wilma de Faria que foi na minha casa e conversamos bastante e fizemos até uma projeção em todo o Estado sobre as possíveis uniões do PSD e do PSB nos municípios. Falamos também de Mossoró e obviamente de Natal. Estamos aguardando se poderá acontecer uma união da oposição em Natal. A gente não pode precipitar esse apoio. Não é querendo se valorizar não, mas aguardando a definição deles. Se realmente confirmarão essas candidaturas.

OM: Então o senhor defende uma união das oposições no primeiro turno?
RF: Nosso desejo é que a oposição se reúna em Natal para ter uma vitória tranquila. Logo no primeiro turno. Se isso não acontecer vamos costurar o máximo que puder essa união.

OM: Existe a possibilidade de em alguns municípios PSD e DEM estarem no mesmo palanque?
RF: Existe. O PSD não tem esse pensamento ultrapassado, radical e sectário de punir pessoas que porventura não estão em nosso partido, mas foram companheiros leais em várias campanhas minhas, de Fábio e do deputado José Dias. Não vamos punir pessoas. Existem casos de candidatos a prefeito do DEM que irei apoiar com todo o entusiasmo. São companheiros nossos de campanhas passadas. Não vou deliberar que ninguém do PSD apoie o DEM porque hoje o DEM é um adversário de Robinson Faria, até porque cada município tem a sua geografia e peculiaridades. Vamos respeitar essa geografia municipal de acordo com os nossos companheiros e com base no sentimento de gratidão. Diferentemente do senador José Agripino, que quer punir os que lhe ajudaram a ser eleito senador da República só porque estão filiados ao PSD. Quer retaliar companheiros que sempre estiveram ao lado dele por conta de uma vaidade de não querer apoiar um candidato que está filiado ao PSD. Nosso pensamento é o contrário. Apoiaremos candidatos do DEM e do PMDB desde que tenham sido companheiros nossos na campanha passada.

OM: O senhor citou os deputados Fábio Faria e José Dias. Faltou Gesane Marinho. A parlamentar continua no PSD?
RF: A mim ela disse que segue no PSD e eu confio muito na sua palavra.

OM: Como está a relação do senhor com os deputados que ficaram no PMN?
RF: Nunca teve nenhum arranhão na minha relação com eles. Pelo contrário. Toda semana converso com o presidente Ricardo Motta. Fomos deputados 24 anos juntos e uma amizade não se acaba por conta de uma definição partidária. A ingratidão não foi de Ricardo Motta, até porque ele disse que poderemos ser parceiros no futuro. O PMN, o partido dele, foi criado por mim no Estado e ele veio para lá junto comigo. Ele disse que a nossa caminhada será para uma grande união lá na frente e eu confio no deputado Ricardo Motta. A quem eu devo externar publicamente que a grande injustiça comigo, a grande ingratidão foi do casal que comanda hoje o Governo do Estado e do senador José Agripino. Isso que aconteceu comigo foi uma das maiores injustiças que já fizeram no Rio Grande do Norte. Fui tão cobiçado por eles para definir a eleição como aliado de Rosalba e depois da eleição o comportamento mudou. Eles passaram a assediar e estender tapete vermelho para adversários tradicionais. Aqueles que mais lutaram para derrotar Rosalba. Eu mesmo fui vítima dessas pessoas que queriam a todo custo que eu não votasse nela e eu apoiei e ajudei de forma decisiva e isso é comprovado por qualquer pessoa que faça uma leitura das urnas. Só a chapa de deputado estadual que levei somaram quase 300 mil votos e não teve segundo turno por um número muito pequeno. Se tivesse segundo turno seria muito perigoso porque o apelo de Dilma e Lula teria um peso grande, mas, infelizmente, na política virou uma moda: quem ganha perde e quem perde ganha. Os que perderam estão no poder e os que ganharam estão fora. Digo isso com toda a tranquilidade porque não estou com nenhuma saudade do poder. Até porque o poder é aquele que você conquista e passa a ter uma cumplicidade no dia a dia, com amizade, confiança e trabalhando juntos. É complicado estar ao lado de pessoas que não olham para você do mesmo jeito de antes da eleição e queriam o seu apoio. Não adianta insistir numa parceria com pessoas que não reconhecem o seu trabalho. É melhor começar do zero. Nessa parte estou bastante seguro de que hoje estou numa posição bastante confortável porque o destino fez com que eu acordasse a tempo de redirecionar a minha história política.

