DEU NA TRIBUNA DO NORTE
Isaac Ribeiro - Repórter
Não é raro ouvir falar que algum parente, amigo ou artista foi vítima de um infarto. Quando o problema é distante, só resta lamentar. Mas e quando a pessoa está infartando ao nosso lado, como saber? O que fazer para ajudar antes de ambulância chegar? A maioria das pessoas desconhece os sintomas e as medidas a serem tomadas nos primeiros momentos da parada cardíaca. Até mesmo quem já passou pelo problema tem dificuldades de reconhecer os sintomas.
Uma pesquisa recente, realizada em seis capitais brasileiras, por uma grande empresa biofarmacêutica, constatou que 18% dos pacientes infartados se consideram incapazes de reconhecer os sintomas da doença. Ou seja: até mesmo quem já infartou um dia não sabe identificar os sinais malignos.
Para a grande maioria dos entrevistados (88%) dores no peito são o principal e mais conhecido sintoma de que alguém está infartando. A pesquisa ouviu 600 pacientes nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Goiânia, Salvador, Belém e Curitiba.
E você saberia identificar se alguém está infartando?
O infarto do miocárdio acontece quando parte do músculo cardíaco começa a necrosar por falta de irrigação sanguínea, causado, principalmente, pela obstrução de uma artéria coronariana. O entupimento é causado pelo acúmulo de placas de gordura nas paredes do vaso. Quando um fragmento se desprende ou um coágulo é formado, há o bloqueio do fluxo de sangue e uma consequente falta de nutrientes e oxigênio para o coração. O resultado são danos e sequelas irreparáveis ou até mesmo a morte.
Os principais sintomas são: dor contínua no peito, com sensação de compressão; ardor que pode ser confundido com azia; irradiação da dor para a mandíbula ou braços, sendo mais frenquente no lado esquerdo; suor, náuseas, vômito, tontura e desfalecimento, ansiedade, agitação e respiração curta.
Vale ressaltar que os sintomas variam de intensidade e forma de manifestação, além de serem distintos em homens, mulheres, idosos e diabéticos.
Alex Régis
Pesquisa revela que nem mesmo quem já passou pelo problema sabe reconhecer os sintomas com precisão
Os cuidados tomados nos primeiros momentos do ataque cardíaco podem salvar a vida da pessoa. E a massagem cardíaca é fundamental nesse momento; mas nem todos sabem exatamente como realizá-la.
O coordenador do Núcleo de Educação Permanente do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), Rodrigo Assis Neves Dantas, orienta ligar imediatamente para o 192 e pedir socorro. E que a massagem deve ser feita, de forma contínua, até a chegada da ambulância. É importante ter sempre um celular à mão e solicitar à equipe um desfibrilador portátil (DEA).
Para popularizar a forma correta de fazer a compressão no peito, a Fundação Britânica do Coração lançou um vídeo bem humorado, protagonizado pelo ator Jason Statham, conhecido por interpretar vilões em filmes como "Porcos e Diamantes" ("Snatch"), de Guy Ritchie. Ele aparece fazendo massagem cardíaca ao som do sucesso "Staying Alive", dos Bee Gees (veja o clipe na TN Online).
O infarto é o segundo maior causador de mortes no Brasil, ficando atrás apenas do acidente vascular cerebral (AVC), o popular derrame. De acordo com dados do Ministério da Saúde, em 2008 o País registrou 75.272 óbitos pela doença, sendo que 59% das vítimas eram homens.
Reconhecer os sinais de um infarto não é tarefa das mais fáceis para os leigos, além de ser algo bem específico, como confirma o cardiologista Múcio Galvão, membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia no Rio Grande do Norte. Mas se a pessoa tem 40 anos ou mais, apresenta um mal súbito caracterizado por dor forte e opressiva no peito, seguida por desmaio e falta de ar, pode chamar a ambulância, pois esses são os primeiros sinais de um infarto agudo do miocárdio.
Mas é preciso estar atento, pois se os sintomas forem em idosos, mulheres ou diabéticos, a dor pode ser menos agressiva e intensa, e até mesmo simular desconforto abdominais.
Segundo Múcio Galvão, no momento em que isso estiver acontecendo, o único tratamento efetivo é colocar a pessoa para repousar e procurar o serviço de urgência.
"Se a pessoa já tem problemas cardíacos anteriores, deve tomar um vasodilatador sublingual ou uma aspirina, antes de chamar o médico", orienta o cardiologista, lembrando também que, se aparecerem sinais como vista escurecendo e taquicardia, é importante que a pessoa tussa forte, pois ajuda ao coração a voltar a bater normalmente. "Isso pode salvar uma vida."
Questão de tempo
Um socorro rápido e eficiente é fundamental para salvar alguém que está infartando. Se o doente for atendido nas primeiras três horas - até a sexta hora - e chegar num hospital terciário, as consequências podem se evitadas e o infarto abortado. É o momento de a artéria coronariana ocluída ser desobstruída com medicamentos ou com o procedimento hemodinâmico, ou seja, uma angioplastia.
Após 12h de iniciada a obstrução da artéria coronariana e de manifestação dos sintomas, o músculo do coração começa a morrer, abrindo caminho para o óbito do paciente.
