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Em depoimento prestado em setembro à Procuradoria-Geral da República, Marcos Valério, condenado pelo Supremo Tribunal Federal como o "operador" do mensalão, disse que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva "deu o ok" para empréstimos bancários ao PT destinados a viabilizar o esquema e para o pagamento de "despesas pessoais", segundo a edição desta terça (11) do jornal "O Estado de S. Paulo" (veja ao lado reportagem do Jornal Nacional).
"O Estado" informa que teve acesso às 13 páginas do depoimento de três horas e meia dado por Marcos Valério no dia 24 de setembro e que ele teria buscado a Procuradoria de maneira voluntária disposto a fornecer novas informações em troca de proteção e redução da pena. Valério foi condenado pelo STF a mais de 40 anos de prisão pelos crimes de formação de quadrilha, corrupção ativa, peculato, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
Veja abaixo os principais pontos das denúncias de Marcos Valério, segundo relato do jornal "O Estado de S. Paulo", e as versões dos envolvidos.
'Ok' para empréstimos do mensalão
Conforme o jornal, Marcos Valério disse aos procuradores que esteve com o então presidente no Palácio do Planalto, acompanhado de José Dirceu, e que Lula deu "ok" para empréstimos do Banco Rural e do BMG ao PT.
Lula não quis comentar as acusações. "Não posso acreditar em mentiras", disse em Paris, na abertura do Fórum pelo Progresso Social (veja no vídeo ao lado).
O advogado José Luís Oliveira Lima afirmou, por meio de nota, que Dirceu "jamais" se reuniu no Palácio do Planalto com Marcos Valério, com o ex-presidente Lula e com o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.
Procurada pelo G1, a assessoria do banco Rural informou que avalia se divulgará nota sobre o assunto abordado na reportagem. A assessoria do BMG informou que o banco não vai se manifestar.
R$ 100 mil para despesas pessoais
Marcos Valério também disse no depoimento, segundo "O Estado de S. Paulo", que repassou R$ 100 mil para despesas pessoais de Lula, por meio da empresa Caso, de Freud Godoy, na época assessor da Presidência da República.
A CPI dos Correios, conhecida como CPI do Mensalão, comprovou recebimento de depósito de R$ 98,5 mil de Marcos Valério para a empresa Caso. Ao investigar o mensalão, a CPI dos Correios detectou, em 2005, pagamento feito pela SMPB, agência de publicidade de Valério, à empresa de Godoy. O depósito foi realizado, segundo dados do sigilo quebrado, em 21 de janeiro de 2003.
O ex-assessor Freud Godoy disse ao G1 que pretende processar Marcos Valério. Ele afirmou que não houve depósito de Valério na conta da empresa dele. "Se ele fez esse depósito, eu quero esse dinheiro porque tô precisando para pagar o 13º dos funcionários", declarou. "Eu quero ver provar. Porque se não provar, vai tomar mais uma ação. Eu vou processar, faço questão".
R$ 4 milhões para advogados
Segundo a reportagem, Marcos Valério disse aos procuradores que o PT pagou despesas no valor de R$ 4 milhões com os honorários dos advogados dele no processo do mensalão.
O partido nega ter arcado com os honorários da defesa de Valério. Rui Falcão, presidente da legenda, disse em nota que o partido é alvo de "campanha difamatória" e que as acusações "refletem apenas uma tentativa desesperada de tentar diminuir a pena de prisão que Valério recebeu do STF".
Negociações com a Portugal Telecom
Marcos Valério disse no depoimento, segundo o jornal, que o então presidente Lula e o então ministro da Economia, Antônio Palocci, fizeram gestões junto à Portugal Telecom para que a empresa repassasse R$ 7 milhões ao PT.
Esses recursos teriam sido enviados por empresas fornecedoras da companhia, por meio de publicitários que prestavam serviço ao PT. Segundo a reportagem do jornal, as negociações com a Portugal Telecom estariam por trás da viagem a Portugal, em 2005, de Valério, de seu ex-advogado Rogério Tolentino e do ex-secretário do PTB Emerson Palmieri.
Palocci negou as declarações do operador do mensalão. Por meio de sua assessoria, ele disse que os fatos relatados por Valério "jamais existiram".
O ex-presidente da Portugal Telecom Miguel Horta declarou, por meio de nota, que não teve "qualquer ligação" com o processo do mensalão. Segundo o empresário, "essa é uma questão de política interna brasileira" à qual ele é totalmente "alheio".
Suposta chantagem
No depoimento, segundo a reportagem de "O Estado de S. Paulo", Valério contou que soube, em conversa com o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira, que o empresário Ronan Maria Pinto vinha chantageando Lula, Dirceu e Gilberto Carvalho, ministro de Lula e do atual governo da presidente Dilma Rousseff, em razão do assassinato de Celso Daniel (PT), prefeito de Santo André.