OM: Diante do exposto e de cabeça mais fria. O senhor se arrepende de não ter disputado o Governo do Estado em 2010?
RF: Eu não posso dizer que me arrependo porque eu tentei até a última hora. No último momento tentamos uma aliança entre o PMN e o PR do deputado João Maia, chegamos a definir a terceira via em que eu topava ser candidato. De última hora ele se acertou com o candidato Iberê e me abandonou. Eu fiquei sozinho e não podia sacrificar uma chapa de deputados estaduais e deputado federal para uma candidatura minha num partido só e sem tempo de televisão. Então não poderia deixar um sonho meu ser maior que a realidade de formar um grupo para dar viabilidade a esse projeto. Nas pesquisas meu nome aparecia em situação confortável, mas não foi possível formar um arco de alianças para viabilizar esse projeto.

OM: Qual a sua avaliação sobre o governo de Rosalba Ciarlini?
RF: Em primeiro lugar, eu gostaria de separar as coisas: eu sou o vice-governador do Estado, um apaixonado pelo meu Estado e quero que meu Estado cresça. Quero que tudo de bom venha para cá. Não é por conta de divergências políticas que vou torcer contra, até porque meus filhos e meus amigos dependem do Estado ter prosperidade para ter um meio de ganhar a vida, mas na parte política posso opinar como cidadão de maneira totalmente independente, mas com muita honestidade. Eu acho que 2011 foi um ano perdido em termos de Governo do Estado, que não teve projetos, planejamento, a saúde piorou de forma ostensiva, a educação não avançou, o setor primário está com a falência praticamente decretada porque estão arruinando com o Programa do Leite e isso prejudica a cadeia produtiva. As centrais do cidadão estão sem funcionar. Os programas sociais estão abandonados e a segurança piorou haja vista o noticiário que você acompanha em Natal e Mossoró, em todo o lugar. Os problemas na segurança se agravaram.

OM: Não tem nada de positivo para o senhor destacar?
RF: Eu não vejo nada. A não ser a equipe da tributação que é um núcleo de excelência que tem sido a salvação do governo. Ela faz um grande trabalho de arrecadação e salva o Estado de estar numa situação muito pior do que a que está.

OM: Se o senhor fosse aliado de Rosalba e ela lhe procurasse para pedir uma sugestão. O quê o senhor diria a ela?
RF: Primeiro seria dialogar com os servidores. Com isso eles serão cooperativos porque sentirão boa vontade por parte do Executivo. A segurança precisa de um programa mais arrojado, mais moderno. Existe uma equipe boa, com boas ideias, mas falta apoio. O secretário e o comandante da Polícia Militar são pessoas competentes. Aquipe é competente com a da tributação. Sendo que esta é muito independente, diferentemente da segurança que requer apoio. O Estado não priorizou a segurança no Orçamento estadual mesmo com os indicadores que não são favoráveis. A saúde precisa ser descentralizada. Os hospitais regionais precisam serem fortalecidos em vez disso são sucateados. Faltam médicos, medicamentos e a saúde fica despejando no Walfredo Gurgel que está pior que no governo passado. Falta uma política pública de saúde para descentralizar a saúde na capital do Estado.

OM: E o Programa do Leite?
RF: Foi um grande equívoco o que foi feito com o Programa do Leite. Um grande pecado. Este programa deveria voltar a ser como era antes. O programa tem que ter transparência, mas nunca ser colocado como esse governo atual. São coisas simples que não são feitas.

OM: Falta uma marca no governo atual?
RF: Ficam falando de aeroporto. O aeroporto já vinha sendo feito há muito tempo. É uma obra federal. A Copa do Mundo também é uma obra federal porque depende das parcerias com a União. São obras que tiveram vários começos. Tem que parar de falar em grandes projetos para esconder a realidade do Rio Grande do Norte que precisa de saúde, ser atendido na Central do Cidadão, ter direitos básicos como o do cidadão que tem um pequeno comércio e vive sendo assaltado. Nem o convencional está acontecendo no Rio Grande do Norte.

OM: Falta criatividade à atual gestão?
RF: Falta planejamento, criatividade e, sobretudo, humildade.

OM: Na sua opinião, o governo tem dificuldades para ter recursos federais por ser de um partido adversário do PT?
RF: Nessa parte eu não posso opinar porque não sei como está a relação em Brasília com o Governo Federal. Não tenho informações privilegiadas para opinar sobre isso. Se eu der uma opinião estarei sendo injusto.

Bruno Barreto
Editor de Política

0 comentários:

Postar um comentário

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More

 
Powered by Blogger