segunda-feira, março 12, 2012

"Essa derrota do DEM quebra a espinha dorsal do bloco conservador", diz Fátima Bezerra

fatima_bezerra
O ano é 2004, a oposição lançou três candidaturas, mas unida teve mais de 50% dos votos válidos. É essa preocupação manifestada pela deputada federal Fátima Bezerra, principal liderança do PT no Rio Grande do Norte. Para ela, o momento é de união das oposições para enfraquecer o governo e em 2014 trazer a esquerda de volta ao poder no Rio Grande do Norte. Nesta entrevista, ela também faz avaliações dos governos Dilma, Rosalba e Micarla. A petista também fala de seus projetos para o futuro. 


O Mossoroense: A senhora está no terceiro mandato de deputada federal. Que ações poderiam ser destacadas em sua atuação parlamentar na Câmara?
Fátima Bezerra: Minha atuação tem uma grande prioridade, que é a educação, não só por ser professora e ter feito minha militância política e sindical nessa área, mas por entender que a questão da educação é estratégica para o Brasil. Destaco o meu papel na criação da Ufersa, recuperação e fortalecimento da UFRN, o Piso Salarial Nacional,o Fundeb, o Plano Nacional da Educação, as dezenas de creches-modelo espalhados pelo RN, as nossas lutas para recuperação de novas escolas. Seguramente um dos projetos de maior envergadura foi a expansão da educação profissional no nosso Estado. O povo potiguar sabe do papel decisivo que eu tive para que o Rio Grande do Norte fosse um dos estados mais contemplados pelo programa. Tínhamos apenas duas unidades das escolas técnicas federais, já chegamos a 16 e estamos chegando a 19, com as novas unidades de Canguaretama, Ceará-Mirim e São Paulo do Potengi. E não vamos parar por aí, já apresentamos projeto de indicação de mais sete novas unidades. Mas a nossa atuação não se restringe à educação.

OM: Além da educação, em quais outras áreas o seu mandato tem atuação?
FB: Sou uma deputada que exerce um mandato de perfil militante e que busca articular a luta institucional à luta popular e social. Além de efetivamente atuar na área educacional, desenvolvo um forte trabalho de apoio e fortalecimento dos municípios destinando recursos e viabilizando projetos com o objetivo de melhorar as condições de vida dos norte-rio-grandenses através de obras de infraestrututra, serviços, equipamentos etc. Por outro lado participo ativamente de frentes de valorização dos servidores, em defesa da cultura, da agricultura familiar, dos direitos humanos, das mulheres, entre outras. Por esse motivo recebo manifestação de carinho e reconhecimento em todas as regiões do Estado onde me fizer presente. É isso que me gratifica e me renova e me enche de entusiasmo para lutas futuras.

OM: Existe hoje uma polêmica em torno do piso nacional dos professores. A governadora Rosalba Ciarlini chegou a ir a Brasília pedir mudança no projeto original junto com outros governadores e prefeitos. Como a senhora vê esse tipo de iniciativa?
FB: Fui uma das idealizadoras da lei do piso salarial e recentemente desempenhei um papel decisivo para assegurar o reajuste de 22% aos professores, quando apresentei recurso à Câmara Federal tendo o cuidado de assegurar sua extensão aos ativos e aposentados. Confesso que esta vem sendo uma árdua batalha. Mas entendo que os gestores, em vez de exercerem pressão em Brasília com vista a mudança na lei, têm o dever de respeitar e cumprir integralmente o que está determinado. Vale lembrar que a própria lei lhes assegura o direito à complementação financeira por parte do Governo Federal, desde que comprovem incapacidade financeira para o cumprimento das obrigações. Não podemos permitir retrocesso nessa matéria. O piso salarial deve ser uma bandeira nacional. Deve ser um compromisso de todos independente de diferenças políticas e ideológicas.

