Uma homenagem do Blog de Aristides Siqueira ao líder Aluizio Alves.
Transcrito da matéria da Tribuna do Norte
Quando passava as férias escolares em Angicos, o então menino Aluízio Alves aproveitava o tempo livre escrevendo um semanário na máquina de escrever do pai, o comerciante Manoel Alves Filho. De casa em casa, de mão em mão entre os angicanos, o “Clarim” tinha quatro folhas e tiragem de um único exemplar. Mesmo assim, cumpria o objetivo idealizado por aquele menino de 11 anos: levava aos leitores notícias do município e do estado.
Arquivo TNNa década de 1950, escrevendo na redação da Tribuna do Norte
O êxito do “Clarim” entusiasmou o estudante ginasial. Em Natal, Aluízio Alves, sempre com a ajuda financeira do pai, comprou uma velha impressora manual e a instalou em um armazém mantido pelo pai na Rua Chile. A máquina permitiu o início da profissionalização. Os exemplares eram impressos de segunda a quinta-feira, e seguiam de trem para Angicos, onde era vendido. Eduardo Péres era o responsável pela arrecadação do dinheiro e envio, no trem da terça-feira seguinte, do apurado para Natal. Os recursos eram imediatamente consumidos na compra de mais papel.
O “Clarim” serviu de base para outros projetos jornalísticos de Aluízio Alves. O jornal mensal “A Palavra”, em parceria com João Seabra de Melo, a revista “Potiguarania”, o “Estudante”, com a participação de José Ariston e Jessé Freire, e os jornais políticos “A Notícia” e “A Razão”. Este último era claramente ligado ao Partido Popular. Com ele, Aluízio Alves dava início a uma união que marcariam, para o resto da vida, sua atuação pública no Rio Grande do Norte e no país: o jornalismo e a política.
Eleito deputado federal na Constituinte de 1946, pela antiga União Democrática Nacional, Aluízio Alves juntou-se no Congresso a um grupo de parlamentares do qual fazia parte, ainda, o jornalista carioca Carlos Lacerda, fundador da Tribuna da Imprensa. Com ele, Aluízio aprofundou e refinou o talento nato para escrever, editar e dirigir um jornal. A experiência com a fundação e o lançamento do jornal carioca, em 1949, deram a base necessária para a criação da Tribuna do Norte no ano seguinte.
Sobre os primeiros jornais que fundou, em entrevista para o livro comemorativo do 60º aniversário de fundação da TRIBUNA DO NORTE (os exemplares circularam gratuitamente, encartados na edição de 24 de março de 2000), Aluízio Alves disse que gostava de “imaginá-los como frutos de uma semente que germinou no solo árido do Sertão de Angicos”, que enraizou e se espalhou de forma generosa entre meus irmãos, José Gobat – o timoneiro seguro dos tempos difíceis; Agnelo Alves – o escudeiro da palavra ágil e certeira; e sobrinhos, ao longo de provações e alegrias.
“Havia um esforço homérico, de Aluizio, Gobat e todos os outros que faziam a redação, para manter a Tribuna circulando”, lembra Henrique Eduardo Alves, presidente da empresa. Filho do fundador, Henrique seguiu os passos do pai na política, elegendo-se deputado federal em 1970, com apenas 21 anos, e manteve-se no exercício de mandatos eletivos até fevereiro deste ano, quando deixou a presidência da Câmara dos Deputados. Mesmo sem ser jornalista – é advogado – e às voltas com a política – herdou a liderança da família, após a morte de Aluízio em 2006 – Henrique acompanhou de perto a trajetória do jornal.
“A Tribuna do Norte foi a trincheira democrática do Rio Grande do Norte, durante os anos negros da ditadura militar no Brasil”, ressalta Henrique Eduardo, aludindo aos anos de dificuldades e pressões econômicas sofridas pelo jornal. “Aluízio não admitia, em hipótese nenhuma, abrir mão da Tribuna. Tudo que fizeram, tudo que tentaram para fechar o jornal, nós superamos. Proibiram de nos vender papel jornal e nós circulamos impressos em folhas de papel comum. Ameaçaram para que ninguém anunciasse conosco e criamos suplementos de forte apelo de leitura. Em tudo nos ajudava o entusiasmo de Aluízio como nosso líder, a administração competente e serena de José Gobat, a ousadia de Agnelo como articulista, a excelência dos nossos repórteres, redatores e editores”, lembra Henrique Eduardo.