A assessoria de Ronan Maria Pinto informou em nota que ele "jamais se encontrou em qualquer circunstância com o sr. Marcos Valério, a quem não conhece pessoalmente – só pelo noticiário". Segundo a assessoria, ele também não conhece José Bumlai. "Diante desses fatos, a falsidade das declarações atribuídas ao sr. Marcos Valério fica patente. Trata-se da mesma velha falácia com que buscam envolver seu nome em assuntos com os quais nada tem a ver", diz a nota.
Senador nega ter recebido
Ainda de acordo com a reportagem, Marcos Valério acusou outros políticos de terem sido beneficiados pelo chamado valerioduto, entre eles o senador Humberto Costa (PT-PE).
Ao G1, Costa negou (veja no vídeo ao lado) que tenha se beneficiado do esquema. "Isso é um assunto requentado, de 2005, levantado naquela época e devidamente respondido. Minhas contas de campanha são públicas e aprovadas pelos tribunais. Não houve nenhum tipo de pagamento pelo 'valerioduto', tanto que nem a CPI dos Correios nem o Supremo levaram em conta essa denúncia", afirmou.
Ameaça de morte
A reportagem relata ainda que Marcos Valério disse ter sido ameaçado de morte por Paulo Okamotto, atual diretor do Instituto Lula e amigo do ex-presidente. "Se abrisse a boca, morreria", disse o empresário no depoimento à Procuradoria-Geral da República. "Tem gente no PT que acha que a gente devia matar você", teria dito Okamotto a Valério, segundo o jornal, em encontro em um hotel em Brasília.
Paulo Okamotto afirmou, em Paris, ter interpretado as declarações do suposto operador do mensalão como uma tentativa de reduzir sua pena no processo do mensalão. "Interpreto como uma tentativa que ele tem de não tentar pegar 40 anos de cadeia. Se eu fosse ele, estaria tentando descobrir um jeito de entrar com apelações no Judiciário", disse.
"Realmente, ser condenado a 40 anos de cadeia é um bocado de tempo preso. Acho até que é uma condenação excessiva, no meu modo de ver", destacou o dirigente do Instituto Lula na saída do Fórum pelo Progresso Social, evento organizado pela entidade do ex-presidente da República em parceria com uma fundação francesa.
Repercussão
A presidente Dilma Rousseff classificou como "lamentável" o que chamou de "tentativa de desgastar" a imagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (veja no vídeo ao lado). "Eu considero lamentável essas tentativas de desgastar a imagem do presidente Lula. Acho lamentável", afirmou Dilma em entrevista ao lado do presidente François Hollande, em Paris. "Eu repudio todas as tentativas - e esta não seria a primeira vez - de tentar destituí-lo [Lula] da sua imensa carga de respeito que o povo brasileiro lhe tem".
Três dos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal defenderam apuração das acusações feitas por Marcos Valério. Pela manhã, o presidente da corte, Joaquim Barbosa, já havia afirmado que os fatos devem ser apurados.
O líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PSDB-PR), protocolou pedido ao Ministério Público para que os parlamentares tenham acesso à integra do depoimento de Valério. Os tucanos também defendem que Valério dê explicações no Congresso.
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) classificou como "graves" as declarações de Marcos Valério e defendeu investigação pela Procuradoria-Geral da República. "[São] graves, na direção daquilo que a imprensa já havia publicado. Cabe a meu ver a PGR analisar que procedimentos tomará em seguida, se há novos indícios que possam modificar sua posição", disse.
O PPS cobrou que o Ministério Público abra investigação para apurar o envolvimento de Lula no esquema do mensalão. "Diante das declarações dadas ao Ministério Público não resta outro caminho. É abertura imediata de inquérito", afirmou o presidente do partido, deputado Roberto Freire (SP).
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, disse nesta terça, por meio de sua assessoria de imprensa, que não vai se pronunciar sobre o assunto até o final do julgamento no STF. A Procuradoria já havia informado que novas informações repassadas por Marcos Valério não seriam incluídas na ação do mensalão, embora pudessem resultar na abertura de um novo processo em primeira instância, por exemplo.
Autor da denúncia do mensalão, o ex-procurador-geral da República Antonio Fernando de Souza afirmou ao G1 que a abertura de um novo inquérito para investigar Lula dependeria da apresentação de provas que apontassem a veracidade do depoimento de Valério.
Defesa de Valério não confirma
Questionado sobre o depoimento nesta terça, o advogado de Valério, Marcelo Leonardo, disse, em entrevista a Cristiana Lôbo (veja no vídeo ao lado) que não está "confirmando nem deixando de confirmar absolutamente nada" sobre a reportagem.
Mas Leonardo disse que o cliente delenão deverá dar novos depoimentosporque, segundo afirmou, "é inútil colaborar com a Justiça".
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