OM: Existe a possibilidade de greve dos professores. O governo afirma que se trata de má vontade dos professores. A senhora concorda com essa tese governista?
FB: Os professores querem a normalidade das aulas porque greve é algo muito desgastante. Mas é preciso que o Governo Estadual faça sua parte cumprindo o que foi acertado na greve de 2011, implantando o Piso Salarial Nacional e respeitando o Plano de Carreira. Tudo isso num clima de maior entendimento, sem o autoritarismo revelado no ano passado. Nesse sentido estamos com nossas atenções voltadas para a audiência na qual estarei presente ao lado dos dirigentes do Sinte, que acontecerá na próxima segunda-feira, 12/3, com a secretária de Educação, para qual iremos na expectativa de obter a confirmação do reajuste dos 22% do piso e que seja extensivo aos servidores da ativa e aposentados, respeitando o plano de cargos e carreira.

OM: Como a senhora avalia a gestão da governadora Rosalba Ciarlini? Surpreende a má avaliação dela em Natal?
FB: O RN experimenta o que é viver sob um governo claramente conservador e vê o desastre de ter o DEM no comando do nosso Estado. A desaprovação a Rosalba, um recorde se compararmos com outros governos em igual período de tempo, é diretamente proporcional à expectativa que ela gerou. O que foi feito até agora em 14 meses de governo? Ela conseguiu desmanchar o que funcionava e piorou o que já tinha problemas. O resultado é esse desastre que estamos vendo.

OM: Sobre Mossoró especificamente. Por que a tendência Movimento PT defende uma aliança com o PSB?
FB: Nós entendemos que é necessário construir frentes de oposição em todos os 22 municípios governados pelo DEM no RN, entre os quais Mossoró é o mais importante. Uma frente política de centro-esquerda ganhar a eleição em Mossoró terá um reflexo importante, para a população mossoroense, que poderá experimentar um novo modelo de gestão. Além disso, essa derrota do DEM quebra a espinha dorsal do bloco conservador ora instalado no Governo Estadual e que tem um projeto hegemônico de longo prazo. Dessa forma, abriremos caminho para derrotar o DEM em 2014, interrompendo a implantação de um projeto conservador que o RN vem experimentando e desaprovando, porque está se revelando um desastre para o nosso Estado. Juntos, temos amplas condições de vitória. Divididos, vamos repetir o erro de 2004, quando os três candidatos de oposição tiveram mais de 50%, mas a prefeita eleita foi Fafá Rosado. Isso foi determinante para a eleição de Rosalba senadora em 2006, a reeleição de Fafá em 2008 e a vitória de Rosalba para o governo em 2010.

OM: Qual o fator que diferencia essa postura da de Natal, onde o PT está unificado em torno de Fernando Mineiro?
FB: Em Natal, o fato de termos 2º turno possibilita que os partidos lancem suas candidaturas para divulgar seus projetos e discutir os destinos para a cidade no 1º turno e façam as alianças no 2º turno. Em 2002, por exemplo, Wilma de Faria, do PSB, e Rui Pereira foram candidatos no 1º turno. O PT teve um bom desempenho e nos juntamos no 2º turno para levar Wilma à vitória com mais de 60% dos votos. Essa é a grande diferença de Natal para Mossoró e isso aumenta nossa responsabilidade ao escolher o caminho a seguir na capital do Oeste.

OM: A defesa de uma aliança com o PSB está condicionada às eleições de 2014?
FB: Na fase mais recente do PT, quando nos abrimos para ampliar as alianças, nós já fizemos coligação com o PSB em dezenas de municípios. Aliás, o PSB é o partido com quem o PT mais faz aliança. Nunca vinculamos uma eleição com a outra, nem em eleições passadas, nem agora em 2012. Esse boato é alimentado para tirar o foco da questão central, que é a necessidade de promover mudanças em Mossoró derrotando o DEM. Agora, uma coisa é verdadeira: nós do PT disputaremos as eleições de 2012 com o objetivo de fortalecimento e crescimento do nosso partido, mas também para dar robustez ao bloco de oposição estadual, para enfrentarmos os desafios de 2014, com a manutenção do nosso projeto nacional e a derrota do DEM em nível estadual.