"O ideal é não ter infarto agudo. A partir dos quarenta e cinco anos é preciso fazer os exames necessários. E mais importante ainda é levar a prevenção a sério", comenta o cardiologista, aproveitando para criticar a postura da maioria das pessoas.
"Todo mundo sabe o que deve fazer, mas banaliza sua própria a saúde. Apesar de a longevidade ter melhorado muito, não adianta viver mais e não viver bem, com qualidade de vida", analisa Múcio Galvão, integrante da diretoria de Promoção de Saúde Cardiovascular da SBC.
Dor no peito: mito?
Quando se fala em infarto, pensa-se logo em uma dor forte no peito. Mas não é uma regra básica a ser observada. É um dos sinais mais claros que algo realmente grave está em andamento. Mas ela pode ser causada por outros fatores, como alerta Múcio Galvão. "O coração não dói, normalmente. A dor no peito pode ser causada por questão de postura ou problemas reumáticos ou gástricos. Isso tudo pode confundir."
A vice-coordenadora do Núcleo de Educação Permanente (NEP), do Samu Metropolitano, enfermeira Isabel Karolyne Fernandes Costa, comenta que quando a dor no peito é no homem, pode ser considerada um sinal clássico de um infarto. Mas nas mulheres e em idosos, os sinais podem se apresentar na forma de dor abdominal, tontura e dores na mandíbula.
Já o enfermeiro Rodrigo Assis Neves Dantas, coordenador do NEP, considera os sinais do infarto muito pessoais, variando de acordo com cada paciente e do grau de entupimento da artéria. Além da dor no peito, ele cita aumento da pressão arterial e formigamento dos membros. A evolução mais grave do quadro, ele confirma, é a parada cardio-respiratória.
Segundo o cardiologista Múcio Galvão, o processo de infarto pode ser fulminante ou demorado, principalmente nas mulheres. Há a possibilidade de a pessoa passar até três dias infartando, sem saber. "As mulheres, que eram mais protegidas do que os homens, hoje estão no mesmo patamar deles; principalmente se forem fumantes e tomarem anticoncepcional."
O jornalista Marcílio Amorim sofreu um infarto em 2010 e foi submetido à implantação de um stent - espécie de pequeno balão inflado no interior da artéria obstruída. Uma dor muito forte no braço esquerdo e uma sensação ruim de desconforto foram os primeiros sinais de que algo de errado estava se passando. Na verdade, ele estava infartando.
"Era como eu estivesse levantando um carro só com um braço. Fui parar na UTI", comenta o jornalista, que confessa ter tido uma certa dificuldade para seguir as recomendações médicas para mudança de hábitos. "Já fiz dois checapes pós-infarto e não acusou nada. Não sou diabético, não sou hipertenso e nem tenho colesterol alto."
Massagem cardíaca é fundamental nos primeiros socorros
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu Metropolitano) tem um setor próprio - o Núcleo de Educação Permanente - sua equipe de socorristas, inclusive a fazer massagem cardíaca, ação fundamental para salvar a vida de quem está infartando. Mas segundo o coordenador do NEP, Rodrigo Assis Neves Dantas, nem todas as pessoas sabem realizar o procedimento, incluindo aí até mesmo alguns médicos e enfermeiros.
A vice-coordenadora do NEP, Isabel Karolyne Fernandes Costa, concorda que o cidadão comum tem muita dúvida sobre a forma correta de realizar a compressão cardíaca. Ela diz perceber isso quando o NEP está realizando cursos de treinamento. "É um procedimento simples, mas na hora o nervosismo e o pânico atrapalham."
Para realizar a massagem cardíaca, deve-se deitar de costas, sobre uma superfície plana, a pessoa que está infartando. O local onde deve ser exercida a pressão fica no meio do tórax, mais precisamente na parte inferior do osso esterno. As mãos devem estar espalmadas, uma sobre a outra, mantendo os dedos esticados. O tórax deve pressionado em movimentos alternados, no ritmo de uma compressão por segundo. A cada parada, deve-se realizar uma ventilação no enfermo, a famosa respiração boca-a-boca, e verificar se o pulso voltou.
"A compressão cardíaca deve ser feita antes mesmo da chegada do Samu. Por isso que o NEP treina os leigos. Deve-se iniciar a massagem mesmo que a pessoa tenha dúvida. Deve ser forte e eficaz e nem precisa fazer o boca-a-boca. Mas tem de fazer a massagem até o Samu chegar", orienta Isabel Karolyne.
Ela comenta ainda que assim que começa a parada cardíaca, a pessoa perde 50% de chances de sobreviver. E a cada minuto sem o devido socorro, perde 10%.
O coordenador do NEP alerta, porém, que a primeira providência a ser tomada é ligar para o 192, número nacional do Samu. Depois, deve-se colocar a vítima do infarto numa posição confortável, folgar as roupas e não impedi-la de realizar qualquer esforço físico. "Não pode realizar nenhum tipo de atividade e deve permanecer deitado. Quando o Samu chegar, ele deve ir para a ambulância deitado na maca."
O coordenador do NEP comenta que a incidência de casos de infarto é "muito prevalente" entre os chamados de urgência. E atribui isso aos hábitos da sociedade atual. "Não se tem uma alimentação saudável, come-se muito em fast food, muito estresse, tabagismo, etilismo."
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