sexta-feira, outubro 03, 2014

Aécio aposta tudo no anti-petismo para chegar ao segundo turno

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O candidato Aécio Neves, durante debate promovido pela rede Globo (Foto: Adriana Spaca/Brazil Photo Press)O candidato Aécio Neves, durante debate promovido pela rede Globo (Foto: Adriana Spaca/Brazil Photo Pre …
O debate na TV Globo ontem (2) deixou claro que Aécio aposta tudo no anti-petismo para chegar ao segundo turno. O candidato citou as letras PT em praticamente todas as suas intervenções. Isto bate com o mostrado recentemente no horário eleitoral, no qual seu programa clamou abertamente pelo voto útil contra o PT.

Ao mesmo tempo o tucano mirou no ponto vulnerável da sua candidatura, a pouca penetração no eleitorado de menor renda, ao reafirmar o compromisso de “rever o fator previdenciário” (criado por FHC e que penaliza os aposentados). Logo depois, o tucano se referiria ao dirigente da Força Sindical, Paulinho, seu aliado, como “companheiro”. Se em 2002 Lula lançou sua Carta ao Povo Brasileiro para agradar ao mercado, agora Aécio parece esboçar uma Carta ao Trabalhador Brasileiro, para lhe abrir um eleitorado que vem se mantendo distante do PSDB há muito tempo, e sem o qual dificilmente se ganha eleição.
As campanhas políticas de 2014 foram marcadas pela palavra “mudança”. Dilma, Aécio e Marina fabricaram slogans com ela: mais mudança, com coragem, mudança de verdade, para valer, ela só começou.

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Na narrativa televisiva de país de Dilma as mudanças começaram em 2002 com a eleição de Lula e precisam ter continuidade. A transformação fundamental (ainda não concluída) foi a de que nos tornamos “um país de classe média”. Que com Lula 35 milhões de brasileiros saíram da pobreza e ingressaram na “nova classe média”, também chamada de “classe C” pelos institutos de consumo, aquela que ganha entre 2 e 5 salários mínimos de renda familiar. A mudança é a continuidade dessa mudança, na qual agora todos (ou quase todos) os brasileiros podem “andar de avião”, ter acesso a universidades, uma mudança de longo prazo, na verdade permanente. A esta “mudança” deve-se incorporar todos os brasileiros, mas isto não se faz da noite para o dia, pareceu dizer a propaganda dilmista na TV durante a campanha, por isso, mudar é igual a continuar.
A mudança de Marina aparenta ser de outra natureza. É fundamentalmente uma mudança na forma de fazer política no país. Daí o mote da candidata da “nova política”. Nova política que parece pertencer ao reino da ética pessoal: o político-cidadão-presidente fazendo as escolhas certas a partir do seu raio de ação. Se cada indivíduo fizer sua parte, o carro sai da lama. É “nova” no sentido que é uma “política feita pela sociedade”, é “autoral” como disse a candidata. Guarda alguma semelhança com a frase de Ghandi: devemos ser a mudança que queremos ver no mundo. Por esta visão, o nó brasileiro é a política, é via sua regeneração que o país vai melhorar. Nestes termos é preciso mudar tudo, a maneira como o Congresso atua, o modo como os partidos agem, o jeito de o Governo operar politicamente sua administração. Em Marina tudo isso parece encarnar nela, na sua pessoa, símbolo intransferível e síntese da “mudança”.
Já a mudança de Aécio parece recuperar algo qualquer de um tempo perdido. Mudar é, basicamente, tirar o PT do governo. Não por acaso o candidato se auto-definiu em entrevistas como “especialista em derrotar o PT”. O PT encarna, por esta visão, o mal no Brasil, associado a “quadrilhas” e “corrupção”. Se livrar do PT, enfim, é a grande mudança que o país precisa. O receituário se completa com promessas de cunho liberal: cortar pela metade o número de ministérios, “gastar menos com o governo e mais com as pessoas”, tolerância zero com a inflação. É uma mudança de orientação de governo, não é tanto de forma ou conteúdo. É uma mudança mais imediata, não é de longo prazo (como o PT reivindica) ou  profunda (como vislumbra Marina).
Ao longo da campanha a imprensa alardeou o forte desejo por mudanças por parte do eleitorado. Desejo detectado em pesquisas de opinião que apontam que 73% dos eleitores querem que o próximo presidente atue de maneira diferente do atual. O desejo por mudanças, porém, embute uma brecha para a continuidade. Se pelo Ibope 27% querem que o próximo presidente mude totalmente o governo do país, outros 46% dizem que gostariam que este mudasse muita coisa mas mantivesse “alguns programas”. Há nuances no “mudancismo”. As pesquisas também mostram que, se insatisfeito no geral com os serviços públicos, o brasileiro está relativamente satisfeito com sua vida privada. A maioria dos eleitores (68%), por exemplo, declarou em levantamento recente que seu poder de compra está igual ou melhor do que há dois anos – e que a situação tende a melhorar no próximo ano.
Seja como for, o eleitor parece querer mudanças, mas em termos vantajosos. Isto significa mudanças e permanências ao mesmo tempo. Os candidatos buscam expressar este mix de sentimentos. O que sairá das urnas no domingo?

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