OM: Ainda sobre 2014, a senhora pretende disputar uma cadeira no Senado?
FB: Essa discussão será conduzida pelo meu partido e no momento oportuno. Agora, o desafio é a realização de um mandato federal que corresponda às expectativas do RN.

OM: Como a senhor tem visto o desempenho da presidente Dilma Rousseff?
FB: Quem apostava no fracasso por conta da falta de experiência política e do seu estilo diferente do que foi o presidente Lula, tem que rever os seus conceitos. Dilma faz um grande governo, mesmo com a crise econômica internacional que afeta os EUA e a Europa. Nossa presidenta está conseguindo dar continuidade a gestão de Lula, e avançar ainda mais.

OM: Na capital, Micarla de Sousa bateu todos os recordes de rejeição de avaliação negativa. A senhora perdeu para ela em 2008. Ao se deparar com essa situação, a senhora já refletiu sobre o que teria feito para evitar tal problema caso tivesse sido eleita?
FB: Infelizmente a maioria da população de Natal cometeu um grave equívoco nessas eleições, e hoje todos sentimos amargamente as consequências de uma gestão desastrosa para a cidade. Certamente será necessário mudar praticamente tudo e fazer em Natal e que nós do PT fazemos nas administrações municipais pelo país afora com gestões inovadoras participativas e modernas. Para isso estamos unidos no PT em torno da candidatura do companheiro Mineiro. Trata-se de um militante partidário que detém as qualidades éticas políticas e técnicas necessárias para darmos um salto de qualidade e avançarmos na construção de uma cidade democrática, acolhedora e apta a garantir melhores condições de vida para todos. Mineiro é reconhecidamente um estudioso da cidade, conhecendo desde seus problemas orçamentários, administrativos, urbanísticos da organização de seus serviços de educação e de saúde, além de ter desenvolvido um brilhante trabalho na área de política cultural, nas questões ambientais de trânsito e transporte entre outras.

OM: Ser prefeita de Natal ainda é um sonho que a senhora acalenta?
FB: Nasci na Paraíba, mas todos sabem a minha paixão por Natal. Lá fui acolhido com generosidade e a partir lá vivo e construo uma trajetória política baseada em muito trabalho e motivada pelo reconhecimento que me permitiu alcançar já em duas eleições as maiores votações para deputada federal. Sou grata e sinto-me recompensada com respeito e carinho em todos os lugares onde passo. Mais devo lembrar, sou uma pessoa de partido , e meu partido há muito tempo merece e trabalha pela oportunidade de administrar Natal. Esse é um desejo do partido e é também o meu desejo. Você sabe, o sonho não morre mais nessas eleições como já afirmei Mineiro é nosso nome e nossa bandeira para a Prefeitura do Natal. Além do que já disse sobre ele é indiscutivel que ele representa como poucos nossa história de lutas.
Esse sonho é de meu partido. Não é uma questão pessoal. O PT merece a chance de governar a capital e fazer em Natal a gestão democrática, inovadora, eficiente e participativa que já fez em outras cidades. Nas eleições deste ano esse sonho do rá uma voz comprometida e competente para representá-lo que é o companheiro Fernando Mineiro.

OM: Para as eleições deste ano. Quais são as metas do PT no Rio Grande do Norte?
FB: O PT vai crescer muito este ano no RN. Podemos chegar a 10 prefeituras no Estado e almejarmos eleger 20 vice-prefeituras e 130 vereadores. Vamos de novo enfrentar o poder econômico e as nossas próprias fragilidades, mas vamos crescer.

Bruno Barreto
Editor de Política O Mossoroense
 

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