Os anos mais difíceis
Com os direitos políticos cassados, em 1969 (os irmãos Garibaldi Alves, ex-deputado estadual, e Agnelo Alves, ex-prefeito de Natal também foram atingidos por atos de exceção do regime militar), Aluízio Alves enfrentou os tempos mais difíceis não só para manter as empresas de comunicação criadas por ele – nesta época, juntou-se à Tribuna do Norte a Rádio Cabugi AM em Natal e a Difusora AM em Mossoró – mas, também, para garantir a sobrevivência econômica e o sustento financeiro da própria família.
Diante das pressões políticas e ameaças de prisões, por parte dos chefes militares em Natal, o principal fornecedor de papel para o jornal, a firma T. Janer, avisou que não tinha mais como vender a matéria-prima. Aluízio recorreu aos contatos comerciais e amizades que tinha, no Rio de Janeiro e em Natal. O papel que a Tribuna do Norte precisava era comprado no sul e vinha em caminhões junto com outras mercadorias importadas por comerciantes amigos. A Tribuna do Norte chegou a imprimir apenas 100 exemplares em algumas ocasiões.
Na tentativa de sufocar o único jornal potiguar que se alinhava com a oposição, os governos militares, nas décadas de 1970 e 1980, espalhou rumores que a Tribuna do Norte seria fechada. O arquivo das edições anteriores e de fotos, junto com documentos administrativos, chegaram a ser apreendidos pelo militares sob a alegação de investigar um suposto crime financeiro cometido por Aluízio Alves. Nenhum indício ou prova do suposto crime foi encontrada. Os arquivos e documentos só foram devolvidos em parte.
Temendo novas investidas, ainda mais arbitrárias, e a possibilidade de serem forjadas provas contra a administração do jornal, Aluízio Alves recorreu a um expediente arriscado, só possível graça a solidariedade do amigo Geraldo Santos e do apoio desinteressado de Nevaldo Rocha, ambos empresários bem sucedidos no Rio Grande do Norte.
Em meio a dificuldade financeiro para adquirir insumos e maquinário, para manter e modernizar a impressão do jornal, Nevaldo Rocha ofereceu-se para “comprar” algumas ações, garantindo uma base financeira mínima para a empresa continuar atuando. Para Geraldo Santos, Aluízio transferiu nominalmente o controle acionário da empresa até que a perseguição perdesse força. Na década de 1980, quando o país começou a volta a normalidade democrática, ambos os “negócios” foram desfeitos.
Ao encerrar “os anos mais difíceis”, na sua atuação como político e jornalista, Aluízio Alves pode acrescentar ao sistema de comunicações que criou, a partir das idealizações contidas no jornalzinho “O Clarim”, a TV Cabugi, afiliada da Rede Globo. Era o ano de 1987.
Pequena biografia
Aluízio Alves nasceu em 11 de agosto de 1921, em Angicos. Jornalista e advogado, ainda menino descobriu a vocação para a Política. Deputado constituinte em 1946, reeleito por quatro mandatos consecutivos e eleito governador do Rio Grande do Norte para o período de 1961/1966. Voltou à Câmara Federal em 1967. Cassado pelo Governo Militar em 1969. Novamente eleito deputado federal em 1991, cumpriu mandato até 1995.
Formado nos quadros da antiga UDN, durante as atividades parlamentares exerceu vários cargos de liderança e nas comissões temáticas do Congresso, sendo o autor da Lei Orgânica da Previdência Social. No governo do presidente José Sarney, foi convocado para ocupar a função de ministro-chefe da Secretaria de Administração (1985/1989). Em 1994, com a posse do presidente Itamar Franco, é convocado para o Ministério da Integração Regional.
Líder nato, Aluízio Alves morreu em 2006, após complicações respiratórias.
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